ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 24º

Comportamento

Tragédia que deixou Reginaldo sem andar, fortalece amor de 33 anos

Reginaldo levou quatro tiros após reagir a um assalto e sua esposa deixou o emprego para cuidá-lo

Alana Portela | 12/05/2019 07:54
O cachorro "neguinho" é distração de Reginaldo e da esposa (Foto: Paulo Francis)
O cachorro "neguinho" é distração de Reginaldo e da esposa (Foto: Paulo Francis)

Após reagir a um assalto e levar quatro tiros, o ex-pedreiro Reginaldo Gonçalves da Silva, 55 anos, perdeu o equilíbrio das pernas e hoje não consegue andar. Mas a tragédia fortaleceu a relação com Rosa Leia, 52 anos. Ela é doméstica e prova que o amor por ali vale na saúde e na doença. O casal está junto há 33 anos, mora no bairro Guanandi de Campo Grande e sobrevive também com valor de auxílio-doença.

“Ela é minha guerreira, temos um filho de 31 anos. Fica comigo aqui e ajuda muito, por isso faço o que for por ela. Deixo de comprar coisas que gostaria para que a madame tenha o que deseja. Recebo apenas o benefício que é salário mínimo, não dá pra muita, mas serve”, relata Reginaldo. 

A tragédia que mudou a vida do ex-pedreiro aconteceu em 2016, quando ele seguia para pagar as contas. “Naquele dia, sai do meu trabalho e voltei pra casa. Mas precisava pagar as contas, então sai de novo. Fui andando até o local, que estava a quatro quadras. No caminho, dois caras estavam em uma moto chegaram por trás e anunciaram o assalto, pensei que fosse brincadeira e ao me virar já levei dois tiros”, disse. “Foi horrível, dei uns passos pra frente, mas perdi o movimento das pernas e cai”, recorda.

Reginaldo chora ao lembrar de quando foi baleado (Foto: Paulo Francis)
Reginaldo chora ao lembrar de quando foi baleado (Foto: Paulo Francis)

Os disparos acertaram a coluna de Reginaldo que caiu de bruços no chão e levou mais dois tiros no ombro e nas costas. “Estava caído e mesmo assim eles atiraram mais. Depois fugiram, mas não me levaram um centavo”, lembra o ex-pedreiro chorando ao se recordar do ocorrido. No dia, Rosa Leia estava no trabalho e quando recebeu a notícia que o marido havia sido baleado, entrou em desespero.

“Fiquei desesperada, meu filho pediu pra eu manter a calma. Corri para a Santa Casa, queria saber como ele estava, fiquei pensando que fosse morrer e chorei. Depois o médico me chamou e falou que o Reginaldo estava fora de risco, que faria a cirurgia para ficarei tudo bem”, conta Rosa.

Reginaldo ficou quase dois meses internado e ao receber a notícia de que não poderia mais andar, teve que se conformar. “Tive que aceitar a minha condição quando o médico me disse isso. No momento que levei os dois primeiros tiros foi na coluna, perdi os movimentos e imaginei”, conta o pintor com lágrimas nos olhos. Apesar de ter perdido o equilíbrio das pernas, ele ainda tem uma muleta que usa para se apoiar quando precisa ficar em pé.

Reginaldo se apoia para mostrar o tiro que levou nas costas (Foto: Paulo Francis)
Reginaldo se apoia para mostrar o tiro que levou nas costas (Foto: Paulo Francis)

Depois que retornou para a casa, o pintor passa os dias em uma rede pendurada em um canto do quintal onde mora. É ali agora o passatempo, brincando com seu cachorro “neguinho”. “É ele que me acalma. Não tenho condições de fazer nada, não posso mais trabalhar fui obrigado a pedir o benefício do auxílio-doença, porque não tinha tempo de trabalho suficiente para entrar pelo INSS”, afirma.

A casa onde mora com a esposa é simples e pequena, feita de tijolos, mas sem reboco. O banheiro fica para o lado e fora, e o quintal tem várias árvores que foram plantadas pelo padrasto de Reginaldo. Enquanto passa o dia na rede, Rosa cuida da casa. Para não deixar o esposo solitário, no período da tarde prepara um café e senta-se com ele. A mulher olha para o ex-pedreiro com carinho e sorridente, e o amor é recíproco. “Não largo dela jamais. O nosso segredo é confiança e respeito. Vamos longe juntos”, se declara Reginaldo.

Rosa Leia prepara o café da tarde e leva par ao esposo na rede (Foto: Paulo Francis)
Rosa Leia prepara o café da tarde e leva par ao esposo na rede (Foto: Paulo Francis)

A esposa comenta da rotina em casa. “Tenho que ficar em casa. Trabalhei dez anos como doméstica, queria voltar a trabalhar por conta do dinheiro, mas não dá pra sair e deixá-lo aqui, sem condições. Ele não vai nem ao banheiro sozinho”, diz

Rosa faz questão de realizar almoço de domingo e reunir a família, para não deixar o esposo se sentir sozinho. “Nosso filho vai se formar em assistência social, é nosso orgulho. Então chamamos ele pra passar um dia com a gente e ver o pai”, explica.

À primeira vista - Reginaldo e Rosa Leia se conheceram na juventude, na época ela tinha 18 anos e ele 22, mas o amor foi à primeira vista. “Gosto muito dele, é meu amigo, parceiro, acostumamos viver juntos. Nos conhecemos em 1984, sempre moramos aqui no Guanandi. Naquele tempo, esperava dar 16h, que era o horário que eu retornava do serviço de ônibus, para me acompanhar até o portão de casa. Quando o vi me apaixonei”, lembra Rosa.

Ela conta que foi Reginaldo quem deu o primeiro passo. “Ele que teve iniciativa, depois passamos a namorar. Encontrávamos nos finais de semana, às vezes vinha na casa dele, ficamos namorando no quintal. No começo brigava bastante, não queria me levar para o futebol e tinha ciúmes porque usava shorts curtos, mas fomos entendemos. Hoje minha vida é ele”, afirma.

 

Rosa procura sempre estar perto no esposo quando ele está no quintal (Foto: Paulo Francis)
Rosa procura sempre estar perto no esposo quando ele está no quintal (Foto: Paulo Francis)
Nos siga no Google Notícias