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Comportamento

Patrimônio da firma, funcionários têm mais história no trabalho que em casa

Paula Maciulevicius | 01/05/2017 07:05
Crachá traz a data de início no trabalho: julho de 1990. (Foto: Alcides Neto)
Crachá traz a data de início no trabalho: julho de 1990. (Foto: Alcides Neto)

São tantos anos batendo ponto na mesma empresa que eles já são patrimônio do local onde trabalham. Neste 1º de Maio, o Lado B foi atrás de pessoas que tenham uma vida no mesmo lugar e se orgulham disso. Pedro, Chiquinho e Ecila são destes exemplos. Um é casado com as Pernambucanas, outro tem 160 patrões há décadas e ela apaga as velinhas da Embrapa como a funcionária mais antiga na ativa. 

No Shopping Campo Grande, seu Pedro é figura conhecida. Sorridente e disposto a atender, não tem quem saiba mais que ele sobre cama, mesa e banho. A idade, seu Pedro pode até confundir, mas não esquece o tempo de serviço. Dos 57 anos de vida, 27 deles foram passados nas Pernambucanas, desde 13 de julho de 1990.

Indicado por uma agência de empregos, ele começou como segurança e na última década se tornou vendedor. Todo dia Pedro sai do bairro Los Angeles, de ônibus, até o trabalho. A aposentadoria já chegou, mas o funcionário não se imagina longe dali.

Seu Pedro é velho conhecido dos campo-grandenses.
(Foto: Alcides Neto)
Seu Pedro é velho conhecido dos campo-grandenses. (Foto: Alcides Neto)
E se emociona ao dizer que ali é sua segunda casa.
(Foto: Alcides Neto)
E se emociona ao dizer que ali é sua segunda casa. (Foto: Alcides Neto)

"A gente brinca muito, conversa, tem amizades com colegas de trabalho e chefia e isso incentiva a gente", explica Pedro Felastiga Corrêa.

Ao falar da segunda casa, Pedro não segura o choro, mas antes pede para que o gerente acompanhe a cliente que ele tinha atendido até o caixa. "Pega ali, olha...", indica. "Aqui que eu moro, digo que tenho duas casas. Sou praticamente casado com as Pernambucanas", brinca para disfarçar o sentimento.

O estímulo para continuar ali, diariamente, vem dele mesmo. "Quem faz a chefia é a gente. Se você respeita, trabalha certinho, é respeitado. E aqui eu não penso diferente, cuido como quem cuida da minha casa".

Chiquinho, sabe da vida de todo mundo do prédio mais do que da própria família em casa.
Chiquinho, sabe da vida de todo mundo do prédio mais do que da própria família em casa.

Cearense, Chiquinho usa o mesmo óculos e boné há 28 anos, também ocupando o exato posto. A portaria do Residencial Beta, na Vila Sobrinho. De vendedor ambulante, ele se tornou porteiro e aos 59 anos, não pensa em deixar de abrir portão, entregar correspondência e atender ao interfone. 

"Eu gostei da profissão, porque gosto de conversar, de trabalhar com a comunicação", diz Francisco Filismino Gonçalves, de 59 anos. O trajeto a vida toda foi feito de bicicleta, do Santa Luzia até a portaria do trabalho. 

Conversador, são 160 apartamentos que cruzam com a vida de Francisco e é com os moradores que ele conversa a maior parte do dia. "Eu falo muito mais aqui do que com a família. Tenho mais comunicação no prédio que em casa, porque quando você chega, já está cansado", conta.

De patrão, ele tem um só, o síndico e considera o restante da vizinhança como amiga. "Eles são meus pagadores, mas eu considero amigo", explica. E se alguém buzina demais até o portão abrir, Chiquinho fala que usa a criatividade. "Eu digo que ele tem que fazer um café pra mim se buzinar duas vezes", ri.

"Se o homem deixar, eu me aposento em cinco anos, mas se Deus quiser, eu não saio da portaria não", encerra.

Ecila já na frente do computador, em 1999. Quando ela entrou na Embrapa, era época da datilografia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ecila já na frente do computador, em 1999. Quando ela entrou na Embrapa, era época da datilografia. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ecila é a funcionária mais alegre da Embrapa. A gente nem precisa estar junto para sentir o alto astral que chega pela voz e sorriso. Patrimônio da instituição, antes mesmo dela ser oficializada, Ecila já estava lá. Dos 40 anos de serviços, 41 deles contaram com a colaboração dela. 

Hoje responsável pela gestão de contratos, ela cai na gargalhada ao lembrar que é "jurássica" mesmo. "Comecei com suporte e datilografia. Naquela época, computador era coisa de ficção científica", brinca Ecila Zampieri Lima, de 62 anos. 

O convite surgiu de um amigo da família, que conhecia o trabalho dela no Colégio Mace. "Fiz um teste de datilografia. Era assim, os pesquisadores faziam o projeto deles a mão e passavam para a gente. Éramos três secretárias nesta seção", conta. 

A máquina de escrever nem era elétrica ainda e hoje, com computadores modernos, ela não se deixou desmotivar. "Saio de manhã com o maior prazer do mundo. Levanto às 6h, tomo meu café e digo que meu carro já vai no piloto automático". 

Ecila passou sim por crises, quando chegaram duas décadas no mesmo ofício, de editoração. Mas antes que a estafa tomasse conta, ela pulou das letras para os números e aposentar, não está nos planos.

"Foram amizades verdadeiras que eu construí ali dentro. Isso que te dá uma satisfação, uma alegria de viver, de conviver com pessoas bacanas e de bom coração. Não penso em me aposentar, digo que vou morrer trabalhando", e pelo visto, na Embrapa.

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