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Comportamento

Ele viajou: e agora? O triste drama de uma recém-casada e seu cão

Mariana Lopes | 17/12/2014 08:15
Teria apenas a fiel companhia do Gohan, o nosso cão
Teria apenas a fiel companhia do Gohan, o nosso cão

"Vou viajar a trabalho e ficar quatro dias fora". Tenho certeza que a maioria das esposas reagiria com toda a naturalidade e faria uma expressão bem semelhante à da Monalisa ao ouvir esta frase do marido. Só que eu não me encaixo nesta categoria de mulheres equilibradas e seguras. E ao saber da notícia, o mínimo que consegui de reação foi algo próximo à cara do "esquilo dramático".

Como poderia eu sobreviver quatro dias sozinha em uma cidade onde a região metropolitana ultrapassa os 5 milhões de habitantes, dos quais eu conheço apenas meia dúzia? Como me arriscaria ir até a esquina em um lugar onde as opções de ruas simplesmente se multiplicam do nada? Como eu enfrentaria os contratempos e até as catástrofes naturais que certamente poderiam ocorrer durante este tempo de total abandono e solidão?

Sim. Todos estes questionamentos passaram pela minha cabeça em questão de segundos, enquanto eu digeria a informação. Preciso deixar registrado que tenho quatro meses e meio de casada e o mesmo tempo morando na capital mineira.

Eu mal havia me recuperado de todos estes devaneios, quando recebi uma mensagem do meu digníssimo marido dizendo que ele estava indo para uma região onde a tecnologia pegava a passos de lesma e que, provavelmente, não teria sinal de celular.

Tudo bem que caso eu passasse por algum sufoco, ligar não resolveria em nada, já que ele estaria a mais de 500 quilômetros de distância de mim. Mas saber desta falta de comunicação acabou deixando o meu psicológico ainda mais abalado.

Comecei, então, a planejar os meus próximos dias. Pensei em passar no mercado e estocar comida. Cogitei remarcar todos os compromissos que tinha para este período, inclusive os de trabalho. Poderia ainda fazer uma lista telefônica para emergências, com contatos de bombeiros, polícia, hospitais e delivery’s.

Estava tudo certo, já que eu definitivamente não teria outra escolha. E colocar o nariz na rua era algo que realmente estava bem longe dos meus planos. Seriam quatro dias que eu ficaria trancafiada em casa e teria apenas a fiel companhia do Gohan, o nosso cão.

O primeiro desafio foi ir para casa sozinha. De cara, peguei um congestionamento e demorei pelo menos meia hora no trajeto. Assim que cheguei, percebi que meu celular estava sem bateria e que meu carregador havia ficado no trabalho (não bastava ser medrosa, eu também tinha que ter a cabeça na lua e esquecer as minhas coisas em todos os lugares).

E este foi o meu primeiro dilema: fico sem celular os quatro dias ou volto até lá e enfrento o calar da noite na volta (de novo) para a casa? Claro que fiquei com a segunda opção, pois não haveria a menor chance de eu ficar sem contato com o mundo externo (vai que eu precisasse ligar para os bombeiros, polícia, hospital ou delivery?).

Enfim, cheguei ao conforto e à segurança do meu lar. Ao me ver “enjaulada” com o Gohan, comecei a refletir sobre os meus medos e em como eu estava sendo escravizada por eles. Claro que isto não estava certo. Afinal, sou adulta e o mundo lá fora não iria me engolir.

Eu tinha duas escolhas: ficar realmente trancada em casa ou colocar os meus medos no bolso e curtir todo o aprendizado que eu poderia ter durante os benditos quatro dias. Mais uma vez, fiquei com a segunda opção.

Comi fora, passeei com o Gohan em uma praça, fiz compras, limpei minha casa, fui ao salão de beleza, cortei o cabelo, andei pelas ruas à noite e me esparramei na cama. Parecem coisas simples e corriqueiras (e são). Mas, para mim, foi um desafio vencido.

E, para mostrar que fui uma garota muito corajosa, ainda recebi o meu marido de volta com um bolo de chocolate (porque vencer a trava de segurança do forno também foi uma provação e tanto).

E terminei esta jornada com a certeza de que para todos os medos da vida há sempre um peito cheio de coragem para saborear as descobertas mais sensacionais que quatro dias sem um homem podem fazer com uma mulher.

*Mariana Lopes é jornalista e colaboradora do Lado B

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