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Comportamento

Sinuqueiras de plantão, Sandra e Tânia causam barulho ao chegar nos bares

Amigas admitem que tiveram de aguentar muita zoeira, quando começaram há 20 anos

Danielle Valentim | 09/08/2019 07:45
Tânia à esquerda e Sandra à direita. As amigas resumem a prática a uma terapia. Um vício bom. E quando ninguém marca torneio, a duplinha dá um jeito de jogar. (Foto: Paulo Francis)
Tânia à esquerda e Sandra à direita. As amigas resumem a prática a uma terapia. Um vício bom. E quando ninguém marca torneio, a duplinha dá um jeito de jogar. (Foto: Paulo Francis)

Batom na boca, muita risada e habilidade com os tacos. Até virarem o jogo e garantirem reconhecimento nas mesas de sinuca espalhadas por Campo Grande, Sandra e Tânia ouviram muito a gíria usada para se referir a jogadores molengas: “Chegaram os pudins”. Hoje, quase 20 anos depois, as amigas viraram competidoras profissionais e já passaram por todos os bares da cidade.

A aposentada Sandra Mara de Oliveira, de 64 anos, e a vendedora Tânia Elvira Toledo, de 54, foram unidas por uma paixão em comum: o bilhar. Há exatos 18 anos, a dupla se encontrou em um bar e, desde então, vivem em busca de mesas para jogar.

“Isso começou numa brincadeira. Eu sempre gostei muito de dançar. Um amigo do Bairro Maria Aparecida Pedrossian foi quem me ensinou a jogar sinuca e nesta mesma época eu conheci a Tânia”, conta Sandra.

Tânia pontua que além dos benefícios físicos, o jogo de bilhar requer estratégia, uma habilidade que é aprendida aos poucos. (Foto: Paulo Francis)
Tânia pontua que além dos benefícios físicos, o jogo de bilhar requer estratégia, uma habilidade que é aprendida aos poucos. (Foto: Paulo Francis)
Sandra costuma dizer que já deu “nojo” para muito homem em torneio Campo Grande afora.  (Foto: Paulo Francis)
Sandra costuma dizer que já deu “nojo” para muito homem em torneio Campo Grande afora. (Foto: Paulo Francis)

Tânia confirma a história da amiga e garante que a união é tão grande que acabam confundidas. “Eu aprendi jogar com meu irmão e ia no mesmo bar que a Sandra, pegamos amizade e nunca mais nos separamos. Onde tem torneio nós vamos, tanto que as pessoas nos confundem, as vezes me chamam de Sandra e ela de Tânia”, acrescenta.

Mesmo em um ambiente dominado por homens, Sandra e Tânia garantem que foram raras as situações de desrespeito com relação ao gênero. Mas quando o assunto era o jogo, a zoeira passava dos limites.

“A gente sempre só achou lugares com homens e tínhamos que chegar chegando. Perdíamos, passávamos vergonha até acostumar. Os anos se passaram e nós fomos ficando cada vez mais apaixonadas e experientes na sinuca”, lembra Sandra.

Mas o jogo foi virando e muito parceiro de bar teve de se calar. “No começo realmente perdíamos de fazer feio. Muitas vezes chegamos a torneio e ouvimos que tinham chegado os “pudins”, que são participantes fáceis de ganhar. Mas agora, quando vão jogar com a gente eles veem que não é assim. Agora eles falam: vixe! Chegaram as duas”, ressalta Tânia.

“Já tiramos muita gente forte do jogo. Pessoal de nível alto que disputa nacional”, completa Tânia.

"quando vão jogar com a gente eles veem que não é assim. Agora eles falam: vixe! Chegaram as duas”, ressalta Tânia. (Foto: Paulo Francis)
"quando vão jogar com a gente eles veem que não é assim. Agora eles falam: vixe! Chegaram as duas”, ressalta Tânia. (Foto: Paulo Francis)
“Já tiramos muita gente forte do jogo. Pessoal de nível alto que disputa nacional”, completa Tânia.(Foto: Paulo Francis)
“Já tiramos muita gente forte do jogo. Pessoal de nível alto que disputa nacional”, completa Tânia.(Foto: Paulo Francis)

Em Campo Grande muitas mulheres jogam sinuca, mas segundo Tânia as colegas permanecem nos bairros e não se arriscam em torneios. A aposentada lamenta a falta de incentivo, porque é o jogo que a mantém na ativa.

