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Sabor

O sobá escancarado de hoje já foi vendido entre cortinas de lençol em 1965

Paula Maciulevicius | 12/08/2013 06:52
Ainda entre os lençóis, foi quando os amigos da família, brasileiros, tomaram gosto pelo prato que a vergonha foi saindo do esconderijo. (Fotos: Marcos Ermínio)
Ainda entre os lençóis, foi quando os amigos da família, brasileiros, tomaram gosto pelo prato que a vergonha foi saindo do esconderijo. (Fotos: Marcos Ermínio)

Quem nunca provou ou trouxe gente de fora para o programa tipicamente campo-grandense, de ir à feira e comer sobá? O Lado B até que tentou, mas não teve cozinheira que revelasse quantas calorias tem no prato que é a cara de Campo Grande. Acontece que quem come pouco se importa mesmo com o que vai pesar depois na balança.

A feirante Jadi Tamashiro, 47 anos, está entre as barracas mais conhecidas na Feira Central. Há 15 anos ela trocou a copiadora onde trabalhava pela barraca dos tempos de rua, na Abrão Julio Rahe. Apanhou muito, mas hoje admite, com modéstia a parte, que faz e vende o melhor sobá de Campo Grande.

Ela conta que o segredo está no sabor do caldo, feito de pucheiro, com a carne cozinhando por horas a fio no fogão. A receita vinda da Ilha de Okinawa já foi bem abrasileirada. O tradicional mesmo tende a ser adocicado, o que na opinião da Jadi, seria insosso para o paladar do campo-grandense.

O macarrão é caseiro e feito na própria fábrica da família, o caldo vem do pucheiro e em seguida é a carne escolhida pelo cliente, cebolinha e tiras de ovos. O tempo médio, dependendo do movimento, é de que o prato chegue a mesa entre 5 e 10 minutos depois de pedido, informou a feirante.

á 15 anos ela trocou a copiadora onde trabalhava pela barraca dos tempos de rua.
á 15 anos ela trocou a copiadora onde trabalhava pela barraca dos tempos de rua.

Vivendo de sobá e porções três dias por semana, o Lado B pergunta: e não enjoa não? “A gente? Não. Por exemplo, eu vou em sobaria e peço sobá para experimentar e saber se é igual o nosso. Até hoje não achei melhor. A gente gosta mesmo”, diz.

Mais sul-mato-grossense do que paranaense, Magda Grellmann, de 44 anos, comia o sobá de toda semana. Moradora de Campo Grande há mais de 30 anos, ela tem quase certeza que este foi o primeiro prato típico que ela comeu aqui no Estado. “Eu faço questão de comer um sobá, no frio porque ele é quentinho e no verão, também é gostoso, acho um prato leve”, diz.

A analista de sistemas Juliana Pacheco, de 34 anos, veio do Rio de Janeiro pra matar as saudades da família e também do sobá da feira. Ela morava em Campo Grande, mas depois que casou se mudou para o estado carioca. O resultado é que a cada visita aos familiares, a feira também entra no roteiro. “O sobá é muito bom e eu recomendo”, comentou.

Cada visita aos familiares, a feira também entra no roteiro da analista de sistemas.
Cada visita aos familiares, a feira também entra no roteiro da analista de sistemas.
Filha do precursor do sobá na feira, Cristina lembra que na época não houve registros, apenas testemunhas.
Filha do precursor do sobá na feira, Cristina lembra que na época não houve registros, apenas testemunhas.

Hoje ninguém como escondido, mas quando o prato começou a ser servido a tradição era comer entre lençóis. Uma espécie de cortina para tampar os envergonhados que não sabiam usar o hashi. Vindo da Ilha de Okinawa, quem tornou o sobá comercial foi Hiroshi Katsuren, o primeiro a vender o produto na feira, em 1965.

“Na época não tinha nada de registro, não foi tirada foto, sou testemunha porque ajudei meu pai”, conta a comerciante Cristina Katsuren Nakasato, de 61 anos. A ideia não era de trazer a culinária de Okinawa para a Capital sul-mato-grossense e se tornar símbolo da cidade. Longe disso, Cristina ressalta que foi apenas uma questão de sobrevivência.

“Hoje a gente fica orgulhoso. Meu pai morreu, mas minha mãe ainda é viva”, completa.

Ainda entre os lençóis, foi quando os amigos da família, brasileiros, tomaram gosto pelo prato que a vergonha foi saindo do esconderijo e hoje está como está, descaradamente o prato mais gostoso de Campo Grande.

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