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Comportamento

No dia em que ia tatuar homenagem a avó, dona Kumiko faleceu

A avó foi inspiração de vida e virou saudade estampada na pele

Thaís Pimenta | 14/10/2018 08:32
Jorge, pai de Ayuri, Kumiko e a netinha, que cuidou tanto da avó em retribuição ao amor recebido. (Foto: Acervo Pessoal)
Jorge, pai de Ayuri, Kumiko e a netinha, que cuidou tanto da avó em retribuição ao amor recebido. (Foto: Acervo Pessoal)

No dia em que Ayuri Sakashita, de 27 anos, havia marcado de fazer uma tatuagem em homenagem ao grande exemplo dela, a avó Kumiko partiu. A primeira ideia era desenhar uma pera, fruta com um significa para as duas desde a infância, uma referência ao que, em vida, dona Kumiko foi: uma pessoa que tirava de si para dar para o outro.

''Na minha casa nunca tinha pera, e essa foi a maior demonstração humana de amor que já recebi. Fui criada por uma senhorinha que gosta muito de pera, mas eu custei a descobrir desse seu gosto, porque afinal, lá em casa nunca tinha pera. Quando adulta perguntei: se a senhora gosta porque nunca comprava? E ela me respondeu: porque nem você nem seu irmão comiam pera quando criança, pra que eu ia comprar pra mim?! Podia comprar outra coisa pra vocês comerem. A pera é só um, dos muitos exemplos de doação que ela poderia fazer. Ela negava se a si, suas vontades, seus prazeres para por os nosso em primeiro lugar'', explica a neta.

Tatuagem foi feita uma semana depois do falecimento da avó. (Foto: Acervo Pessoal)
Tatuagem foi feita uma semana depois do falecimento da avó. (Foto: Acervo Pessoal)

Mas uma semana após o falecimento da avó a homenagem ganhou outros traçoes: as asas de um anjo com o nome da avó em japonês. ''Eu tive que ligar no estúdio, avisei ao Oton, o meu tatuador, que ela tinha falecido e remarquei. Então o próprio processo da marcar na pele foi sensível, eu ainda estava muito abalada''. 

Para Ayuri, um anjo foi o que Kumiko sempre foi, e não só pelas experiências compartilhadas em conjunto, mas por conta da história de vida. ''Ela teve uma criação muito difícil por ter nascido mulher em uma cultura em que meus bisavós queriam filhos homens para ajudar na roça, foi criada na rédea curta e conseguiu se desvencilhar disso na criação do meu pai, Jorge'', conta.

Além disso, Kumiko viu o esposo partir para o Japão, ficar anos e anos no país sem dar nenhuma satisfação e depois voltar como se nada tivesse acontecido. ''Ele voltou e ela o cuidou até a morte, quando meu vô faleceu de cirrose''.

Parceiras desde sempre, Ayuri e Kumiko. (Foto: Acervo Pessoal)
Parceiras desde sempre, Ayuri e Kumiko. (Foto: Acervo Pessoal)
Lembranças permanecem vivas nas fotografias. (Foto: Acervo Pessoal)
Lembranças permanecem vivas nas fotografias. (Foto: Acervo Pessoal)

Kumiko morou no interior, em Aquidauana, mas há cerca de dois anos antes de sua morte veio para Campo Grande para ser cuidada por Jorge, a neta e outros dois netos. ''Meu tio que cuidava dela viajou para o Japão e como ela já necessitava de cuidados, se mudou para nossa casa''.

Ayuri passou todo esse tempo por conta da avó mas antes mesmo dessa fase ruim chegar, elas já eram próximas porque a avó teve participação intensa em sua criação.''Eu nunca fui muito apegada a família mas ela me mudou totalmente nesse sentido'', acrescenta a neta.

Os últimos dias em vida exigiram muito da jovem, que não se arrepende em momento nenhum da escolha que fez: cuidar da  mulher mais importante para ela. Na verdade, foi o momento de retribuir todos os cuidados e privações recebidos por Kimiko.

''Como ficava muito em casa perdi amigos, terminei um noivado de anos, e eu tenho certeza que fiz a escolha certa, até porque mostrou quem está mesmo do nosso lado''.

Nos últimos dois meses da vida da vovó, Ayuri precisou de uma licença do trabalho para poder lhe dar atenção exclusiva. Doentinha e fraca, foi uma desnutrição severa que levou Kumiko embora, pesando 33 quilos, mas até hoje, um ano depois de sua partida, continua marcada no coração e na pele de Ayuri.

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