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Comportamento

Da recepção da maternidade, pai vê Cecília nascer por vídeo chamada

Coronavírus tem mudado até o nascer. Cecília chegou no domingo e, por chamada de vídeo, pai e avós viram parto da recepção

Paula Maciulevicius Brasil | 25/03/2020 13:26

Na recepção da Maternidade Cândido Mariano, bem longe do centro cirúrgico, o pedido feito ao pai era para que ele deixasse o celular carregado. De surpresa, Leandro recebeu uma ligação da equipe médica para acompanhar, por vídeo chamada, a chegada de Cecília ao mundo.

A cena no último domingo está gravada em vídeo e também no coração do casal. Cecília nasceu com 2.910kg, sem nem saber que o isolamento imposto pelo coronavírus faria com que ela encontrasse só os olhos da mãe, Tahyane, num primeiro momento.

A família deu entrada às 7h da manhã do dia 22 de março e, Cecília nasceu às 8h59 em uma situação nunca antes vivida por aqui. Depois de declarada calamidade pública devido à pandemia, a Maternidade Cândido Mariano proibiu a presença de acompanhantes em caráter excepcional na sala de parto e centro cirúrgico para evitar aglomeração de pessoas,  e também pela dificuldade em conseguir máscaras para todos.

Na quinta-feira da semana passada, o casal que esperava a primeira filha recebeu a notícia de que não haveria testemunhas no nascimento do bebê a não ser a mãe e a equipe. "No sábado recebemos as orientações de que eu eu não poderia assistir o parto. Com isso minha esposa chorou, mas falei para ela ficar calma, que tudo ia dar certo, porém nem imaginava a vídeo chamada", conta o vendedor Leandro Ribeiro Brandão, de 33 anos.

Foto tirada logo depois da vídeo chamada de Tahyane e Cecília. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto tirada logo depois da vídeo chamada de Tahyane e Cecília. (Foto: Arquivo Pessoal)

A data escolhida pelo casal, 22 de março, já era comemorativa. Eles completaram duas décadas de namoro com uma alegria a mais. De poder ver, ainda que fosse através de uma tela de celular, o primeiro choro da filha. "Foi um ato totalmente do médico. E todas as pessoas que estavam na recepção aguardando notícias das gestantes ficaram doidos ao ver a gente assistindo o parto pelo celular", descreve o pai. No momento estava ele e os avós do lado de fora.

A iniciativa partiu do médico obstetra Manoel Cordeiro, que desde que a quarentena foi recomendada, já participou de 10 nascimentos.

"No momento de entrada no centro cirúrgico, vi a aflição da mãe por, teoricamente, estar sozinha só com a equipe médica. Aí surgiu a ideia de fazer um Facetime", conta. Ele pediu ao anestesista Samuel Leonardo Santos que segurasse o celular e quanto tudo estivesse ok, fizesse a chamada. "Para o pai, que estava do lado de fora, participar deste momento e também tornar o ambiente, que hoje é um pouco frio por conta dessa quarentena, um pouco mais agradável neste momento tão importante para a família. Foi a maneira que a gente achou, naquele episódio, de tornar algo mais acalentado entre a mãe, o bebê e o pai que estava lá fora", relata Manoel.

Do lado de fora, foi só alegria. "O doutor sempre nos deu um ótimo atendimento e não poderia ser diferente. Sou muito grato pelo gesto humanizado que ele realizou para nós e assim pude acompanhar o nascimento da Cecília e a emoção da minha esposa", afirma o pai.

Além de muita emoção e frio na barriga, Leandro pode ver a expressão serena da esposa do outro lado da tela. "Ela estava se sentindo sozinha num momento tão especial, e de repente ela poder me ver, foi uma alegria contagiante para todos", completa.

Pai, mãe e filha se encontraram no momento em que a visita foi liberada. Já de alta, em casa, a família vai mostrar nas fotos e no vídeo todo o contexto histórico. "Contar de um anjo que realizou o nascimento em uma época tão difícil para todo mundo por conta dessa pandemia do coronavírus", resume Leandro.

A maternidade Cândido Mariano definiu ontem que uma das medidas a serem adotadas, devido à pandemia, é a transmissão on-line dos nascimentos enquanto está proibida, temporariamente, a presença de acompanhantes na sala de parto e no centro cirúrgico.

Na maternidade do Hospital El Kadri, está havendo regulação quanto às cesáreas eletivas, mas até o momento o hospital ainda permitia acompanhante no parto. Já a Santa Casa também restringiu a entrada do acompanhante no nascimento. No Hospital Universitário, com exceção de visitas, o funcionamento da maternidade segue normal. E no Hospital Regional, a informação que o Lado B conseguiu foi de que a maternidade está recebendo pacientes gestantes de alto risco por ser referência, e gestantes com sintomas respiratórios.

O obstetra que fez a chamada de vídeo é enfático ao dizer que todos os 10 partos foram de pacientes que já estavam entre 39 e 40 semanas. "Não há necessidade de antecipação do parto, nenhum destes foi antecipado devido ao quadro de coronavírus", diz.

Nas consultas, Manoel tem procurado acalmar as mães. "É um momento delicado e até onde se tem notícias, não existe nenhum comprometimento de gestante e bebê neste momento. O que temos que manter é a questão protocolar de higiene e quarentena, para que depois a gente possa colher os frutos".

Desde domingo Tahyane e Leandro tem enchido a casa de cuidados e o que a família mais quer é dar à Cecília um mundo cheio de carinho. "Amor, afeto, muito respeito e muitos abraços, que neste momento ainda não podemos", finaliza o pai.

Registro de quando a visita foi liberada e o pai pode conhecer pessoalmente a filha. (Foto: Arquivo Pessoal)
Registro de quando a visita foi liberada e o pai pode conhecer pessoalmente a filha. (Foto: Arquivo Pessoal)


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