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Comportamento

Amigas se reúnem para crochetar, criando roupas e cachecóis para doação

Na 1ª ação, há quase 2 décadas, 156 cachecóis foram feitos por voluntárias que agora entregam mais de 1,2 mil peças

Danielle Valentim | 28/05/2019 08:35
Casaquinhos fofinhos feitos à mão pelas voluntárias do projeto. (Foto: Kísie Ainoã)
Casaquinhos fofinhos feitos à mão pelas voluntárias do projeto. (Foto: Kísie Ainoã)

“Nunca pensei que poderia ajudar as pessoas com trabalhos manuais”. A frase é da aposentada Vanilda Siqueira, de 69 anos, que já passou por subgerência de banco, direção de escola, conselho tutelar e há 13 anos descobriu o talento com o crochê, no Projeto Aqueça Seu Irmão.

O projeto criado por Emília Silva Alencar Pistori, de 69 anos, e a amiga Lígia Saverio, que faleceu no ano passado, aquece o inverno de famílias carentes há 19 anos. Mais do que esquentar o inverno de quem precisa, os encontros na casa de Emília lá no Bairro Cabreúva viraram tradição às quintas-feiras.

Uma mesa com café quentinho e bolinho da hora recepciona as voluntárias que vão “crochetar” no lar que é cheio de amor. Em época de entregas da produção - como o fim de maio -, os kits tomam contam de todos os cantos da casa. O Lado B visitou o projeto e se encantou com os trabalhos de extrema qualidade e finalização semelhante ao de peças vendidas em boutiques.

As voluntárias foram chegando voluntárias de todas as pontas de Campo Grande. Hoje somam 48, na Capital, em Brasília-DF, em Mirandópolis-SP e Rondonópolis-MT. (Foto: Kísie Ainoã)
As voluntárias foram chegando voluntárias de todas as pontas de Campo Grande. Hoje somam 48, na Capital, em Brasília-DF, em Mirandópolis-SP e Rondonópolis-MT. (Foto: Kísie Ainoã)
“Atualmente o ponche a chave do projeto porque ele não tem idade e nem tamanho específico para se usar", destaca Emília.
“Atualmente o ponche a chave do projeto porque ele não tem idade e nem tamanho específico para se usar", destaca Emília.

“Atualmente o ponche a chave do projeto porque ele não tem idade e nem tamanho específico para se usar. A partir de 8 anos já damos os ponches e as meninas adoram. Quando eu e Lígia começamos nós fazíamos cachecóis. Eu na minha casa e ela na dela. Até que decidimos juntar a produção. Nossa primeira entrega reuniu 156 peças e as pessoas ficaram impressionadas. Parecia que a gente tinha atendido uma multidão”, conta.

Emília que conciliava a fabricação das peças, com a criação de quatro filhos, conta que a primeira ação teve rápida repercussão e logo começaram a repassar lãs. As voluntárias foram chegando voluntárias de todas as pontas de Campo Grande. Hoje somam 48, na Capital, em Brasília-DF, em Mirandópolis-SP e Rondonópolis-MT. “A gente manda as lãs e elas dão um jeito de mandar as peças prontas, até por parentes”, pontua.

A principal forma de arrecadar verbas para comprar as lãs é um bingo feito no setembro. Com os recursos do evento e demais doações, neste ano, o projeto comprou R$ 22 mil, em lã diretamente da fábrica. “Mas muitas pessoas ajudam com dinheiro, amigos, família. Algumas voluntárias fazem tapetes para vender e conseguir dinheiro para lãs”, frisa.

As produções já foram separadas em kits e estão espalhadas pela casa inteira. (Foto: Kísie Ainõa)
As produções já foram separadas em kits e estão espalhadas pela casa inteira. (Foto: Kísie Ainõa)

A organização é outro ponto que chama a atenção. As entregas são todas cadastradas por famílias e recebem etiquetas com nomes. Dessa forma, cada kit é personalizado com a quantidade de membros na casa. Um dos beneficiados, por exemplo, mora no Bairro Noroeste e, além de muitas crianças na casa, as doações enviadas somaram gorros para adultos, ponche e até um cobertor, que foi comprado com recurso doado pelo Sicredi.

A produção não para e a folga só acontece no mês de dezembro. As entregas começaram no dia 25 de maio e seguem até o dia 2 de junho, cerca de uma semana. O espaço na casa de Emília está ficando pequeno para os trabalhos, mas ainda cabe mais lã. Além das roupas e mantas produzidas pelo grupo, Emília monta o que chama de mimos: saquinhos com pipocas e miojos.

Nesta semana elas entregam doações para instituições, moradores de comunidade, pessoas em situação de rua e creche do presídio, onde se encontram 12 bebês. Foram produzidas mais de 1,2 mil peças de roupa com a ajuda de 48 voluntárias. São conjuntos

Vidas transformadas – A aposentada Vanilda Siqueira, de 69 anos, é daquelas senhorinhas que não param por nada. Com sorriso no rosto e disposição invejável, ela conta que o projeto mudou sua vida.

Vanilda é cheia de gratidão pelo projeto. (Foto: Kísie Ainoã)
Vanilda é cheia de gratidão pelo projeto. (Foto: Kísie Ainoã)
Enxovais completos também são produzidos. (Foto: Kísie Ainoã)
Enxovais completos também são produzidos. (Foto: Kísie Ainoã)

“Não tenho vontade de parar. Eu venho às quintas-feiras para produzir aqui (casa da Emília), mas também produzo em casa. Eu nunca pensei na minha vida que eu daria conta de aprender a fazer os pontinhos. Eu passei por subgerência de banco, diretoria de escola e conselho tutelar, mas quando cheguei aqui, uma amiga teve paciência de ensinar”, pontua.

Já são 13 anos de trabalhos constantes, que Vanilda chama de tempo útil, já que a vida continua após a aposentadoria profissional. Para ela, a peça preferida é o ponche.

“Eu me aposentei de forma profissional, mas a vida da gente continua, é família, é o projeto. E toda vez que vejo que tem algo que posso ser útil eu procuro participar. Meu temperamento é de ocupar meu tempo com coisas úteis e não só aqui dentro do projeto. Somos em quase 50 e tem alunas que as vezes adoecem eu também procuro ajudá-las. Minha peça preferida são os ponches, porque ajudamos as pessoas e não sabemos os tamanhos de quem vai receber e ele serve para agasalhar crianças, adultos e idosos”, conta.

Valdete Jorge é uma das pioneiras e põe a mão na massa há 19 anos. (Foto: Kísie Ainoã)
Valdete Jorge é uma das pioneiras e põe a mão na massa há 19 anos. (Foto: Kísie Ainoã)

A voluntária Valdete Jorge, de 76 anos, é uma das pioneiras e põe a mão na massa há 19 anos. Ela conta que a introdução de mais peças na produção se deu pela necessidade de esquentar o corpo todo.

“Estou aqui desde o início. A Emília e Ligia começaram e depois eu e Vilma. Nós quatro na produção de cachecóis. Mas aí vimos que a peça esquentava somente o pescoço e deu início a produção das outras peças”, lembra.

Esposa de militar, Valdete conta que a família tinha uma churrascaria e mesmo com a correria do estabelecimento reservava o tempo para ajudar nas confecções.

“É maravilhoso estar aqui há 19 anos. Não se trata de um simples projeto, a gente aquece uma criancinha, uma pessoa idosa, mesmo uma pessoa de meia idade que está com frio. Além disso é tudo feito com muito amor, nossos crochês são feitos com qualidade para serem vendidos em boutique. Graças a Deus estamos aqui e não vamos parar”, finaliza.

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