Recomeçar foi tão difícil que Myria pensou em voltar para a guerra
Musicista esteve em Campo Grande para palestra onde falou sobre a fuga da guerra e sua chegada ao Brasil
Uma cidade viva que não dormia. Assim era Alepo, na Síria, até ser engolida pela guerra em 2011. Foi de lá que Myria Tokmaji, hoje com 34 anos, saiu em busca de paz. Quase 12 anos depois, ela veio a Campo Grande para contar sua história em uma palestra. Pela primeira vez em Mato Grosso do Sul, destacou que os sul-mato-grossenses são abençoados pela terra que têm e por viverem onde vivem.
No Brasil desde 2013, Myria conseguiu trazer a mãe, os avós, primos e tios, ao todo, 16 pessoas. Segundo ela, a fuga da terra natal foi dolorosa e cheia de incertezas. “A guerra acabou com a cidade. Era muito perigoso, não tínhamos luz, ficamos sem necessidades básicas. Vivemos naquela situação por cerca de dois anos antes de sair e fugir para o Brasil”, lembra.
O Brasil apareceu como um milagre, sem os riscos a que muitos outros sírios se submetiam na tentativa de imigrar para outras regiões. “Naquela época, há 12 anos, era o único país que estava com as portas abertas para a gente entrar legalmente como turistas, como pessoas normais”, explica.
Mas a chegada não foi fácil. Sem falar português e sem rede de apoio, tudo parecia impossível. “Lembro que liguei para minha mãe dizendo para ela não vir, porque era muito difícil se integrar aqui. Eu pensei que eles iriam sofrer muito nesse recomeço”, lembra.

Na época, com apenas 22 anos, ela chegou a achar que era melhor ficar na guerra do que enfrentar o recomeço. “Fugi da guerra, mas encontrei outro grande desafio. Eu não conhecia ninguém, estava em um lugar que você não pertencia”, explica.
Mas a mãe não escutou e veio com outros familiares. Aos poucos, Myria e a família foram se reconstruindo. “Foi alguns anos de integração, de trabalho duro de toda a família para a gente reconstruir um pouquinho a nossa vida. Porque quando você migra como refugiado você não começa a sua vida do zero, você começa do menos zero”, avalia.
No Brasil, Myria se reinventou. Virou musicista, palestrante, designer de joias e tantas outras coisas. “Eu considero que eu tenho uma família muito talentosa, de muitas capacidades. Então, todos nós trabalhamos muito duro por muitos anos para nos reconstruir”, relata.
Foi aqui também que ela encontrou o amor. O marido, um venezuelano que veio estudar no Brasil no mesmo ano em que ela fugiu da Síria, hoje é engenheiro e analista de inteligência de mercado. “Cada um saiu do seu país, viemos no mesmo ano para o Brasil e nos conhecemos em Curitiba ”, conta.
Hoje, Myria diz que se sente em casa e grata. “Criei minha nova família com meu marido, minha filha, e temos essa sensação de raízes, de novo pertencimento”, avalia.
Na palestra em Campo Grande, ela deixou uma mensagem. “Acreditem na capacidade que tem dentro de vocês. Ela existe e nos momentos críticos da vida a gente descobre que realmente é capaz”, finaliza.
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