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Comportamento

A felicidade de que embarca para começar o ano ao lado de amigos e da família

Ângela Kempfer | 31/12/2011 09:01
Antônio vai para Dourados, onde "é mais feliz".
Antônio vai para Dourados, onde "é mais feliz".

Depois de puxar assunto com qualquer um que sentasse ao lado no setor de embarques da rodoviária de Campo Grande, Antônio encontra alguém para contar histórias. Com a passagem comprada para Dourados, o senhor de 68 anos fala com vontade à jornalista. “Vixi filha, tem tanta coisa que já vivi”, comenta.

Baixinho e com sorriso aberto o tempo todo, ele é uma das figuras à espera do embarque na véspera de virada de ano. Vai para Dourados, passar o Réveillon com amigos. “É onde moram as pessoas que mais gosto. São amigos de 50 anos”, justifica.

O Natal foi só “com Deus”, reclama o pai de 2 filhos “criados”. “Cada um vai para um lado. Você vai ver quando as suas filhas estiverem do tamanho dos meus”, avisa.

Mas o ano novo vai ser mais divertido, aposta. Chegará na cidade onde diz ser mais feliz. “Adoro Dourados, vivi 40 anos lá, defendo com unhas e dentes”. Nas idas e vindas do interior, já arrumou até briga pela “moral” da cidade. “Estava cuidando a mala de uma mulher que vinha de Dourados e o guarda disse que precisava vistoriar porque a bagagem vinha de lá. Na hora perguntei: O que você tem contra Dourados”.

Ele conta que veio do Nordeste na década de 60 e em Dourados começou a tentar a vida em fazendas. “O desembarque foi no dia 20 de setembro de 1960”. Há 10 anos teve de mudar para Campo Grande, também em busca de serviço, mas a alegria ficou a quilômetros. “Só consigo me divertir lá”, explica, antes de decidir na casa de qual amigo ficará. “Tem um monte”.

Floripes e a neta Ana Paula, de 11 anos, também vão começar o ano longe. As duas saíram de um assentamento em Ribas do Rio Pardo para chegar antes do dia 31 a Umuarama (PR). De 7 netos, Ana foi a única que resolveu acompanhar a avó. “É minha companheira”, diz Floripes.

O pai tem problemas de coração e aos 82 anos a saúde preocupa a família. “Vou ficar com ele, não sei até quando eles vão estar com a gente”, comenta lembrando que a mãe já completou 84 anos.

O peão Edson, de 37 anos, desce sorridente do ônibus, cheio de pacotes de presentes. "São para meu povo, lá em Bauru".

Ele embarcou em Aquidauana e agora segue para São Paulo até com ventilador na bagagem. "Consigo ir só uma vez por ano, mas sempre arrumo um jeito".

Há 4 anos em Mato Grosso do Sul diz que não se arrepende da mudança para longe dos irmãos e dos pais e já tem planos para 2012. "Vou trazer minha gente pra cá".

Arnaldo e a esposa Elza retornam, depois de comemorar as conquistas do filho.
Arnaldo e a esposa Elza retornam, depois de comemorar as conquistas do filho.

No setor do desembarque, com uma agenda surrada nas mãos, Arnaldo tenta encontrar o telefone do compadre. Há 8 dias, ele e a esposa viajam para comemorar as festas ao lado da família.

Os dois saíram de uma fazenda, onde vivem há 35 anos. "A gente se conhece desde que se conhece por gente. Foi minha mãe quem tirou ela da barriga, quando nasceu. A gente morava em sítios vizinhos e minha mãe era parteira, saia por todo canto montada em um cavalo para fazer criança nascer"

Muito simples, com simpatia de alegrar à tarde, o senhor de 59 anos e a mulher Elza já passaram por Aquidauana, Campo Grande, Sidrolândia e agora vão para o distrito de Casa Verde, em Nova Andradina.

A melhor parada, no entanto, já ocorreu. O casal passou por Sidrolândia para comemorar a melhor notícia do ano. “Meu filho se formou em Matemática. Vai ser professor”, conta Arnaldo com o olho marejado.

A esposa continua o assunto, empolgada lembra que o filho Moisés, de 23 anos, conquistou o que nenhum outro conseguiu. “Nenhum quis estudar lá em casa. Eu nem sei escrever, só sei copiar. Imagine como é a felicidade de ver o filho com diploma”, sorri apontando para a agenda e a página onde está o número do celular do filho professor. “Olha o número dele aqui. Esse eu consigo encontrar”.

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