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Conversa de Arquiteto

Na Campo Grande de 65 mil habitantes, a modernidade chegou com a verticalização

Ângelo Arruda | 05/10/2016 14:54
Edifício do SESI.
Edifício do SESI.

Os anos 60 marcam a trajetória da verticalização da cidade. Com 65 mil habitantes no ano de 1960, segundo o IBGE, Campo Grande já possuía mais habitantes que Cuiabá, a capital do Estado de Mato Grosso.

Esse crescimento populacional e econômico definiu as perspectivas da construção civil na cidade. Novos programas e necessidades sociais usam de tecnologia construtiva e normas urbanísticas mais rígidas, não davam mais espaço para o trabalho dos construtores práticos dos anos 20 e 30. A década era da modernização da construção civil.

Brasília é inaugurada no ano de 1960. A região Centro-Oeste, outrora espaço regional de pouca perspectiva desenvolvimentista e com baixos adensamentos populacionais, ganha investimentos federais através de planos e programas estratégicos de desenvolvimento.

O edifício de apartamentos constituía um modelo residencial urbano novo para Campo Grande e ganha impulso nesta década. Inicia-se com o Edifício Rio Branco, na Rua Barão do Rio Branco, em 1960, projeto e construção de Anees Salim Saad, com sete pavimentos. Logo depois, Marcelo Accioly Fragelli e Maurício Sued, projetam o Edifício Joselito, na mesma rua, em 1961. O projeto usa as janelas em fita graças ao recuo dos pilares e uma planta em forma de “ H”, com definição dos espaços funcionais bem resolvidos.

Em 1964, a cidade tem seu primeiro arranha-céu, o Edifício. Irmãos Salomão, mais conhecido como Galeria São José, situado na Rua 14 de Julho, um empreendimento misto – lojas comerciais e apartamentos, com 14 pavimentos e uma torre de empenas cegas sob uma base que ocupa todo o terreno. Logo depois são erguidos outros - os Edifícios Dona Neta e Independência, na Av. Afonso Pena, o Arnaldo Serra e o Conjunto Dom Aquino, na Rua Dom Aquino e o Edifício Sadalla, na Rua XV de Novembro, todos projetados por Anees Salim Saad. No mesmo período, Rubens Gil de Camillo e Mário Zocchio projetam os edifícios Palácio do Comércio, o Conjunto Itamaraty, o José Antônio Pereira, o Inah, na Av. Afonso Pena e o Conjunto Nacional, na Rua Dom Aquino, com a presença de vários elementos de arquitetura moderna, como os pilotis e os panos livres da fachada.

Ainda nos anos 60, o arquiteto Rubens Gil de Camillo projeta sua primeira obra em Campo Grande, o edifício do Serviço Social da Indústria – SESI, um edifício cúbico na Av. Afonso Pena, com protetores solares de concreto em sua fachada oeste e norte.

Restaurante Universitário
Restaurante Universitário

A arquitetura da escola carioca ainda fazia presença em Campo Grande e em 1965, é inaugurada a Estação Aeroviária de Campo Grande, edifício projetado por arquitetos do Ministério da Aeronáutica no Rio de Janeiro, construída pela Construmat Engenharia Ltda. e o edifício Rachid Neder, na esquina da Rua 13 de Maio com a Rua Barão do Rio Branco, projeto de Jacy Hargreaves, Hélio Brasil e Reynaldo Fanzeres, formados na Faculdade Nacional de Arquitetura-RJ.

Com a vitória do engenheiro da Noroeste do Brasil, Pedro Pedrossian, para o Governo do Estado em 1965, se inicia a fase da presença e difusão da arquitetura paulista em Campo Grande, através do arquiteto Oscar Arine, Assessor Especial do Governo de Mato Grosso, em Cuiabá. Oscar Arine projeta o Fórum da cidade de Três Lagoas e diversas escolas para cidades de Mato Grosso.

Em 1967, a ideia de criar uma Universidade Estadual, em Mato Grosso, ganha corpo. O Plano Diretor da futura universidade é entregue aos arquitetos paulistas Sérgio Zaratin e Willian Munford, inclusive os projetos de arquitetura dos edifícios escolares e administrativos. O Teatro Glauce Rocha, o Restaurante Universitário e o hospital são projetados por Armênio Iranick Arakelian, esse último junto com Oscar Arine. Avedis Balabanian projeta o Parque Aquático. Para completar o conjunto arquitetônico da Ufms, o estádio de futebol é projetado por Cyríaco Maymone Filho e o Ginásio de Esportes pelo arquiteto Jurandir Santana Nogueira, anos depois.

Antigo Hotel Campo Grande.
Antigo Hotel Campo Grande.

A arquitetura desse conjunto universitário vem expressar, em Campo Grande, a linguagem do movimento moderno da escola paulista, do racionalismo e do brutalismo, com o uso maciço do concreto aparente, de protetores solares, da modulação estrutural e das amplas aberturas de vidro.

Outra obra projetada pelos arquitetos paulistas trazidos por Oscar Arine foi o Centro Educacional Lúcia Martins Coelho, de Raymundo de Paschoal, Haron Cohen, Antonio A. Foz e LaonteKlawa, de 1969.

