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Comportamento

Com fotos nas redes sociais, campanha sobre aborto coloca mães em lados opostos

Elverson Cardozo | 14/02/2015 07:12
Pollyana e o filho. (Foto: Arquivo Pessoal)
Pollyana e o filho. (Foto: Arquivo Pessoal)

A polêmica em torno da opinião da pedagoga Gabriela Moura que, mesmo grávida, defende a descriminalização do aborto, viralizou nas redes sociais, ganhou espaço na imprensa nacional e gerou uma campanha entre mulheres que pensam igual ou repudiam, com veemência, a postura dela.

Em Campo Grande não foi diferente. O assunto invadiu o Facebook e tem gerado “pano para manga”, por isso o Lado B entrou na discussão, dando voz à duas mulheres que, claro, pensam diferente.

“Só Deus tem o direito de dar e tirar o dom da vida”

Mãe de um menino de 1 ano e dois meses, a administradora Pollyana Maciel de Queiroz, de 24 anos, é contra e explica:

“Acredito que só Deus tem o direito de dar e tirar o dom da vida. Que não somos ninguém para impedir o nascimento de um ser indefeso. Tive dificuldades para engravidar, então abraço ainda mais a causa. Tenho SOP (Síndrome de Ovário Policístico). Isso dificulta muito a ovulação, porque os níveis de progesterona ficam baixos. Fiz tratamento durante quatro anos para engravidar.

Para contrapor o argumento de que a mulher tem o direito sobre o próprio corpo, ela afirma: “Já que tem direito, que se cuide para que não ocorra uma gravidez indesejada. Existem tantos métodos para evitar”.

Mas, quando o assunto é estupro, ela se posiciona diferente: "É um caso à parte. A mulher já sofreu sendo violentada. Se dessa violência gerou uma criança aí, sim, ela terá o direito de escolher. Mas, mesmo assim, no fundo eu sou contra".

"Essa é uma decisão que cabe somente à nós”

Ao contrário dela, uma mulher de 28 anos, que prefere não ser identificada (por medo de ser ameaçada e ter a vida privada violada), pensa completamente diferente.

“Sou a favor da descriminalização do aborto, da decisão de escolha da mulher. Essa legalização irá beneficiar uma parcela que hoje corre sérios riscos de morte em abortos clandestinos. É uma medida social de saúde pública. Um aborto mal sucedido causa gastos ao SUS [Sistema Único de Saúde], talvez mais do que um agendado, e teria limites de semanas para realizá-lo.

A ciência considera vida o ser com atividade cerebral. Assim definem morte cerebral. E o feto só tem atividade cerebral e sistema nervoso formado após 12 semanas de gestação. Seria essa a idade limite. Outra coisa: não sou advogada, mas pesquisei sobre e um feto não é considerado uma pessoa juridicamente, tanto que a pena para o aborto não é a mesma que para o homicídio.

Enfim, sou a favor de uma política que combine a descriminalização com educação sexual, apoio às mulheres que expressarem esse desejo, concretizado ou não.

O aborto ocorre e 1 entre 5 mulheres já fizeram. Todos conhecemos algum caso e muitas morrem em decorrência do aborto clandestino".

Mãe de uma menina de 2 anos, a mulher que deu está opinião está grávida do segundo filho. A gestação, que está no quarto mês, é de alto risco por conta de um problema de saúde. Ela quer ser mãe. Não pensa em abortar, mas, como a pedagoga, defende a descriminalização do aborto.

“Algumas disseram que seria melhor eu morrer no parto. Matar minha filha. Abortar. Mas falam isso porque confundem o apoio à descriminalização com o apoio ao aborto. O aborto é horrível, sim, deixa marcas psicológicas em quase todas as mulheres que praticaram, muito por causa do preconceito social e religioso que sofrem, mas é uma realidade.

O fato de eu ser a favor da descriminalização, não significa que eu faria um aborto, porque sou mulher e mãe e, por isso, já supõem que eu deva fechar os olhos para minhas convicções políticas. E torcem pela minha morte porque é um risco real, muito real.

Só que eu decidi ser mãe, mesmo com riscos, tomando uma medicação injetável todos os dias. Foi Foi uma escolha minha. E se eu não quisesse, pela minha 'doença' eu teria direito ao aborto terapêutico. Mas não acho justo que o aborto seja permitido em casos como o meu, ou de estupro, e criminalizado em outros casos.

Ao contrário do que muita gente pensa, aborto não é usado como método contraceptivo. E muitas mulheres que abortam são ou serão mães. Oitenta por cento são ou serão mães e muitas serão excelentes mães. Nenhum método contraceptivo tem 100% de eficácia. Eu mesmo só posso usar camisinha. Tive uma TVP na safena com 5 meses de uso de anticoncepcional. Sou anticoagulada para o resto da vida".

Em um post, onde discutiu o mesmo assunto, ela escreveu: "Alguém sabe que são mulheres pobres que morrem de abortos feitos no fundo do quintal da dona Maria com agulha de crochê e não as ricas que pagam para abortar em "clinicas de planejamento familiar?"

Ao Lado B, completou o pensamento: Uma coisa muito importante é que parte dessa recusa em aceitar a descriminalização do aborto é culpa da misoginia. Sempre quem corre riscos é a mulher. Não existe uma gestação que não tenha riscos. Quem sofre as mudanças, os riscos de morte no parto são as mulheres então essa é uma decisão que cabe somente à nós”.

E você, o que pensa?

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