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Comportamento

Ser tratada como criança é pesadelo para quem tem 1,26m de altura

Por variações genéticas, Larissa não atingiu estatura média e, aos 26 anos, passa por situações desagradáveis

Aletheya Alves | 19/08/2022 07:10
Larissa conta sobre como altura leva para discussões tanto sobre capacitismo quanto infantilização. (Foto: Kísie Ainoã)
Larissa conta sobre como altura leva para discussões tanto sobre capacitismo quanto infantilização. (Foto: Kísie Ainoã)

Assim como muitas mulheres não são levadas a sério, a publicitária Larissa de Paula Pereira dos Santos chegou aos 26 anos e nem a idade conseguiu frear um de seus piores pesadelos: ser tratada como criança. E, por ter 1,26m de altura, ela conta que de ser pega no colo até parecer invisível, infantilização e preconceito vão longe.

“Ninguém precisa saber de tudo, o problema é que as pessoas não se dão o trabalho de perguntar e acabam me desrespeitando”, resume Larissa. Contando sobre uma pequena porcentagem de tudo o que já passou na vida, a publicitária argumenta que desde conhecidos até estranhos, as pessoas insistem em não entender que ela já é adulta há tempos.

Diagnosticada com Síndrome de Marfan quando era criança, Larissa explica que até nesse ponto é deslegitimada hoje em dia graças à sua altura. “Existem várias características da síndrome e tenho a maioria. Porém, duas das características visíveis mais comuns são os membros superiores alongados, que eu tenho, e a alta estatura, por exemplo passar dos 1,90m, que não aconteceu comigo. E por isso há muito questionamento até quando vou ao médico”.

Como ela detalha, a síndrome possui outras características envolvendo a elasticidade e resistência do corpo. Por isso, diversos tratamentos são necessários, “meus ossos são mais frágeis, preciso fazer acompanhamento dos meus olhos, do meu coração e já passei por três cirurgias no fêmur por conta do desgaste. Tudo isso por conta da Síndrome de Marfan”.

A publicitária foi diagnosticada com Síndrome de Marfan quando era criança. (Foto: Kísie Ainoã)
A publicitária foi diagnosticada com Síndrome de Marfan quando era criança. (Foto: Kísie Ainoã)

E, à parte da síndrome, ela destaca que sua altura costuma provocar uma união entre infantilização e capacitismo. “Na escola eu já tinha professores que duvidavam da minha capacidade intelectual e hoje ainda preciso provar tudo o que digo, preciso sempre reforçar que sou responsável pelos meus atos”.

Na vida cotidiana, Larissa comenta que acaba tentando levar muita coisa na base da risada, mas que nem sempre isso é possível. Entre os episódios que hoje consegue ver como engraçados, ela narra que já ganhou entrada gratuita em balneário e até Conselho Tutelar já foi conferir sua presença em evento.

“Fui em um evento e denunciaram que tinha uma criança, outra vez acharam que eu estava perdida. Mas tem coisas que são difíceis, por exemplo quando passam a mão na minha cabeça e falam ‘que bonitinha’ como se eu não estivesse ali. Isso é complicado”, explica Larissa.

Enquanto aprendeu a se manter firme com relação ao preconceito, a publicitária narra que para enfrentar a infantilização precisa ter atitudes que não gostaria.

Desde precisar cortar os sorrisos até ser mais dura, tudo se tornou estratégia para mostrar que não é criança.

Eu evito usar rosa, roupas com estampas de personagens para não remeter a criança. Busco roupas de cor lisa, faço maquiagem e mantenho as unhas grandes, Larissa detalha.

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E, precisando lidar com tudo isso no cotidiano, até reduzir sua sociabilidade foi um dos resultados. “Além da falta de respeito de quem insiste em me tratar como criança, o olhar é muito doloroso. Ver que as pessoas ficam apontando, comentando a todo tempo, tudo isso é pesado”.

Garantindo que, ao menos para ela, reverter esse cenário parece algo muito óbvio, Larissa argumenta que o início de tudo é ter respeito. “Não me importo com as pessoas me perguntando, mas fico chateada quando chegam com certezas. É muito simples ter respeito, é só entender que sou uma pessoa como qualquer outra e que sei falar por mim mesma”, completa.

Larissa no trabalho, com apoios que garantem o conforto necessário. (Foto: Kísie Ainoã)
Larissa no trabalho, com apoios que garantem o conforto necessário. (Foto: Kísie Ainoã)

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