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Comportamento

Família comemora 121 anos de festa criada para agradecer graças durante a guerra

Anny Malagolini | 28/04/2014 06:46
Assim como nas festas nas fazendas, churrasco foi feito em espeto de pau (Foto: Simão Nogueira)
Assim como nas festas nas fazendas, churrasco foi feito em espeto de pau (Foto: Simão Nogueira)

Tradição na família “Lima”, a festa em homenagem ao santo guerreiro “São Jorge” começou em 1893, como uma forma de pagar promessa, agradecer as graças recebidas. Lá se vão 121 anos, um tempo difícil de ser superado por qualquer outro evento familiar em Campo Grande.

Aos 81 anos, Juliana de Lima Assunção tenta se lembrar das histórias, mas a idade já avançada atrapalha a exatidão nas datas. Segundo ela, o primeiro encontro em homenagem ao santo ocorreu ainda durante a Guerra do Paraguai, entre 1864 a 1870.

A avó fez um pedido para que a batalha chegasse ao fim, sem sangue derramado entre os seis filhos que estavam no combate. Em troca, começaria a fazer a festa para São Jorge. Tudo deu certo e o combinado foi respeitado.

Mas só em 1893 a família organizou a comemoração como ocorre até hoje, reunindo parentes e por anos consecutivos. Não existe oficialmente nenhum registro, mas Juliana fala detalhes. Conta, inclusive, que durante a Segunda Guerra Mundial o pedido foi refeito, mas dessa vez pela sua mãe, para que seus filhos não fossem convocados para lutar.

Mais uma vez o pedido foi atendido e a festa seguiu até 1988, até que a primeira morte tirou a graça do evento. "Meu tio faleceu e então ninguém quis dar continuidade à tradição", lembra.

Juliana é a mais velha da família (Foto: Simão Nogueira)
Juliana é a mais velha da família (Foto: Simão Nogueira)
O engenheiro retomou a festa há 4 anos (Foto: Simão Nogueira)
O engenheiro retomou a festa há 4 anos (Foto: Simão Nogueira)

Mas há 4 anos, o engenheiro mecânico Amaral de Lima comunicou a família que a a festa voltaria a ocorrer. “Nem acreditei quando ele disse”, lembra a avó Juliana.

Desde pequeno ele diz ouvir as histórias das festas que aconteciam no Pantanal, em homenagem a São Jorge ou Ogum, como é chamado na Umbanda, religião da família.

As festas eram em uma fazenda e, diferente de hoje, as festividades duravam três dias. Além da fartura na mesa, havia brincadeiras e cavalgadas, conta Juliana. “Não é igual, mas é a mesma essência”, comenta.

A reunião foi retomada de forma menor, conta Amaral, que durante 3 anos reuniu apenas os parentes mais próximos. Mas neste ano, ele resolveu aumentar a lista de convidados, por um motivo novamente especial. “Fiquei em coma por três dias e sobrevivi, essa foi a maior graça, precisava fazer maior”, explica.

Para a festa, ele mesmo preparou um almoço, com churrasco, bebidas e sobremesas para 200 pessoas. Tudo custou 9 mil reais, com a colaboração de amigos e parentes. “Cada um oferece o que pode”, diz.

Como forma de agradecimento a Ogum, a tia de Amaral, a corumbaense Lelis de Lima Assunção, de 44 anos veio a Campo Grande para montar o altar do santo na festa. Ela conta que teve câncer do estômago, e durante o tratamento, veio a imagem do altar em sua cabeça, então prometeu que assim que se recuperasse iria pagar a promessa, mais uma história de sobrevivente, atribuída a São Jorge. “Eu pedi e ele me curou, e fiz o altar como a imagem que apareceu pra mim”, conta.

Família comemora 121 anos de festa criada para agradecer graças durante a guerra
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