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Comportamento

Em história contada por vizinhos, moradora nº1 de bairro "se casou" com Jesus

Paula Maciulevicius | 18/08/2015 06:34
Comunidade Nossa Senhora da Glória é fruto de um sonho "sonhado" no Monte Castelo. (Foto: Fernando Antunes)
Comunidade Nossa Senhora da Glória é fruto de um sonho "sonhado" no Monte Castelo. (Foto: Fernando Antunes)

"Fruto de um sonho sonhado". É assim que os fiéis e os moradores do bairro defendem a Comunidade Nossa Senhora da Glória e por sua vez, uma de suas fundadoras, dona Antônia Maria da Cruz. A história dela chegou ao Lado B através de vizinhos que viam como justa a homenagem à senhorinha que tanto fez pela região.

Num texto redigido pela professora aposentada Neuza Benites, de 62 anos, a trajetória resumida conta um pouco de quem foi e é dona Antônia. Aos 82 anos, ela segue internada depois de um infarto e pela primeira vez não pode participar das festividades de aniversário da comunidade que ergueu, entre tantas coisas que fez pela região onde mora. A comunidade completou 41 anos neste final de semana, com dois dias de festa, missa e coroação de Nossa Senhora da Glória.

Quando fomos até a casa de dona Antônia, no coração do Monte Castelo, em Campo Grande, uma sobrinha que se identificou como filha falou da situação. Não foi dessa vez que conhecemos a história pela protagonista. Mas a mulher não desanimou ninguém. "Liga semana que vem que ela vai sair dessa, é forte..." nos avisou. Deve ser a fé ensinada pela tia.

Dona Antônia e a santa. Senhorinha dedicou a vida à igreja e à alfabetização. (Foto: Arquivo Pessoal)
Dona Antônia e a santa. Senhorinha dedicou a vida à igreja e à alfabetização. (Foto: Arquivo Pessoal)

Dona Antônia não casou e nem teve filhos. Aos mais chegados dizia que seu casamento era com Jesus. Considerada como "consagrada" entre os seguidores da comunidade, são eles que contam os seus feitios. As palavras saem com profunda admiração.

Dona Antônia é do tempo que o bairro não tinha ruas e uma casa aqui, outra acolá. Uma delas era o seu ranchinho. Ex-estudante do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, era debaixo das árvores que iniciou uma simples catequese, até ser descoberta pelos padres.

Contar a história do bairro é falar de Antônia e vice-e-versa. É nessa tecla que bate Neuza, a professora discípula da senhorinha.

Segundo os relatos dados à Neuza, Antônia dava aulas de catequese de maneira voluntária. Um dia, foi descoberta pelo então padre Tomaz, num dia de passeio dele pela região. A imagem de Nossa Senhora Auxiliadora na árvore, em frente a casa, foi o que lhe chamou atenção. Ali a fé dela rendeu o primeiro fruto: no segundo domingo de setembro de 1968, o padre realizou a primeira missa no ranchinho.

Hoje capela tem conforto, diferente das aulas de catequese no velho ranchinho. (Foto: Fernando Antunes)
Hoje capela tem conforto, diferente das aulas de catequese no velho ranchinho. (Foto: Fernando Antunes)

Os trabalhos da senhorinha se dividiam entre evangelizar crianças, alfabetizar quem não sabia ler e preparar casais para o casamento. O reconhecimento às suas ações vieram com a criação da Escola Estadual Maestro Frederico Lieberman no bairro, a mesma onde se aposentou. E da turminha de catequese surgiu a comunidade com terreno doado que virou capela em 1976 e que existe até hoje.

O nome da capela veio de um sonho de dona Antônia, que Neuza descreveu ter sido da "Mãe de Deus subindo do meio das velas até o céu". Quando ela contou ao religioso da época, que estava à frente da capela, Frei Miguel, ele afirmou que no sonho era Nossa Senhora da Glória.

A capela se ergueu, levou o nome sonhado e hoje ainda colhe os frutos de dona Antônia: a devoção à Nossa Senhora da Glória. Pela região o que corre é, quem não a conhece pessoalmente, pelo menos sabe de sua história. Seja pela construção da capela, da escola ou da associação de moradores.

Vizinha de bairro, Luzia de Souza Duarte, de 40 anos, mora no Coronel Antonino e na comunidade que conheceu a história da velhinha que sempre lhe despertou curiosidade. "Quando entrei, vi uma velhinha, fiquei pensando quem seria essa senhorinha? Aí as pessoas foram falar... Tenho muita admiração por tudo o que ela fez, não só pelo bairro, mas por Campo Grande", enfatiza. 

Das palavras de Neuza é que saem as considerações finais. Dona Antônia foi professora de alfabetização do colégio e também poetiza, além de uma mulher de fé. "Quando ela tinha dificuldade, eu que escrevia para ela. O que me despertou a escrever sobre ela foi porque gosto de escrever e da história dela", explica a professora. O gostar vem de um misto de dedicação e bondade que dona Antônia parece emanar. "Ela morava no ranchinho e ele estava sempre de portas abertas para quem precisava... Ela não media esforços para ajudar".

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A capela se ergueu, levou o nome sonhado e hoje ainda colhe os frutos de dona Antônia: a devoção à Nossa Senhora da Glória. (Foto: Fernando Antunes)
A capela se ergueu, levou o nome sonhado e hoje ainda colhe os frutos de dona Antônia: a devoção à Nossa Senhora da Glória. (Foto: Fernando Antunes)
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