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Comportamento

De ônibus, Dolly sai às ruas com harpa de 12 quilos e tereré para fazer música

Artista mora no Tarumã e roda a cidade se apresentando nos mercados e eventos particulares

Alana Portela | 16/04/2019 07:45
Dolly leva sua harpa para realizar suas apresentações na Capital (Foto: Henrique Kawami)
Dolly leva sua harpa para realizar suas apresentações na Capital (Foto: Henrique Kawami)

Há seis anos no Brasil, a paraguaia Dolly Riquelme, 50, roda Campo Grande para se apresentar em mercados, aniversários e outros eventos. O amor pela música despertou quando ainda era criança, desde então resolveu apostar na harpa e no sagrado tereré para fazer shows em vários lugares. Para não perder trabalho, a artista precisa carregar o instrumento musical que pesa 12 quilos nos ônibus da Capital.

“Não tenho carro, preciso de ônibus para me locomover. É um sacrifício, mas tenho que trabalhar. A harpa tem 12 quilos, comecei a tocar esse instrumento quando morava no Paraguai. Parei por um tempo, porém há sete anos voltei usá-lo. Apresentei-me em vários lugares, inclusive fiz shows na Europa”, conta Dolly.

“Fui para a Suíça, Bélgica e França fazer shows com um grupo de dança de música folclórica”, recorda a artista. A simpatia da paraguaia encanta, e no bate-papo ela relata que os membros de sua família são de artistas. O soquete puxado, como se tivesse chegado ao Brasil há pouco tempo, Dolly lembra que música entrou em sua vida quando tinha cinco anos de idade. “Na época, aprendi a tocar violão e me apresentava na escola, em eventos particulares. Hoje canto e toco violão e harpa”, disse.

Dolly fala que aprendeu a tocar a famosa harpa sem a ajuda de professores. “Ouvia o som do instrumento e aprendi a usá-lo. Certo tempo depois, encontrei um maestro, mas por conta da idade dele não tivemos muito contato”, conta. Entre os lugares que já se apresentou no Brasil, a artista diz. “No Festival de Mato Grosso, no Festival Polca, Guarânia e Chamamé”.

No último fim de semana, Dolly participou do evento Ipêrformártico ao lado da amiga Patrícia Saravy. “Era uma performance que chamou muito atenção. No começo me assustei, mas foi legal. Toquei e cantei algumas músicas, no momento, a artista foi tirando a roupa. Fiquei assustada porque nunca participei disso, contudo foi bonito”, relata.

Dolly mostra seu primeiro CD gravado na Suíça em parceria com seu amigo paraguaio Pablo Inácio (Foto: Henrique Kawami)
Dolly mostra seu primeiro CD gravado na Suíça em parceria com seu amigo paraguaio Pablo Inácio (Foto: Henrique Kawami)

Antes de chegar ao Brasil, a artista passou pela França e Suíça, onde gravou seu primeiro CD em parceira com o atual companheiro da música, Pablo Inácio. “Fiz viagens para representar o Paraguai na Europa, em 2009. Passei pela França, Suíça. Por lá fiquei ilegalmente para trabalhar, porque os turistas poderiam permanecer apenas três meses. Nesse período conheci o Pablo e estamos trabalhando juntos até hoje”, explica.

As experiências no exterior continuaram em 2018, quando Dolly retornou para a Suíça e depois, acompanhada de outro grupo de canto, foi para Alemanha se apresentar com a harpa. Após os compromissos profissionais, retornou para Campo Grande e agora mora no bairro Tarumã, onde divide as despesas com Pablo e mais uma amiga. “Ajudo pagar as contas de água, luz, internet”.

Na Capital, a artista e Pablo Inácio costumam levar os ritmos da fronteira aos mercados, como o Comper da São Francisco, da Rui Barbosa, da Brilhante, do Tijuca e até se apresentaram no Walmart. “Todos são pontos bons, mas não existe um dia específico para cada local. Vamos, conversamos com os gerentes dos espaços e tocamos”, relata.

A paraguaia afirma que gosta de Campo Grande, porém sempre que pode volta a sua terra natal para visitar os filhos. “A Jadide tem 20 anos e o Tobias 25, faço visitas quando consigo. Agora na semana Santa vou para lá, no entanto não consigo ficar muito tempo porque gosto daqui”.

