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Comportamento

Escola invicta entre melhores no Enem diz que aprovação não é só para ricos

Ângela Kempfer | 16/09/2011 08:00
Fotos: João Garrigó)
Fotos: João Garrigó)

De cinco turmas avaliadas anualmente pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), por 3 vezes a escola Bionatus ficou entre as 20 melhores do País. O colégio de “gente rica” (definição contestada pela direção) faz tudo, sem deixar para a família responsabilidades como tarefa de casa ou o estudo extra.

O título de primeiro lugar dentre todas em Mato Grosso do Sul em apenas 6 anos de existência empolga, mas já nem tanto. A escola prefere falar que é a melhor entre todas as das regiões Centro-Oeste, Norte e agora até do Sul.

Entender o título, que por anos consecutivos é conquistado, levou o Lado B à escola, localizada no Jardim dos Estados, bairro nobre de Campo Grande. Famosa não pelo Enem, mas por ter uma das mensalidades mais caras da cidade, o conceito que faz a diferença no Bionatus, na avaliação dos coordenadores, é o ritmo de estudo.

Os alunos ficam o dia todo no colégio, não param nem aos feriados e têm apenas três semanas de folga ao ano, já contando com as férias de julho. “Mas saem daqui e não têm mais nada para fazer em casa, só descansar”, argumenta a coordenadora Roseli Camargo.

“Mesmo quem não tem o perfil, entra aqui sem querer estudar, acaba pegando o ritmo gradativamente, empurrados pelos colegas”, avalia.

O custo é R$ 1,2 mil por mês, valor considerado justo pela escola, que tem 9 dos 20 professores exclusivos e garante dispensar a necessidade de qualquer cursinho ou custo extra para os alunos. “Não é uma escola de ricos. É uma escola para quem quer investir na educação e prioriza isso”, justifica a diretora pedagógica, Maristela Franco.

À questão sobre preparar para o vestibular sem o incentivo as vocações de cada um, Maristela responde com outra pergunta: “Mas o que é preparar para a vida? Não é ensinar responsabilidade, disciplina?”.

O modelo traz alunos de Chapadão do Sul, Corumbá, Rondonópolis (MT) e interior do Paraná.

A rigidez começa na hora de entrada, apesar de o uniforme admitir até bermuda e chinelo de dedos. Quem se atrasa por minutos perde toda a primeira disciplina do dia, com o agravante de que o tempo de aula dura uma hora e meia, quase o dobro das escolas convencionais, que é de 50 minutos.

“Quanto sai da minha antiga escola e vim para cá, os amigos falavam que eu era louco, mas não é tudo isso que eles falam não”, diz Felipe Gomes, de 17 anos.

Cabine de estudos, até às 21 horas para os mais estudiosos.
Cabine de estudos, até às 21 horas para os mais estudiosos.

No período da tarde, a presença é obrigatória, com a disciplina de Redação como carro chefe. A matéria de maior peso nos vestibulares e no Enem é também a maior preocupação na hora de emplacar estudantes nas melhores universidades do Brasil, como a USP.

Para ensinar a escrever bem, há reforço em conteúdos como interpretação de textos, raciocínio lógico e a implantação de disciplinas como Geopolítica e Atualidades do Enem.

A cada 15 dias, um simulado é feito aos sábados, e também compõe a nota bimestral.

A escola, onde a disciplina é comparada pela própria direção com a militar, também produz diferenciação de acordo com o desempenho. As turmas são divididas em A, B e C, com a pontuação dos alunos estampada já na entrada do prédio. Os piores vão para a C, mas a ascensão pode ser rápida.

“Fiquei duas semanas na C porque faltei ao simulado e minha nota geral caiu, mas agora já estou na A de novo”, explica Gilber Gouveia, de 17 anos.

Na sala dele, 80% pensavam em fazer Medicina quando entraram no Bionatus. No terceiro ano é assim, ou ser médico, talvez engenheiro, ou advogado. É como se fosse um desperdício estudar tanto para fazer um curso menos concorrido, como “Moda”, cutuca Gilber.

Beatriz Rache, também de 17, é uma das exceções, decidiu por Relações Internacionais ou Economia. “É o que eu quero, ao contrário da maioria”, diz.

Sobre a pressão pelo rendimento, o coordenador Jamal Aparecido dos Santos assegura que há limites. “A cobrança parte muito deles mesmo, mas quando vemos que os pais estão cobrando demais a gente logo avisa que o aluno está fazendo o máximo que pode, que é para ter calma”.

Na sala do terceiro ano A, as notas mostram um desempenho incrível. Com 97 pontos na redação, 93% das questões das provas respondidas corretamente.

Sala de aulas tem em média 50 alunos no 3º ano.
Sala de aulas tem em média 50 alunos no 3º ano.

Na conversa com os professores uma palavra atiça a curiosidade. Fora do horário de aulas, os meninos estudam em “cabines”. Com a fama de rigidez, logo se imagina os estudantes fechados em minúsculos espaços, como de centrais telefônicas, cheios de livros.

A previsão quase se confirma. Na verdade, são cabines como as de biblioteca, individuais, pequenas, onde os alunos se revezam sobre as apostilas, elaboradas pela própria escola. Alguns com fones nos ouvidos.

Os mais aplicados podem ficar até as 21 horas no local, sem incomôdo, mas também sem conversinhas ou passeio pelo pátio.

“Agora estamos construindo uma sede própria e os planos são ampliar para o Ensino Fundamental. Percebemos que muitos chegam sem a base e queremos mudar isso”, comenta o coordenador Jamal.

O conceito não é uma coincidência com o terceiro colocado no Exame no Estado, o Colégio Militar. As duas escolas estão no topo do ranking quando analisada a melhor pontuação. O Bionatus teve 718,25 pontos e o Colégio Militar 700,99. O segundo colocado em Mato Grosso do Sul foi o Colégio Alexander Fleming, com 717 pontos.

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