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Comportamento

Sobre duas rodas, trio aproveita quietude da cidade para se conhecer

A risada entre uma corrida e outra é o que mantém três dos 15 mototaxistas que permanecem trabalhando em época de quarentena

Danielle Errobidarte | 05/04/2020 08:54
Entre uma conversa e outra, Diomaro, José e Valdevino (da esquerda para direita) vão se conhecendo enquanto esperam corrida. (Foto: Paulo Francis)
Entre uma conversa e outra, Diomaro, José e Valdevino (da esquerda para direita) vão se conhecendo enquanto esperam corrida. (Foto: Paulo Francis)

Num dos pontos de táxi mais movimentados da cidade, na Praça Ary Coelho, em plena Avenida Afonso Pena, o clima é de descontração e memórias de quando a entrada e saída de passageiros fazia parte da rotina. Antes com 15 mototaxistas, que mal conseguiam se ver pelo número de corridas que tinham, hoje não passam mais do que três deles por ali.

O coronavírus fez os três colegas de profissão se reunirem como há tempos não acontecia. Conhecido como “Bahiano de mototáxi”, a brincadeira dos amigos é em relação ao bairro onde ele mora: Dom Antônio Barbosa. “A gente fala que ele é da área vermelha, um dos bairros perigosos”, ri Valdevino dos Santos, que transporta pessoas em sua moto há sete anos.

Mas com a chegada do coronavírus e o esvaziamento do centro da cidade, segundo eles devido ao comércio, as “áreas vermelhas” não se referem à segurança de apenas um ou dois bairros. Toda a cidade parece estar deserta e, mesmo bem ao lado do terminal de embarque da Praça Ary Coelho, eles afirmam que não importa mais a região da cidade de onde partem as corridas.

“Hoje em dia não tem corrida pra lugar nenhum quase. Mas ainda é melhor ficar aqui e tirar duas ou três, uns pingados, do que ficar sem nada. A gente não sabe fazer outra coisa da vida. O jeito é higienizar a moto, capacete e tudo que usamos com álcool em gel”, relata José Rosa, de 47 anos, que está há 16 na profissão.

Valdevino esteriliza do capacete ao colete e, para quem pede, ele até fornece touca. (Foto: Paulo Francis)
Valdevino esteriliza do capacete ao colete e, para quem pede, ele até fornece touca. (Foto: Paulo Francis)

Manter a segurança também é tarefa difícil. Além dos equipamentos para evitar acidentes, os três carregam luvas, álcool em gel e até touca para oferecer aos passageiros. “Às vezes, se a gente freia, eles seguram em nós e temos que passar álcool até no colete. Dou uma disfarçada para não ficarem chateados, mas borrifo álcool até na luva, pois pego no guidão”, explica Valdevino.

Diomaro da Conceição Soares, o “bahiano do mototáxi”, tem 49 anos e há sete fez do ponto sob as árvores da Ary Coelho, seu local de trabalho. Bem em frente à estátua de Manoel de Barros, na avenida mais movimentada da cidade, o isolamento social afastou os clientes, mas também a família. “Tenho uma filha de 8 anos e meu medo é com ela. A gente não pensa em se infectar ou que corre perigo, se fosse “só” isso não teria problema. Nosso medo é levar para dentro de casa, para nossas famílias”.

Enquanto o movimento na avenida não volta ao normal, eles ocupam o tempo esterilizando a motocicleta e aproveitam a escolha de continuarem trabalhando para conhecerem uns aos outros, como antes não tiveram oportunidade.

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