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Comportamento

Talita estava começando a viver diferente quando assassinato da filha mudou tudo

Thailla Torres | 28/09/2018 08:02
Hoje ela convive com a dor e a ausência provocada pela violência contra sua filha. (Foto: Kísie Ainoã)
Hoje ela convive com a dor e a ausência provocada pela violência contra sua filha. (Foto: Kísie Ainoã)

Há um ano e sete meses, Talita Feitosa de Freitas, de 69 anos, convive com a dor e a ausência provocadas por um assassinato. Ela perdeu a filha, Luciane de Freitas Souza, de 44, morta pelo ex-marido, em fevereiro de 2017, em Campo Grande. A mãe estava pronta para viver uma vida diferente como aposentada, mas os planos foram brutalmente interrompidos levando a paz de quem tinha planos para ser feliz.

“Tinha decidido levar um vida tranquila, levantava todo dia às 7h, fazia meu café, sorria. Era o momento que eu tinha decidido viver, mas de repente tudo se transformou”.

Luciene era servidora pública e pretendia se separar. (Foto: Kísie Ainoã)
Luciene era servidora pública e pretendia se separar. (Foto: Kísie Ainoã)

A brutalidade dos fatos ainda emociona Talita que não contém o choro durante a entrevista. “É uma dor que não passa”, diz ao secar as lágrimas. “Todo dia quando abro os olhos, é a primeira coisa que me vem na cabeça, não tem como não pensar nela”, descreve.

Luciana morreu e deixou a filha de 13 anos, que hoje mora com a avó e foi a principal transformação dos seus dias. “Antes eu era avó, hoje sou mãe e avó, é como se eu tivesse que reaprender tudo de novo, afinal minhas filhas eram todas adultas”.

Mas o que machuca a Talita é o olhar da neta, hoje com 15 anos, sempre que tenta reencontrar a mãe na memória. “Ela sempre esteve aqui comigo, sempre foi uma neta carinhosa, mas a melhor amiga era a mãe, elas conversavam de tudo, dividiam histórias, e isso ninguém tinha o direito de tirar dela”.

Foi então que Talita decidiu fazer de tudo para mudar os dias da neta. “Eu jamais ia deixá-la sozinha”, diz. “Hoje meu propósito é cuidá-la como mãe até o fim da minha vida”.

Ela também precisou se acostumar ao jeitinho da nova juventude. “Eu brinco que estava engessada, mas minha neta tem me ensinado muito, todos os dias”.

Dona Talita no quartinho da neta, cuidado com todo carinho. (Foto: Kísie Ainoã)
Dona Talita no quartinho da neta, cuidado com todo carinho. (Foto: Kísie Ainoã)

Recentemente, as duas foram juntas para a Disney, compartilharam também muitas e histórias e o momento amorteceu a dor que Talita sente diariamente ao lembrar-se da filha. “Todos os dias eu agradeço a Deus por ele não ter feito nada com a minha neta, não sei o que seria de mim com tanto sofrimento, hoje sei que a minha missão é cuidar dela e o que eu puder fazer pela sua felicidade, eu faço”.

O que a filha deixou em casa também é inesquecível. Na mesa da cozinha, Talita se lembra do sorriso de Luciane toda vez que servia o bobó de galinha. “Era o prato preferido, que ela mais amava. Sem contar que todos os dias ela estava aqui no almoço e ainda dava passadinha no fim do dia”, lembra.

Horas antes do crime, Talita também conversou com a filha e a chamou para um almoço dançante, foram o último convite e as últimas palavras. “Mas ela achou caro e disse não pra mim, depois falou me ligaria e nunca mais ligou. Não deu tempo dela me chamar”.

A partida – Luciane foi morta no dia 12 de fevereiro, dentro de casa. O ex-marido, Vagner Lopes, de 40 anos, confessou que quebrou o pescoço dela antes de jogá-la na piscina.

Após o crime ele fugiu e foi preso dias depois em Sidrolândia. Luciane foi encontrada morta no dia seguinte, pela filha.

Seu olhar demonstra uma saudade sem fim. (Foto: Kísie Ainoã)
Seu olhar demonstra uma saudade sem fim. (Foto: Kísie Ainoã)

Vagner teria entrado na casa onde as duas moravam no bairro Marcos Roberto durante a noite, quando Luciane entrou com o carro na garagem. “Minha neta escutou ela chegar. Mas não foi receber a mãe porque estava tarde e no outro dia tinha aula. Em seguida dormiu e não ouviu nada”.

Ao encontrar a mãe, a neta ligou para avó, que estava em outra ligação. “Depois ela ligou para um primo que foi até lá. Em minutos minha filha mais velha chegou ao meu portão dizendo que ela havia sido encontrada na piscina de casa”.

Talita diz que foi até a residência na esperança de encontrar Luciane viva. “A gente pensa em acidente, mas nunca morte, eu jamais imaginava perder um filho”.

Aquele dia foi o mais difícil, os meses seguintes, os mais sofridos. “A gente fica pensando no que poderia ter feito. Ela havia me dito que ia se divorciar, mas não deu tempo”.

O ex-marido era ciumento, conta Talita. “Elas vinham se desentendo por causa da faculdade dela, ela cursava Direito na Facsul e ele tinha muito ciúmes, depois vieram brigas e eu disse que ela precisava tomar uma atitude”.

Apesar do sentimento de revolta que ainda não teve fim, dona Talita clama por justiça e, nesta sexta-feira, acontece o julgamento de Vagner Lopes, acusado de assassinar sua filha.

Ela diz que não sabe como vai reagir ao ver quem tirou de perto alguém que ela tanto amava. Mas espera por uma resposta. “Eu só quero que ele pague pelo o que ele fez”.

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