ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 29º

Comportamento

Por onde andam os apitos e os velhos picolezeiros de Campo Grande?

Paula Maciulevicius | 21/08/2013 07:23
Na última década de 25 a 30 carrinhos de picolés nas ruas, não sobrou mais que meia dúzia do estilo picolezeiro. (Fotos: João Garrigó)
Na última década de 25 a 30 carrinhos de picolés nas ruas, não sobrou mais que meia dúzia do estilo picolezeiro. (Fotos: João Garrigó)

Uma das melhores lembranças da infância era ouvir a buzina do picolezeiro anunciando aquilo que minha mãe brincava ‘picolé de água suja com açúcar’. Bastava ele aparecer na rua que a gente, moleque de tudo, ouvia de longe e já saía com uma bacia pra por os sabores e um adulto pra pagar a conta. Foi se o tempo em que uma simples buzina causava alvoroço e correria. “Tio, pera aí”.

Esses dias me peguei pensando onde foram parar os picolezeiros daquela época. Eles não foram embora totalmente, mas foi mais uma das coisas que os anos 2000 levou da década de 90.

Meu preferido era o de groselha. Daqueles que a gente se lambuzava tudo e ficava com a boca roxa por uns dias. Brincadeira. A ‘água suja’ como minha mãe brincava nunca manchou e nem fez mal a ninguém.

Aqui em Campo Grande, quer vê-los basta ir no final do dia até a Praça dos Imigrantes, ali próximo a Rui Barbosa. Mas de tantos que andavam por aí, hoje os carrinhos de picolé se resumem, pasmem, a seis. Quem conta é o comerciante Celso Henrique dos Santos, de 41 anos, que fabrica e coordena os picolés nas ruas.

Hoje, na visão dele, o que mudou, além da cultura da criançada, foi o investimento pesado de grandes marcas. Coisa que não se via antes passou a estar presente nas ruas, carrinhos Kibon, por exemplo e marcas daqui do Estado mesmo que investiram pesado no ramo.

Concorrente do picolezeiro Felipe tem até farmácia entrando na briga.
Concorrente do picolezeiro Felipe tem até farmácia entrando na briga.

“É um ramo muito ingrato. Você trabalha seis e ganha seis. Hoje não tem mais essa cultura. A criançada é da geração coca-cola e videogame. Como a maioria dos sorvetes fechou, ficou difícil também ir para os bairros”, justifica Celso.

Aí não teve jeito. Na última década de 25 a 30 carrinhos de picolés nas ruas, não sobrou mais que meia dúzia do estilo picolezeiro. Mas os que ainda perseveram são aquelas típicas figuras do tio do picolé. Aposentados que usam o dinheiro da venda para implementar o salário mínimo que recebem.

‘Seo’ Felipe Pereira Nolasco, 68 anos, lembra exatamente o dia e a hora em que começou a buzinar pelas ruas de Campo Grande. “Em 1994, mais precisamente 12 de outubro. Eu não esqueço. Guardei a data porque na época estava desempregado”, conta. Era um dia das crianças e as vendas, claro, seguiram o ritmo da data comemorativa.

'Seo' Armindo guarda na memória os tempos em que era só buzinar que a garotada mandava esperar.
'Seo' Armindo guarda na memória os tempos em que era só buzinar que a garotada mandava esperar.

Nos dias de bom negócio, ele vende até 30 picolés, já nos dias de movimento fraco, não vai nem a metade disso. Se choveu ou fez frio então, aí é que os picolezeiros não saem da toca.

Fora os altos e baixos dos picolés, ‘seo’ Felipe faz frente a muitos outros produtos que despertam até mais a atenção da garotada. “Tem muita concorrência hoje em dia. Antes não tinha sorvete em lanchonete, esses de freezer, hoje tem e está cheio em tudo quanto é canto, até em farmácia”, desabafa.

Há mais de duas décadas puxando um carrinho de picolé, Armindo Galdino Delgado, de 74 anos, fala logo de cara que foi de uma época diferente, onde a aceitação era bem maior. “A maioria comprava. A gente ia nos bairros aos finais de semana e ia buzinando de longe que quem escutava e queria comprar já saía gritando, mandando a gente esperar. A gente sente né? Naquela época era tudo bem diferente”, descreve.

Nos siga no Google Notícias