Em 1966 e 1967, sinais da escola carioca em duas outras obras modernas edificadas na cidade ainda estão presentes: o Hotel Campo Grande, dos arquitetos Alberto Botti e Marc Rubin e o Fórum da cidade, atual Centro Cultural José Otávio Guizzo, de autoria do arquiteto João Thimóteo da Costa, de Cuiabá, obra que foi construída também em Corumbá. Empenas cegas e inclinadas, estrutura independente e outros elementos estão presentes nestes edifícios.

Edificio do INSS.
Edificio do INSS.

Em 1968, a empresa Hidroservice Engenharia Ltda. elabora o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Campo Grande, com novas diretrizes de estrutura urbana, uso do solo e sistema viário.

Nos anos 70, a cidade já com mais de 130 mil habitantes, continua apresentando altas taxas de crescimento demográfico. A riqueza econômica do sul do Estado de Mato Grosso, com a modernização da agricultura e da pecuária em curso, contribui para a continuidade da verticalização da cidade. Dessa vez são as incorporações dos edifícios da empresa Construmat Engenharia Ltda., cujos projetos, em sua grande maioria, foram elaborados pelos Arquitetos Celso Costa e Eudes Costa tais como os edifícios Gemini, Concorde, Polaris, Vanguard e Apolo, todos com 12 ou mais pavimentos.

O escritório Celso e Eudes Arquitetos Associados projeta, ainda nessa década, outros edifícios modernos, sendo um deles o Hospital da Santa Casa de Misericórdia, com 600 leitos, o maior da região Centro-Oeste, além do Hospital Pró-Matre, que possui uma vedação frontal de cobogós de concreto, e as sedes das instituições de ensino da Moderna Associação Campo-grandense de Ensino – MACE e o Centro de Ensino Superior Prof. Plínio Mendes dos Santos – CESUP, atual Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP, estes últimos, edifícios de planta circular, tipologia bastante usada no modernismo.

A arquitetura local se destaca nas obras projetadas por arquitetos da escola carioca, destacando-se o Edifício Sede do INSS, projetado por Carlos Henrique de Oliveira Porto; o Colégio Joaquim Murtinho de Nilson Azevedo e Gustavo Arruda, de 1971; o Edifício das Repartições Públicas Estaduais – ERPE, atual Memorial da Cultura e da Cidadania, de Luís Paulo Conde e Flávio Marinho Rego, de 1972; e outros da escola paulista, como a residência de Roberto Nachif, de Siegbert Zanettini; a residência de Antônio Barbosa de Souza de João Batista Vilanova Artigas; o edifício de escritório das Centrais Elétricas de Mato Grosso onde funciona hoje o Museu de Arte Contemporânea, de Eurico Prado Lopes; os Edifícios Antares e Cosmos, de João Carlos Bross e Ricardo Leitner, todos de 1974 e a sede do Unibanco, projetada por Sidônio Porto, em 1978.

Edificio do Antigo ERPE
Edificio do Antigo ERPE

São ainda dessa década os projetos do Paço Municipal de Campo Grande, com a sede da Prefeitura e da Câmara de Vereadores, projetados por Cyríaco Maymone Filho em 1971, edifícios de planta livre, fachada livre e uso abundante de concreto aparente em formas geométricas; a Capela do Hospital São Julião, de Jurandir Santana Nogueira, de 1972; a agência central da Caixa Econômica Federal, de Hélio Baís Martins, de 1973 e o Edifício General Etchengoyen, de Jurandir Santana Nogueira, esses profissionais residentes na cidade.

Nesses 30 anos de arquitetura moderna em Campo Grande (1952-1982), há uma visível e clara alteração das linguagens aplicadas nos edifícios aqui referenciados.

De um lado a escola paulista, com manifestações brutalistas em diversos edifícios tais como o Museu de Arte Contemporânea, a residência de Antônio Barbosa de Souza, os edifícios do Campus da Ufms e do Parque dos Poderes, dentre outros, com uso do concreto aparente e janelas envidraçadas em grande escala.

Do outro lado, a arquitetura elaborada com base na linguagem da chamada escola carioca moderna, de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Dessa escola podemos destacar os edifícios do Colégio Maria Constança de Barros Machado, a sede do INSS, o Centro Cultural José Otávio Guizzo e o SESI, como alguns dos edifícios públicos; as residências de Hélio Baís e de Plínio Martins e de Koei Yamaki; os edifícios residenciais Rachid Neder e Joselito e os edifícios comerciais e de serviço do Hotel Campo Grande e do Clube Libanês, projetos funcionalistas com diversos elementos de arquitetura moderna carioca, tais como brises soleil, empenas cegas ou inclinadas, uso de azulejos decorativos, pilares de seção circular, fachadas livres e elementos compositivos formais como a uni volumetria dominante e a utilização de formas geométricas puras na criação dos volumes.

Residência modernista de Artigas em Campo Grande.
Residência modernista de Artigas em Campo Grande.
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