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Faz Bem!

Oficina prova que aquele alimento que você joga no lixo merece uma chance

Aprenda a fazer um bolo de banana com cobertura, feito por ONG que vai aos bairros falar de desperdício

Thailla Torres | 27/07/2018 08:35
Que tal um bolo de banana feito apenas com a casca? É possível reaproveitar tudo. (Foto: Thailla Torres)
Que tal um bolo de banana feito apenas com a casca? É possível reaproveitar tudo. (Foto: Thailla Torres)

Falta de conhecimento e de criatividade na hora de preparar os alimentos levam muitas pessoas, diariamente, a jogar comida fora. O dado é ainda mais preocupante em uma das regiões mais pobres de Campo Grande, que sofre com a falta de alimentação. Em razão disso, um instituto da cidade abriu oficina para ensinar moradores, de maneira prática, a reaproveitar alimentos antes de irem para o lixo.

O primeiro passo é conhecer as propriedades do ingrediente e em seguida descobrir alternativas para aquela fruta ou legume que, visualmente, não poderiam mais ser comercializado. "Aquele tomate muito maduro e amassado, aquele abacaxi que está mais escuro por fora, a banana muito madura e as folhas verdes que estão murchas, tudo isso pode ser reaproveitado e fazer parte da alimentação das pessoas", explica Igor Augusto Silva, coordenador do Instituto Maná do Céu, ONG que há 10 anos desenvolve projetos sociais na periferia para atender famílias.

Abacaxi que seria jogado fora porque, visualmente, não está bom para ser comercializado. (Foto: Thailla Torres)
Abacaxi que seria jogado fora porque, visualmente, não está bom para ser comercializado. (Foto: Thailla Torres)
Bolo de banana pronto.
Bolo de banana pronto.

Antes da aula começar um grupo de pessoas fala de desperdício e ações de cidadania, em seguida, duas cozinheiras de mão cheia ensinam o que é possível fazer com aquele tomate amassado, por exemplo. "Muita gente joga fora, mas a gente pode fazer molho de tomate", explica dona Efigênia Sergia, de 55 anos.

Ela mostra como cozinhá-lo até alcançar uma textura própria para molho. Depois é possível temperar a gosto e levar a receita para a geladeira. "Está pronto um molho sem conservantes e muito saboroso. Além de ser uma alimentação mais saudável, a gente reduz o desperdício", completa Igor.

Um bolo de banana também vira novidade. Ilza Pereira, de 47 anos, que começou como voluntária no instituto ensina como usar a casca do bolo na receita. "Sabe aquela banana preta que muita gente deixa de lado por achar que não está boa? Ela serve para fazer o bolo no liquidificador. Já a fruta você usa com uma calda para fazer a cobertura", explica.

A receita deu certo, com 4 bananas descascadas, 2 ovos, 2 xícaras de leite, 2 colheres de margarina, 2 xícaras de açúcar, 3 xícaras de farinha de rosca e 1 colher de sopa de fermento em pó. A cobertura leva 1 xícara de açúcar, 1 xícara e meia de água, 4 bananas e 1 limão.

Ilza ainda demonstra o que fazer com folhas verdes. "É possível fazer um suco detox", diz.

Como tudo começou - O instituto começou há 10 anos, no Nova Bahia, pelos sonhos do engenheiro eleétrico e chef de cozinha Ivan Lúcio Rodrigues, conta Igor. "Era um café da manhã que se tornou sopão distribuído para a comunidade. Mas via-se que o sopão não resolvia um problema social. Pensando nisso, Ivan teve a ideia de legalizar a ONG para conseguir recursos e colocar outros projetos em prática".

Pão quebrado que também é reaproveitado no instituto.
Pão quebrado que também é reaproveitado no instituto.
Ivan à esquerda é o idealizador do instituto. (Foto: maná do Céu)
Ivan à esquerda é o idealizador do instituto. (Foto: maná do Céu)

As primeiras ações da família foi em parceria com Instituto de Desenvolvimento Evangélico que apadrinhou a instituição para que ela começasse a caminhar. O Maná então passou a atuar no contra turno escolar, com projetos de capacitação e ressocialização. Mas com o tempo foi preciso definir bem o público. Desde então o instituto atende famílias e, a partir de projetos, transforma suas vidas.

Em 2014 a comunidade ganhou o primeiro edital da Petrobras de R$ 600 mil para investir em projetos. Após dois anos o instituto foi convidado e foi contemplado com o valor R$ 1,9 milhão. Foi a chance de levantar acampamento e migrar para uma nova região da cidade em busca de transformar a vida de famílias.

O novo endereço é o Jardim Canguru, onde o instituto atende dezenas de famílias. Um dos objetivos resolver a fome da comunidade. "Atendemos crianças com atividades de cidadania, trabalhamos com a questão da fome e com objetivo de reaproveitar maior parte dos alimentos, de um jeito acessível e saboroso", explica Igor.

E com intuito de construir vínculo com a comunidade, o grupo constituiu Feira Solidária. "Uma vez por semana fazemos o cadastro das famílias e distribuímos alimentação saudável para elas. Mas o diferencial é que com esse cadastro as assistentes sociais conseguem acompanhar os perfis das família e dar assistência a cada uma delas por meio de projetos".

A realidade do bairro não é fácil, muitas famílias vivem em condições extremas de pobreza e Igor já presenciou cenas de um problema social que assola muitas comunidades: a fome. "Já vi criança pegar o macarrão com a mão e colocar no bolso para levar para casa e dividir com os irmãos. Ela é uma das situações, então o instituto veio para ajudar essas pessoas e mais do que doar alimentos, o objetivo é capacitar essas pessoas para que elas possam mudar a realidade da famílias delas".

O instituto aceita doações de alimentos e principalmente voluntários para atuar nos projetos. Além da oficina de reaproveitamento, a próxima etapa será ensinar como fazer sorvete com as frutas que há em casa, antes que elas sejam descartadas. A programação e os eventos são divulgados pelas redes sociais.

Frutas reaproveitadas viram lanche para as crianças.
Frutas reaproveitadas viram lanche para as crianças.
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