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Comportamento

Mesmo após perder companheiro, Élida nunca tirou a aliança do dedo

Foram 50 anos de união de Élida e Everaldo e, apesar do falecimento do marido, ela nunca cogitou viver sem o símbolo da união

Eduardo Fregatto | 14/06/2017 07:57
Élida acredita que o amor é a base de um casamento duradouro e feliz. (Fotos: Marcos Ermínio)
Élida acredita que o amor é a base de um casamento duradouro e feliz. (Fotos: Marcos Ermínio)

“Foi feliz”, afirma Élida Ferreira Mecchi, 78 anos, quando tenta descrever as décadas em que viveu ao lado do primeiro e único marido, Everaldo Mecchi. Ele faleceu em março de 2011, aos 72 anos e, desde então, ela jamais tirou a aliança do dedo. Ao todo, são mais de 56 anos utilizando o símbolo da união e do amor que marcou sua vida. “Não sei nem ficar sem ela”, diz.

Élida e Everaldo representam uma história quase surpreendente nos dias de hoje: a de um casal que compartilhou uma vida inteira, lado a lado, e se apoiaram até os últimos momentos que tiveram juntos. São casos como deles que o Lado B quer contar a partir de hoje na série "Até que a morte nos separe".

Élida e Everaldo trocaram alianças de noivado em 31 de dezembro de 1959 e foram casados por 50 anos.

Para Élida, a explicação é simples, e pode até parecer clichê para os mais céticos, mas ela defende que tudo se justifica pelo sentimento. “Foi um casamento por amor”, reforça. “Eu gostava dele e ele gostava de mim. Defeitos todos nós temos, mas quando se ama, um compensa o outro. Eu acho que isso é a base”, avalia.

Ela conta que só tirou a aliança uma vez, para trocar da mão direita para a esquerda.
Ela conta que só tirou a aliança uma vez, para trocar da mão direita para a esquerda.
Porta-retrato de Élida e Everaldo há cerca de 38 anos, na fazenda na família.
Porta-retrato de Élida e Everaldo há cerca de 38 anos, na fazenda na família.

Essa história clássica de afeto e companheirismo começou no fim dos anos 50, quando Everaldo se encantou pelos olhos de Élida. Ela era secretária de uma loja, e ele funcionário do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, hoje substituído pelo DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes).

“Ele ia muito à loja e reparava em mim, dizia que gostou dos meus olhos”, recorda Élida, que tem grandes e expressivos olhos azuis. A amizade foi surgindo das pequenas conversas fiadas até que, em 27 de junho de 1959, os dois foram juntos a um baile de Santo Antônio e oficializaram o namoro. Seis meses depois veio o noivado e 1 ano e 5 meses depois, o casamento, na Igreja São José, em Campo Grande.

Élida lembra as datas com exatidão e se emociona ao trazer de volta todas as lembranças com Everaldo. “Eu sempre recordo dos momentos bons. O que houve de ruim, o passado leva”, ensina. Apesar disso, ela não esquece dos últimos 6 anos que dividiu com o marido, quando ele lutava contra o diabetes e seus efeitos.

A avó mostra foto de Everaldo com uma das netas.
A avó mostra foto de Everaldo com uma das netas.

Everaldo perdeu a visão, por conta de glaucoma, e as complicações do diabetes se acentuaram a cada ano. “Não foi fácil, ele se sentia deprimido, pois foi um homem que sempre trabalhou, e isso tudo começou com 66 anos, ele era novo”, relata Élida. “Mas eu fico bem, pois cumpri minha missão de esposa, atendi ele em todos os momentos, e ele teve um final tranquilo”, pontua.

Mesmo com os obstáculos, o casamento de Élida e Everaldo foi pautado pela alegria. “Nós éramos festeiros, amavámos dar festas”, diz. Mas os momentos mais inesquecíveis vieram mesmo com a chegada dos netos. São 7 no total e todos, até a mais novinha, de 9 anos, recordam constantemente da presença afetuosa do avô.

“Os netos eram a vida dele”, confirma Élida. “Até minha neta mais nova, que era bebê quando ele faleceu, lembra sempre”. O avô Everaldo era generoso, estava sempre dando dinheiro para os netos comprarem doces e outros mimos. “Ele queria vê-los felizes”.

Em vários momentos da entrevista, Élida precisa segurar as lágrimas.
Em vários momentos da entrevista, Élida precisa segurar as lágrimas.
Everaldo com uma das netinhas, que até hoje lembra e fala do avô.
Everaldo com uma das netinhas, que até hoje lembra e fala do avô.

União – Após viver uma união tão forte e duradoura, Élida fica um pouco espantada com a fragilidade dos casamentos atuais. “Tem casamento que não dura 6 meses, não é?”, indaga. “Quando o casal namora, é um amor e uma cabana. Mas depois casa, começa a ver os defeitos, e é cada um pra um lado. Eu não sei o porquê disso”, questiona.

Para ela, o matrimônio sempre foi algo a ser levado a sério. “Eu decidi desde nova que iria me casar só uma vez. Se fosse o certo, seria para sempre. Se fosse o errado, acabou”, define. “Quando você faz o juramento perante a Deus, de estar juntos, tem que ser nos bons e maus momentos, até que a morte nos separe”, avalia.

Agora, curtindo a companhia dos netos e levando uma vida tranquila, morando com uma das filhas, Élida sente que sua relação com Everaldo teve um final feliz, apesar da separação. “O amor vence”, finaliza, sem esconder seu eterno amor e devoção ao companheiro que, de certa forma, sempre estará com ela.

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Orgulhosa, Élida mostra a foto do casal.
Orgulhosa, Élida mostra a foto do casal.
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