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Comportamento

Depois de 3 casos de câncer e um derrame, dupla descobre amizade pra vida toda

Paula Maciulevicius | 05/02/2015 06:45
Numa festa junina, uma armou o casamento da outra e as duas trocaram alianças com os companheiros. (Foto: Pedro G. Sandim)
Numa festa junina, uma armou o casamento da outra e as duas trocaram alianças com os companheiros. (Foto: Pedro G. Sandim)

O "inha" delas no final do nome é só uma forma carinhosa de chamar duas grandes mulheres. Claudinha e Rosinha descobriram entre danças na Colônia Paraguaia que tinham um passado de superação em comum e que era possível ver o nascer de uma grande amizade depois dos 40 anos. Não que a idade seja empecilho, mas nessa fase da vida é mais comum manter os amigos já feitos ao longo dos anos do que estreitar laços com alguém.

O Lado B as conheceu em duas situações: a primeira quando Rosinha, a amiga, "armou" um casamento para a própria dama de honra, Cláudia, numa festa junina e mais recentemente na comemoração do aniversário de outra amiga em comum. A ligação que as duas reconheceram entre si transborda e toca o coração. Uma cumplicidade de almas, que nem em décadas de convívio seria fácil de alcançar.

"Não faz bastante tempo, mas é o bastante para querer bem. A gente tem um amor muito grande uma pela outra", explica Cláudia Pereira, de 47 anos. Elas se conheceram há cinco anos, depois que Rosinha entrou para um grupo de dança da Colônia Paraguaia, em Campo Grande, onde Cláudia já fazia parte. "A gente não tem muita história para contar, a vida da gente é corrida também, mas o que temos é a nossa história de superação", descreve Claudinha.

Amigas até se casaram juntas depois de armação de Rosinha. (Foto: Pedro G. Sandim)
Amigas até se casaram juntas depois de armação de Rosinha. (Foto: Pedro G. Sandim)

Ela, hoje depiladora, teve um derrame aos 33 anos, passou por uma cirurgia complicadíssima e define como "milagre" ter sobrevivido. Em 2009, a amiga Rosinha apareceu no grupo, de cabelo raspado, com os fios recém nascendo. "Ela já chegou chegando e ninguém apresentou a gente, aos poucos fomos nos identificando. Ela é alegre, espontânea, abraça todo mundo e eu sou desse jeito também, não tenho dificuldade para fazer amizades", conta Cláudia.

Entre as danças e festas, uma ainda não havia reconhecido a amizade que estava prestes a nascer. "Eu não sabia nada da vida dela, um dia fomos a um balneário, ela sentou e começou a contar a história de vida. Eu me apaixonei pela Rosinha e pela história de vida dela. Às vezes a gente vê uma pessoa tão alegre e nem imagina o que ela passou".

Nas palavras de Cláudia, as pessoas mais alegres são as que aprenderam a superar os problemas da vida. De sorriso largo e olhos brilhando, Rosinha lhe contou os dois episódios de câncer vividos. O terceiro ainda estava por vir. "A gente não reclama à toa, procuro não viver em função do que eu passei e se eu for contar a minha história do começo ao fim, é uma coisa bárbara. Mas eu não consigo lembrar desse lado sempre que olho os outros. Me identifiquei com a Rosinha e passei a admirá-la ainda mais".

Além da conquista da amizade e o apoio total na saúde, como na doença, a entrada de Rosinha na vida de Cláudia serviu também para mostrar que amigos são bem vindos, em todas as fases da vida. "Assim, a gente acha que amizade pra vida toda só consegue quando se é jovem, mas não. A vida se encarrega de fazer você encontrar pessoas certas no momento certo. Depois que a gente passa por um problema grave de saúde, começa a rever muitas coisas. O que é irmandade, companheirismo e o que realmente tem valor".

Só de olhar uma já sabe o que a outra está pensando. "A Rosinha tem muito disso, a gente se olha no olho, eu sei quando ela está legal e quando não está e ela também. É uma amizade mais madura, você se sente mais segura até mesmo para confiar e é tão difícil encontrar amizades assim".

Em 2009, Rosinha chegou com cabelos nascendo à Colônia Paraguaia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Em 2009, Rosinha chegou com cabelos nascendo à Colônia Paraguaia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando chega a vez de Rosinha falar, o afeto fica mais evidente. Ela parte do roteiro de ter chegado à colônia fragilizada e ter encontrado em Cláudia um ombro amigo. "Ela foi a pessoa que chegou, me abraçou e do nada, sem mais nem menos, disse que me amava. E assim a gente foi se apegando", descreve Roseni dos Santos Gomes, de 42 anos.

A amizade surgiu da preocupação com a saúde uma da outra. "Hoje nós duas estamos bem, mas o dela foi mais sério do que o meu", avalia. Exemplos de quem guardou a própria dor para curar a do amigo. 

Na visão de Rosinha, Cláudia é uma das mulheres com mais garra que ela conhece. "Nós duas temos um respeito grande uma pela outra porque não nos deixamos abater. Nem eu e nem ela". 

Além de ver a dança como remédio, os amigos que a Colônia proporcionou foram um alento à alma. "Acho que amizade é uma coisa muito difícil, é diferente de parente. Amigos você escolhe e você chega nessa fase achando que já conheceu todas as pessoas, que já tem seus bons amigos e que não vai conhecer ninguém e de repente conhece uma pessoa com quadro de vida igual ao seu. E essa pessoa muda e faz parte da sua vida de outra maneira".

Rosinha não atribuiu a amizade a um reencontro de vidas passadas, mas chega a traçar uma comparação. "Não é de vida passada, porque eu não acredito. Acredito em destino e a Claudinha veio de uma maneira diferente para somar e somou muito".

Rosinha e Claudinha no centro com os maridos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Rosinha e Claudinha no centro com os maridos. (Foto: Arquivo Pessoal)
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