Conforme a artista, nas apresentações o público costuma pedir canções. “Solicitam Chamamé, polca. Tem que saber de tudo um pouco. Entretanto não arrisco o sertanejo por conta que não saber falar o português de forma correta, porém creio que o sotaque deve não incomodar as pessoas”.

Para as apresentações, além da harpa e do tereré, Dolly também leva dos CDs que gravou com Pablo Inácio para vender. “Nos apresentamos das 10h às 12h.Vendemos nosso trabalho, damos cartões porque se não sairmos de casa, ninguém nos conhecerá. O CD sai no valor de R$ 20”, disse.

O funcionário público aposentado, Sebastião Flores conta que acompanha o trabalho de Dolly e Pablo (Foto: Henrique Kawami)
O funcionário público aposentado, Sebastião Flores conta que acompanha o trabalho de Dolly e Pablo (Foto: Henrique Kawami)

Questionada se canta músicas de autoria, ela diz. “Só interpreto, não tenho o dom de compor as letras”. Durante a conversa, o funcionário público aposentado, Sebastião Flores passou pelo local e disse ser um fã de Dolly e de Pablo.

“Gosto do trabalho deles, pago para comprar o CD e escutar as músicas que tocam. É demais. Faz seis anos que acompanho esse trabalho e recomendo para as outras pessoas, porque é um som bom. Já até gravei a apresentação anterior no meu celular. Minha esposa é japonesa e também gosta. Eles cantam coisas da terra”, destacou.

Enquanto Dolly toca a harpa, Pablo usa o violão para animar o público (Foto: Henrique Kawami)
Enquanto Dolly toca a harpa, Pablo usa o violão para animar o público (Foto: Henrique Kawami)

Dupla - Apesar do talento para a harpa, Dolly conta que o instrumento musical precisa de outro acompanhamento sonoro para fazer uma apresentação boa e atrair o público. “Tem que ter o violão porque escutar só a harpa por muito tempo, não é legal. O Pablo toca o violão e durante os shows, interpretamos mais de 30 músicas. Temos um repertório completo e uma memória boa para recordar de todas. Combinamos voz com o instrumental, um canta, outro toca e assim vai”, relata a harpista.

O violonista, Pablo Inácio também é paraguaio e comenta sobre a carreira da dupla. “Só toco o violão e canto. Estamos juntos há dez anos, seis anos apenas em Campo Grande. Nos conhecemos na Suíça, onde gravamos um CD, depois fomos pra França e posteriormente retornamos ao Paraguai. Temos as fotos desses momentos, mas ficam em casa”, disse.

Os projetos para este ano é voltar e se apresentar no exterior. “Estamos programando para ir a Europa em junho. Morei na Suíça por seis anos, na França por dois anos e na Itália. Época boa e outras nem tanto assim, é outro mundo”, afirma.

“Sai do Paraguai há 30 anos, depois de casado e de ter filhos. A decepção econômica me levou pra música, porque era empresário, mas perdi tudo. Na época, pensei de novo e de repente, passando por uma loja de instrumento vi um violão e o vendedor me convenceu a comprar dizendo que eu poderia aprender a tocar, e hoje faz três décadas que vivo da música”, concluiu.

O tereré não pode faltar para Dolly e Pablo nas apresentações (Foto: Henrique Kawami)
O tereré não pode faltar para Dolly e Pablo nas apresentações (Foto: Henrique Kawami)
A dupla vende seus CDs gravados no exterior por R$ 20,00 (Foto: Henrique Kawami)
A dupla vende seus CDs gravados no exterior por R$ 20,00 (Foto: Henrique Kawami)
O som da harpa de Dolly atrai as pessoas que veem sua apresentação (Foto: Henrique Kawami)
O som da harpa de Dolly atrai as pessoas que veem sua apresentação (Foto: Henrique Kawami)
Enquanto se apresentavam na frente do Comper da São Francisco, pessoas se aproximavam para conhecer o trabalho dos paraguaios  (Foto: Henrique Kawami)
Enquanto se apresentavam na frente do Comper da São Francisco, pessoas se aproximavam para conhecer o trabalho dos paraguaios (Foto: Henrique Kawami)
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