“Se for pesquisar os benefícios da sinuca você perde as contas. O jogo estimula a coordenação motora, raciocínio, movimentação física. Em resumo você não vê uma sinuqueira ter depressão. Tem coisa mais gostosa do que chegar num lugar e ser bem recebido, disputar de igual para igual? É muito gostoso”, garante Sandra.

Tânia pontua que além dos benefícios físicos, o jogo de bilhar requer estratégia, uma habilidade que é aprendida aos poucos. As amigas resumem a prática a uma terapia. Um vício bom. E quando ninguém marca torneio, a duplinha dá um jeito de jogar.

“Nossos filhos já estão criados, formados e achamos no jogo uma forma de ocupar a cabeça e não ficar sozinha em casa. Normalmente mulher em bar fica mal falada, mas nosso caso foi diferente. A gente chega e todo mundo respeita.

Conhecidas em toda a cidade, as duas não têm problemas para chegar nos bares. (Foto: Paulo Francis)
Conhecidas em toda a cidade, as duas não têm problemas para chegar nos bares. (Foto: Paulo Francis)

Conhecidas em toda a cidade, as duas não têm problemas para chegar nos bares. “Nós já conhecemos bastante gente. Todos os homens vêm cumprimentar. Ficam alegres quando a gente chega. Domingo retrasado estávamos no Columbia, domingo passado no São Conrado e neste domingo tem torneio no Nova Lima e na Yokohama”, conta Sandra.

A participação nos torneios daqui e fora da cidade são organizados em grupos de WhatsApp. Sandra e Tânia colecionam premiações e já viajaram para vários municípios como: Rio Negro, Corguinho, Jardim, Ponta Porã, Bonito e Três Lagoas.

E as duas são mesmo conhecidas. Antes de localizar as amigas, o Lado B percorreu bares do Jardim Colúmbia e rapidamente encontrou sinuqueiros que as tinham em grupos de WhatApp. O dono de um dos estabelecimentos chegou a confirmar que a dupla tem até torcida.

Para quem quer começar a jogar, Sandra e Tânia também dão dicas. Segundo eles, é preciso acompanhar o ritmo de cada bar, afinal, cada estabelecimento tem um grupo de amigos.

“Há lugares que ocorrem torneio com disputas e outros com desafios. Cada lugar que nós vamos é um grupo de amigos. Às vezes alguns amigos do Aero Rancho me mandam mensagem dizendo que o bar está lotado e eu vou. Às vezes no Colúmbia”, explica Sandra.

E mesmo depois de quase duas décadas, elas ainda não têm um lugar preferido.
“Na quinta vamos ao José Abrão, tem lugar que vamos às sextas, outros que vamos nas quartas. O que importa é que na ausência de uma, a outra fica torcendo de longe”, frisa Tânia.

“Às vezes tem torneio nos bares de dois amigos, aí ficamos naquela sinuca: aonde ir? Aí cada uma vai a um lugar. A gente recebe muito convite, porque a gente chega animada, brinca com todo mundo, então isso faz fortalecer a amizade”, acrescenta Sandra.

Sandra costuma dizer que já deu “nojo” para muito homem em torneio Campo Grande afora. “Em Rio Negro subi ao pódio, fiquei entre os três primeiros. Teve torneio que a Sandra ganhou prêmio de mulher melhor classificado. Na Copa Brasil em 2012 fiquei em 17º lugar entre 72 participantes de todo o Brasil. A gente vai envelhecendo e perdendo alguns reflexos, mas vamos nos esforçando”, ressalta.

Os desafios mais comuns nos bares daqui são o rolinho e o montinho. O rolinho é jogado com três bolas de R$ 5 ou R$ 10. O montinho são seis bolas a R$ 10 cada uma. Ganha quem mata o maior número de bolas. “No montinho se você entra com 10 pessoas chega a levar para casa R$ 100. Fora premiações de torneios para fora, em Campo grande já cheguei a ganhar R$ 300 em desafios como esses”, finaliza Sandra.

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