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Conversa de Arquiteto

Mato Grosso do Sul e Santa Catarina unidos por um português e uma cidade

Angelo Arruda | 02/03/2016 06:56
Vista aérea do porto.
Vista aérea do porto.

Dois estados – Mato Grosso do Sul e Santa Catarina – unidos por um português (Aleixo Garcia) e uma cidade (São Francisco do Sul). Essa é a nossa história dessa semana.

Recentemente fui realizar um sonho: conhecer São Francisco do Sul no norte catarinense, cidade histórica e litorânea. Fazia tempo que eu tinha essa vontade, desde que pesquisava sobre a arquitetura histórica de Mato Grosso do Sul em 2002 e me deparei com a história de Aleixo Garcia. Afirma-se que o primeiro europeu a pisar o chão sul-mato-grossense partiu de São Francisco do Sul, em 1524, para tentar alcançar as Minas do Peru, na primeira metade do século XVI.

Igreja N. Senhora da Graça
Igreja N. Senhora da Graça

Aleixo Garcia chegou ao Peru bem antes de Pizarro que iniciou sua conquista do Peru em novembro de 1532. Pois bem, essa história é pouco divulgada no nosso Estado. O prof. Gilson Martins, da UFMS, me disse certa vez que Aleixo é famoso no Paraguai e em Santa Catarina, mas aqui no MS, nem pensar.

Foi por meio dele que eu me aproximei da história de Santa Catarina e pude enxergar São Francisco do Sul. E me joguei prá lá para conhecer essa cidade do século XVI e a sua arquitetura e agora faço um pequeno relato. E mais: recentemente conheci o porto de Honfleur na França e ainda descobri que São Chico, como é chamada carinhosamente pelos catarinenses, tem uma ligação. Fiquei mais feliz ainda.

Contam os livros de história da cidade que em 1504 o navegador francês Binot Palmier de Gonneville aportou na região, marcando o início da primeira povoação catarinense e a terceira mais antiga do País. O veleiro L'Espoir, comandado por Binot de Gonneville, lançou âncoras nas águas tranqüilas da Baía da Babitonga, em 5 de janeiro de 1504. Tinha partido do porto de Honfleur, na França.

Mas foi a vinda do português Manoel Lourenço de Andrade, em 1658, que marcou o efetivo povoamento. Veio acompanhado de toda sua família, de numerosos escravos, e trazendo animais e equipamentos necessários ao desenvolvimento da agricultura e pastoreio do gado. Em 1660 a povoação foi elevada à categoria de Vila e em 1665 tornou-se oficialmente Paróquia. Nas décadas seguintes, a região foi fortemente influenciada pela iniciativa de outros empreendedores, com destaque para Gabriel de Lara, Domingos Francisco Francisques e Rafael Pires Pardinho.

Museu do Mar.
Museu do Mar.

São Francisco do Sul, conforme sua história registra, é a primeira povoação de Santa Catarina (1504), embora a sua fundação tenha ocorrido em 1847, onde o “pelourinho” do povoado foi erguido em 1649.

A igreja Matriz, Nossa Senhora da Graça(1650), e em 1658, a ainda pequena comunidade foi elevada a categoria de vila.

Nas ruas estreitas, nos casarios seculares, há um predomínio da arquitetura ibero - açoriana (a exceção é a estação da estrada de ferro, que ainda tem influência da colonização alemã, tão marcante em outras cidades de Santa Catarina).

São Francisco do Sul é uma linda cidade que visitei e me dei conta que lá tem o mais importante Museu do Mar do Brasil, com embarcações de todos os lugares, de rios e mares, cuja concepção é de um grande amigo arquiteto daquelas bandas, o Dalmo Vieira.

É uma visita obrigatória. Além de sua igreja, e de outros monumentos históricos, como as antigas instalações do Forte Marechal Luz, o Farol da ilha da Paz, as ruínas do Forte do Cabecinha, e de possuir um dos mais antigos portos do País.

Casarões na beira da baia.
Casarões na beira da baia.

Como toda cidade histórica de nosso imenso País, as heranças culturais podem ser conferidas nas festas típicas, nos costumes, na culinária, e, principalmente, na arquitetura.

Num passeio de umas duas horas pelo centro da cidade, é possível ficar deslumbrado pelas imagens dos casarões, igrejas e monumentos que, muito embora encontremos alguns bem conservados ou restaurados que preservam a memória dos tempos antigos, a cidade precisa, urgente, de uma ação pública em sua conservação, antes que tudo vire ruína histórica.

De qualquer forma, ela me lembra uma mistura de Corumbá com Recife. Bem linda.

Casarão do século XIX.
Casarão do século XIX.
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