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Comportamento

Entre a vida e a morte, Gabi ressurge das cinzas para quebrar rotina em hospital

Paula Maciulevicius | 15/03/2017 07:59
Gabriela, de Fênix, junto das enfermeiras da Santa Casa. (Foto: Arquivo Pessoal)
Gabriela, de Fênix, junto das enfermeiras da Santa Casa. (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois de quatro meses internada na ala dos queimados da Santa Casa, Gabriela teve alta e renasceu das cinzas, tal como a personagem que incorporou dentro da "Liga do Bem", a Fênix. Em outubro de 2013, ela teve 60% do corpo queimado e queimaduras de terceiro grau nas pernas.

Tudo começou com uma faísca na motocicleta em que ela se apoiava. Entre a vida e a morte e CTI's, um ano após o acidente, Gabi se reencontrou com a Liga e decidiu que levaria o mesmo sorriso que trouxeram à ela para os pacientes do hospital. O Voz da Experiência de hoje é dela, estudante de Educação Física e hoje com 21 anos de idade.

"Meu acidente foi no dia 7 de outubro de 2013, eu morava em Dourados. Estava parada na casa do meu ex-namorado, tinha terminado de lavar a moto, veio uma faísca que pegou na motocicleta e na hora o fogo veio para a minha perna. A única coisa que me veio à cabeça foi bater com a mão, só que na verdade, ali, eu só estava aumentando as chamas. A minha sogra quem veio e jogou um cobertor, que foi o que apagou. 

Fui socorrida e encaminhada no mesmo dia para Campo Grande, vim direto para o CTI, lugar para onde eu fui três vezes durante a internação. O mais engraçado é que desde a hora do acidente, eu lembro de tudo, até chegar na Santa Casa. Depois que entrei na ala dos queimados, já não lembrava de mais nada. Só quando as pessoas me contam da situação, eu começo a recordar.

Na visita que recebeu da Liga do Bem, uma semana após o acidente. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na visita que recebeu da Liga do Bem, uma semana após o acidente. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mais da metade do corpo dela se queimou depois que a motocicleta pegou fogo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mais da metade do corpo dela se queimou depois que a motocicleta pegou fogo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para o CTI eu voltei por pegar uma bactéria, depois tive água no pulmão. Foram quatro meses internada e eu fiquei na base da morfina por um bom tempo. As enfermeiras contam que eu gritava muito pedindo morfina. Do joelho para baixo, tive queimadura de terceiro grau, fiz enxerto e tudo. Sentia muita, mas muita dor. Só que também fiz amizades com as enfermeiras, tanto é que tenho passe livre para visitá-las. São minha família.

Os banhos eram um dia sim e outro não e era a situação mais complicada não só para mim, para todos os queimados. No dia do curativo, eu já começava a chorar e nem tinha chegado a minha vez ainda. No CTI, era pior. Eram dois banhos por dia, porque o risco de infecção era maior.

Eu cheguei a entrar em coma. A não reagir. E na minha primeira semana, a Liga do Bem foi visitar a ala. Era Dia das Crianças e eles foram lá conversar. Minha mãe quem chamou o Superman e pediu que ele conversasse comigo. Neste dia eu estava triste, tinha recém voltado do CTI e ela conta que eu comecei a abrir um sorriso.

Ele saiu e minha mãe o chamou de novo. O Superman voltou, conversou mais um pouco comigo e na terceira vez que a minha mãe pediu que ele voltasse, porque ela percebeu o quanto eu melhorei, ele respondeu que aquilo não era comum e que provavelmente ele precisava falar alguma coisa para mim.

Foram quatro meses de internação. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foram quatro meses de internação. (Foto: Arquivo Pessoal)
Com cuidados da enfermagem da Santa Casa. (Foto: Arquivo Pessoal)
Com cuidados da enfermagem da Santa Casa. (Foto: Arquivo Pessoal)
Já como Fênix, levando alegria, ao lado do Superman. (Foto: Arquivo Pessoal)
Já como Fênix, levando alegria, ao lado do Superman. (Foto: Arquivo Pessoal)

Eu fiquei entre a vida e a morte durante 60 dias. E naquele dia, o Superman virou para mim e disse: 'você gosta dessa coisa de herói? Então quando você sair, daqui um ano e estiver melhor, você vai entrar para a Liga do Bem, ok?'

Quando eu saí, quatro meses depois, minha mãe disse para eu ir atrás. Mas eu pensei que era igual promessa de político. Até que do nada, um amigo de uma amiga minha entrou para a liga e conversando um dia com ele, eu mandei a foto que eu tinha feito com o Superman. E ele respondeu num áudio 'não acredito que você a conhece! Preciso ver ela. Combinei de um ano depois a gente se encontrar, que bom que ela está viva'.

Eles me fizeram uma surpresa na Subway, com o Superman chegando e tudo mais e me pediram para entrar na Liga. Eu falei que gostaria de ser a Penélope Charmosa, mas o Superman disse que eu seria a Fênix, por ser uma ave que renasce das cinzas e toda vez que morre, volta mais forte.

E eu achei que fosse morrer mesmo. Ouvi dos profissionais que achavam mesmo que eu não sobreviveria, mas que a cada volta do CTI, eu vinha mais forte.

Trabalhar na Liga é maravilhoso, porque eu consigo deixar as pessoas felizes de outra forma. Na Santa Casa, eu sempre vou à ala dos queimados, para mostrar que eu já estive ali também e é totalmente diferente quando eu falo para eles que me queimei. Ouço eles dizendo que agora faz sentido, que eu consegui dar esperança.

É diferente quando chega uma pessoa e diz: 'você vai melhorar', mas ela nunca passou pelo que eu passei. Ver que a gente consegue melhorar a vida deles me deixa feliz, muito feliz mesmo.

Gabriela Schell Marques faz parte da Liga do Bem desde o final de 2014, exatamente como o Superman previa, um ano depois do acidente.

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