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Preconceito por conta do peso não apagou sonho de Chirlene em arrasar na dança

Nos palcos ela ganhou confiança, coragem e liberdade que hoje inspiram outras mulheres

Thailla Torres | 30/11/2017 07:43
Chirlene tinha 13 anos quando se apaixonou pela dança. (Foto: Arquivo Pessoal)
Chirlene tinha 13 anos quando se apaixonou pela dança. (Foto: Arquivo Pessoal)

A professora Chirlene Mota da Silva, de 33 anos, decidiu assumir para o mundo a paixão pela dança. Mas ela sofre, até hoje, uma pressão enorme em relação ao peso. Nos palcos ela ganhou confiança, coragem e liberdade, que hoje inspiram mulheres. Como esse processo de superação ocorreu? Ela descreve aqui no Voz da Experiência.

(Foto: Arquivo Pessoal)
(Foto: Arquivo Pessoal)

Nasci em Porto Velho, descendente de povos indígenas e parte da infância vivida em aldeias, com muito orgulho. Aprendi sobre a cultura, linguagens e tradições da comunidade enquanto meu pai, funcionário da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), se dedicava a entidade protegendo e promovendo o direitos dos povos. Enquanto isso, na escola, nascia um sonho quase inimaginável: o de crescer na vida com a dança.

Eu tinha só 13 anos quando comecei a dançar na escola. Era o tempo do "É o Tchan", em que tentava imitar todas as coreografias que assistia na TV. E por incrível que pareça, consegui. Comecei a participar de competições de dança, ganhei em primeiro lugar, até que surgiu a chance de morar no Rio de Janeiro e foi lá que conheci verdadeiramente a dança de salão.

Foi uma paixão à primeira vista. Não tive dúvidas que minha vida seria baseada na dança, até que o sonho precisou ser interrompido para me dedicar a família. Engravidei e fiquei 10 longe das academias. A ausência do ritmo me levou a depressão, por isso decidi voltar a dançar e foi nesse momento que a luta contra o preconceito começou. 

Meu foco sempre foi a dança de salão e quando tive a oportunidade de vir morar em Campo Grande, iniciei as aulas no Círculo Militar e aqui, senti o primeiro impacto em relação ao meu peso. 

Um dia decidi ir em um baile com uma amiga para dançar, fomos como iniciantes, mas a procura de se jogar na pista como qualquer outra pessoa. E acredite, ficamos sentadas do começo ao fim do baile. Ninguém chamou a gente para dançar. Só levantamos para dançar uma com a outra.

Sim, o preconceito na dança existe! Por ser gordinha, por alguém não te achar bonita ou acreditar que sua aparência é capaz de limitar seu desempenho.

Confesso que no primeiro impacto, sofri ao perceber que ficava excluída por alguns cavalheiros e até pensei em desistir. Mas não podia deixar que uma ou três pessoas apagassem o meu sonho de dançar e me realizar profissionalmente na dança.

Foi o que me motivou a continuar indo às aulas. Depois decidi aprender os passos do cavalheiro, justamente para dançar e incentivar outras mulheres que geralmente não eram chamadas na hora do baile. Por que a gente que dança, percebe quando o outro não está dançando com vontade e isso é horrível.

Quatro anos depois de voltar a dançar, entendi o ditado atual: "O jogo virou, não é mesmo?". Por que hoje tem homens que não dançavam comigo por eu ser gordinha e agora querem dançar.

Isso prova o quanto a dança transforma. É uma profissão e estilo de vida que não sou capaz de viver sem. Sim, ainda sofro preconceito por conta do peso, vejo nos olhares ou quando alguém não aceita dançar comigo. Mas eu acredito que principalmente a mulher é capaz de se transformar através da dança e descobrir que ela pode tudo, independente do peso ou qualquer outro padrão estabelecido. Meu objetivo é mostrar que todo mundo é capaz e não se pode desistir por tão pouco".

Chirlene dá aulas de dança de salão na Escola Estação da Dança, que fica na Cândido Mariano, 474.

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