Cansadas da mesmice, amigas criam arte com materiais recicláveis
Seis artistas abandonaram a zona de conforto e transformam descarte em expressão artística

Cansadas da zona de conforto, seis artistas decidiram que era hora de um novo desafio e “sair da casinha”. Para mostrar que elas sabem fazer arte com qualquer coisa, o grupo largou as tintas, as espátulas e os pincéis para se jogar no mundo dos materiais reciclados. A ideia era usar os conhecimentos adquiridos em anos de pinturas e esculturas para se expressar de novas formas.
No começo a ideia foi um desafio, mas todas se surpreenderam com o resultado. Uma das organizadoras, Adriana Teixeira, de 48 anos, conta que nunca tinha pintado em madeira, mas que se apaixonou pela obra. O resultado dessa “bagunça” virou a exposição “Elas fora da casinha”, que será lançada em julho.
“No nosso grupo temos artistas que sempre trabalharam com pintura em telas, seja com tinta acrílica, óleo ou aquarela. Temos também artista que é reconhecido pelo trabalho que realiza com esculturas de bonecos. Nunca tinha imaginado que faria trabalhos assim. O mais importante de tudo isso é que usamos o que seria jogado fora. Desse modo, transformamos descartes em obras de arte", conta.
Entre os materiais usados estão grades de ventiladores, ripas de madeira, placas de compensado e também de PVC, por exemplo.
“Sempre pintei telas. Esse era meu lugar seguro, o meu cantinho confortável. Mas quando surgiu o desafio, larguei os pincéis e me aventurei com madeira, tecido, barbantes e tudo o mais que me inspirasse. Isso rompe com os limites tradicionais da pintura. Foi estranho e delicioso ao mesmo tempo. Sair do plano da tela e começar a pensar em volumes, espaços e texturas. Pra mim, foi uma daquelas experiências que a gente percebe que precisava, mesmo sem saber.”
Uma das obras, "O mundo gira colorido", é uma instalação e Adriana explica explica que usou um aro de ventilador, pedaços de madeira e barbantes para compor. A peça é como se fosse um móbile gigante. Em cada ripa de madeira, foram pintados elementos que representam a pluralidade, segundo ela.
Rosane Bonamigo ressalta que não esperava se sentir tão bem e quye o projeto a ajudou a voltar para a infância.
“O primeiro contato que eu tive foi através da linha, do barbante, da lã, porque a minha mãe bordava e a minha avó também. Elas faziam tricô e crochê. Naquela época era o contato que eu tinha, e eu via que minha avó fazia coisas muito complexas e coloridas, casacos de lã, bordados. Aquilo me encantava profundamente. Então é um resgate. A minha irmã também bordou muito, era apaixonada por bordado.”
Ela utiliza o elemento grudado em uma das pás de um ventilador. Para ela a ideia de como fazer isso veio naturalmente durante conversas com o grupo de amigas.
"Nós vimos através de artistas que utilizam muito isso que as possibilidades na arte são imensas e que a gente não precisa ficar só na tela, que a arte é uma expansão de várias técnicas, que pode incluir inclusive o artesanato junto. A gente fez essa proposta e surgiu essa questão, a necessidade, a vontade de fazer uma exposição que retratasse esse universo da expansão que pode ser um artista.”
Para Luciana Rondon, a experiência a fez relembrar a infância e trabalhar novas possibilidades. “Foi uma oportunidade de trabalhar a criatividade e a espontaneidade. O lúdico, a fantasia e o real ao mesmo tempo. Sair da rigidez do ter para experimentar o ser livre. Só sei que ainda posso me permitir ainda mais.”
Patrícia Helney conta que a experiência foi uma loucura e que sair da zona de conforto foi motivo de reflexão. A colega Lúcia Monte Serrat pontua que ‘Elas Fora da Casinha’ tem sido uma experiência inusitada.
“Tenho procurado reutilizar materiais meus que estavam encostados por algum motivo e procurando dar novas significações. Percebo que a mulher sempre foi o meu mundo de representação. Neste momento tenho revisto suas qualidades, desejos, improvisação em posições da sociedade. Tem sido muito prazeroso.”
O grupo intitulado ‘Inspiradas’ foi formado em 2023 e idealizado por Rosane. O intuito era fazer encontros semanais para estudos em História da Arte e trocas sobre processos criativos.
A exposição será realizada no dia 2 de julho, na Galeria Leonor Lage, sede da Confraria Sociartista. Cada artista apresentará de 4 a 5 obras inéditas, além de uma instalação coletiva, todas criadas a partir de materiais reaproveitados. O título mostra que elas querem romper padrões estéticos e pessoais, provocar, questionar. Além disso, é um convite para que o público também se permita “sair da casinha”.
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