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Comportamento

Pela primeira vez em 11 anos, Campo Grande não terá Parada Gay

Elverson Cardozo | 18/04/2013 07:00
Passeata da parada gay em  2012. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Passeata da parada gay em 2012. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Pela primeira vez, em 11 anos, Campo Grande não terá a parada gay. A ATMS (Associação das Travestis de Mato Grosso do Sul), entidade que promove o evento na cidade, resolveu substituir a atração deste ano por ações mais profundas e politizadas, focadas em palestras, discussões de políticas públicas e debates acerca dos problemas enfrentados pela comunidade LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Simpatizantes).

Até hoje, em todas as edições, o público estimado variou de 30 a 35 mil pessoas em um único dia. Agora, com a “reformulação”, a entidade se diz preparada para uma mudança drástica, tanto é que espera receber 1 mil pessoas durante cinco dias.

A ATMS justifica o cancelamento citando o aumento do índice de violência contra os participantes de todo o país, apesar da Capital não ter registrado qualquer situação de agressão nas últimas edições do evento.

O motivo principal, no entanto, é o “mau momento” vivido pelos militantes a nível nacional. “A parada é um dia de orgulho à luta e às conquistas, mas esse ano, com a eleição do Marcos Feliciano [PSC-SP], não tem muito o que comemorar”, afirmou Cris Stefanny, uma das integrantes da Associação.

Fora Feliciano, atual presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, Cris cita nomes como o deputado federal Jair Bolsonaro (PP/RJ), a cantora Joelma, que entrou em polêmica após declarações sobre homossexuais e até a presidente Dilma Rousseff, vista, na avaliação dela, como exemplo de governo omisso. “A gente vê que há um conchave muito grande”, resume.

Manifestantes durante passeata.  (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Manifestantes durante passeata. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

“As coisas tem ficado cada vez pior. O que a gente tinha avançado no governo Lula retrocedemos no governo Dilma. Temos um PT, mas duas medidas diferentes” acrescentou.

Mas não é só isso. A coordenação da ATMS também se mostra descontente com participantes que não abraçam a causa e só querem se divertir durante a festa que promove a diversidade sexual na Capital.

“É muito mais fácil a gente sentar, agregar um grupo para conscientização e militância do que fazer a parada aonde a maioria não vai comprometida com o movimento, mas com a parte festiva”, disse.

Questionada se esse “problema” e enfretamentos políticos não ocorrem desde o início, Cris afirma que sim, mas argumenta que a situação tem piorado, especialmente agora, com a eleição de Feliciano, o apoio ao pastor pela bancada evangélica e a omissão do Governo Federal.

Mudanças - Ainda não está definido se a parada gay vai acabar em Campo Grande. Por enquanto, este ano, os organizadores querem experimentar uma nova forma de militância, embora arrisquem dizer que o novo movimento terá público infinitamente menor se comparado à festa tradicional.

As mudanças na realização começam pela data, passam pelas atrações e terminam no nome. Ao invés de “parada gay”, o evento vai se chamar “Diversificando a Diversidade”.

Stands para ações sociais serão mantidos. (Foto: Pedro Peralta/Arquivo)
Stands para ações sociais serão mantidos. (Foto: Pedro Peralta/Arquivo)

Não haverá passeata, trio elétrico, presença de drag queens ou gogoboys, como sempre aconteceu. O máximo que poderá ocorrer será um sarau depois do ciclo de reuniões e palestras, mas isso ainda não está definido.

Para não fazer referência à festa, os organizadores trocaram o mês setembro por outubro. Data, local, horário e programação ainda não foram acertados, mas pode ser que as ações também ocorram na Praça do Rádio Clube.

A proposta, a princípio, é promover exibições de filmes temáticos, gincanas, rodas de debate e palestras com convidados de fora, que militam pela causa. A ATMS não quer restringir o número de participantes, mas avisa que, como não há possibilidade de acomodar 35 mil pessoas para uma palestra, por exemplo, as inscrições para as atividades serão limitadas.

Cris acredita que não haverá problemas com relação à procura porque a programação será elaborada em cima de temas, que vai atrair público distinto, com interesses específicos.

Da programação “original”, a entidade pretende manter apenas as ações sociais, que contemplam serviços de saúde e orientação. Assim como ocorreu nos últimos anos, a ATMS quer continuar com os stands para aferição de pressão arterial, teste rápido de hepatite e HIV, distribuição de preservativos, lubrificantes e material informativo sobre DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).

“A gente sabe que o público não vai ser o mesmo, mas se você atingir 100 pessoas em uma formação política você estará formando 100 pessoas que vai reproduzir isso”, disse. Na parada, completou, por mais que se tente politizar o evento, “90% dos que vão estar ali não vão fazer isso”, declarou.

“Cadê o povo LGBT, a sociedade LGBT, só existe quando tem parada?”, ela questiona, antecipadamente.

Congresso da Diversidade - A “substituição” da parada gay foi um dos assuntos abordados durante a reunião dos membros da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso do Sul), na terça-feira (16), segundo divulgou a assessoria da entidade.

Reunião da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-MS. (Foto: Divulgação)
Reunião da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-MS. (Foto: Divulgação)

O presidente da comissão, Júlio César Valcanaia Ferreira, viu a decisão por parte da ATMS como positiva. Na avaliação dele, a associação e os participantes do evento vão perder em visibilidade, mas ganhar em conhecimento.

“Sempre fui um pouco crítico da parada. Não tinha nenhum momento de conscientização”, disse.

A OAB, afirmou, apoia a iniciativa e, inclusive, vai promover, no mesmo período, o primeiro Congresso Estadual da Diversidade. O encontro tem como público alvo a comunidade LGBTs, mas deve reunir estudantes, professores, promotores de justiça, juízes, advogados, médicos, entre outros profissionais.

“A gente pode melhorar a qualidade e o entendimento das pessoas para compreensão da diversidade”, declarou Júlio César.

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