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Comportamento

Poucos reclamam de "zona", já igreja, bar e escola estão entre piores vizinhos

Elverson Cardozo | 05/05/2014 06:49
Vizinhos de bar, point dos universitários, dizem que vivem ao lado do inferno. (Foto: Pedro Peralta)
Vizinhos de bar, point dos universitários, dizem que vivem ao lado do inferno. (Foto: Pedro Peralta)

Na internet ou em uma conversa informal, na mesa do bar, por exemplo, vira e mexe alguém reclama do vizinho, seja por conta do barulho no imóvel ao lado, das brigas familiares que todo mundo acaba ouvindo, do gosto musical que não agrada ou, simplesmente, pela inconveniência de muita gente que vive “fora da casinha” e insiste em cuidar da vida dos outros.

A reclamação, no entanto, não se limita aos moradores, mas, muitas vezes, aos locais. Por isso, nesta semana, o Lado B saiu às ruas para descobrir quem sofre mais em Campo Grande e quem são os piores vizinhos da cidade.

Confeccionista Rosangela só tem elogios para responsáveis e frequentadores de boate. (Foto: Pedro Peralta)
Confeccionista Rosangela só tem elogios para responsáveis e frequentadores de boate. (Foto: Pedro Peralta)

Negócio tranquilo e discreto - Na conversa com várias pessoas, uma constatação: Pouca gente reclama de boate, as conhecidas "zonas". Moradores da Vila Carvalho, na região da Avenida Bandeirantes, onde existe uma casa noturna desse tipo, chegam a tecer elogios aos responsáveis e frequentadores.

Cabeleireiro, Amarildo Mendes, de 51 anos, vive há 40 anos na mesma casa, na rua de trás do estabelecimento, e nunca teve problemas. A aposentada Maria Rezende de Souza, 80 anos, proprietária de um imóvel na rua México, uma das laterias, diz a mesma coisa.

A confeccionista Rosangela Souza Espírito Santo, 56, dona de um ateliê de costura no mesmo endereço, também reforça o coro. “Para falar a verdade, nunca ouvi nem barulho e olha que durmo tarde porque trabalho com confecção e fico costurando. Se tivesse problema eu falava”.

Bem longe dali, no Jardim Columbia, a fama de “negócio discreto e bem organizado” se repete de boca em boca. No bairro também existe uma casa noturna do gênero, e pouca gente fala mal.

No Jardim Columbia, Izaurino mora ao lado de uma casa noturna e disse que não se sente incomodado. (Foto: Pedro Peralta)
No Jardim Columbia, Izaurino mora ao lado de uma casa noturna e disse que não se sente incomodado. (Foto: Pedro Peralta)

Manicure, Sirlene de Souza Roma, de 23 anos, só se sente incomodada com o nome do local, que acaba virando referência. Fora isso, a jovem diz que não há problema e que ninguém fica, por exemplo, se insinuando na rua.

O aposentando Izaurino José dos Santos, 67, também não se incomoda. Cita apenas o som alto que, há cerca de 3, 4 anos, segundo ele, perturbava todo mundo. “Mas acabou”, disse.

Essa também é a única queixa apontada pelo funileiro e pintor Tiago Oliveira, de 32 anos. “Nunca me incomodaram. Elas ficam quietinhas lá dentro. Não dá nem vergonha de passar com os filhos em frente”, contou.

“Vizinhos do inferno” - Bom seria se os elogios se estendessem aos outros locais, mas não. Que mora na região da Vila Olinda, perto de um dos bares que virou point dos acadêmicos da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), não tem motivos para isso.

Na primeira abordagem da equipe, uma moradora, já idosa, não quis conversar com o canal porque, “já está resolvendo o caso com a justiça”. A segunda aceitou falar, mas pediu para não ser identificada porque teme sofrer represálias.

Há 9 anos na mesma casa, a senhora, de 65 anos, disse que viver ao lado de bar, ainda mais um que é ponto de encontro dos estudantes, é “ser vizinha do inferno” e, na sequência, explicou o porquê:

Moradora comprou protetores auriculares para aguentar som alto de bar. (Foto: Pedro Peralta)
Moradora comprou protetores auriculares para aguentar som alto de bar. (Foto: Pedro Peralta)

“Os alunos fecham as ruas. A gente não pode nem passar. Eles ficam na calçada, estacionam em cima, jogam lixo, transam na rua, na frente da casa de todo mundo, ficam conversando de madrugada, batendo porta, gritando e ouvindo aqueles ‘tum, tum, tum’ infernal, além de fumar maconha na esquina", generalizou.

A mulher, que diz não ter descanso nem para ler um livro, não viu saída senão comprar um par de protetor auricular para dormir. Nem assim conseguiu ter paz, porque o barulho é intenso, passa do limite e, segundo ela, os estudantes amanhecem fazendo bagunça. “Eles não têm respeito. São terríveis”, criticou.

Pais folgados - No Monte Castelo, o problema não são os alunos, até porque eles são crianças, mas os pais que, pelo visto, deixam a educação em casa na hora de levar e buscar os filhos. A reclamação de quem mora na região da Rua 25 de dezembro, onde tem uma escola infantil, restringe-se ao trânsito.

“O pessoal não respeita. Para na garagem e, se você vai falar com essas pessoas, elas são extremamente grossas. Às vezes é até mulher de político que vira para você e fala: Não sabe de quem eu sou mulher? Eu digo: Estou me lixando para quem você é”, relatou uma moradora, que também pediu anonimato.

Na rua 25 de dezembro, perto de uma escola, vizinhos sofrem com os pais folgados. (Foto: Pedro Peralta)
Na rua 25 de dezembro, perto de uma escola, vizinhos sofrem com os pais folgados. (Foto: Pedro Peralta)

Na mesma casa há pelo menos 50 anos, ela disse que, em determinadas situações, deixa a classe de lado. “Já briguei com muita gente aqui. O pessoal é extremamente grosso e não tem educação nenhuma. Teve mulher que para aqui e vai à costureira, na doceria....  Agora diminuiu um pouco porque eu armo barraco mesmo. Esses dias uma me disse: A senhora é barraqueira, né? Eu falei: Posso até ser, mas estou na minha casa. Já você é sem educação”, contou.

“Extra-culto” – Morador da Vila Piratininga, o acadêmico José Bráulio Junior, de 21 anos, vive, há 4 anos, ao lado de uma igreja evangélica e não tem qualquer elogio à fazer.

“Posso dizer que são os piores vizinhos que já tive. Frequentar uma igreja pode ser muito bom, mas ser vizinho de uma é horrível”, afirmou, ao dizer que, além do barulho inadequado, é obrigado a conviver com o “extra-culto”, ensaios, reuniões, etc.

“Um bar de domingo à noite, procura ter o bom senso de não incomodar os vizinhos com o volume da música, mas a igreja não está nem aí, sem falar que os irmãos adoram estacionar na porta da minha casa, bloqueando a minha garagem e sujando minha calçada com inúmeros panfletos”, finalizou.

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