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Meio Ambiente

No Dia Mundial do Pantanal, alerta é para a preservação da fauna e flora

Caroline Maldonado | 02/02/2015 10:41
Apenas 11% da Bacia do Alto Paraguai no Brasil estão sob o amparo da lei (Foto: Divulgação/Bento Viana)
Apenas 11% da Bacia do Alto Paraguai no Brasil estão sob o amparo da lei (Foto: Divulgação/Bento Viana)
Arara-azul é cada vez mais vista longe do Pantanal, em zonas urbanas de cidades como a Capital de MS, Campo Grande (Foto: Cleber Gellio)
Arara-azul é cada vez mais vista longe do Pantanal, em zonas urbanas de cidades como a Capital de MS, Campo Grande (Foto: Cleber Gellio)

O Dia Mundial das Áreas Úmidas é comemorado nesta segunda-feira (2), mas para a maior planície inundável do mundo, o Pantanal, a data serve mais como alerta do que para comemoração. Com 148 mil km² de extensão e uma biodiversidade ainda não completamente mapeada, o bioma foi decretado patrimônio nacional, pela Constituição Federal de 1988, e patrimônio da humanidade e reserva da biosfera, pelas Nações Unidas, em 2000.

Tanto reconhecimento não tem sido suficiente para evitar ameaças que colocam o destino do Pantanal e das demais regiões úmidas do mundo em risco. De 1900 para cá, cerca de 64% dessas áreas já despareceram, segundo pesquisadores que integram a Convenção de Ramsar, um tratado que estabelece ações e cooperação entre mais de 150 países para uso racional desses recursos, criado na cidade iraniana de mesmo nome, em 1971.

Na lista das mais de mil espécies da fauna brasileira que correm risco de extinção, divulgada pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente), três animais são do Pantanal sul-mato-grossense. São eles, a arara-azul, o tamanduá-bandeira e a onça-pintada. Mas esses, não são os únicos que parecem se sentir ameaçados. Em setembro de 2014, uma onça parda buscou abrigo na obra de um residencial na Capital, Campo Grande, que fica a mais de 100 quilômetros do portal do Pantanal. O atrativo agrada os olhos, mas perturba a consciência da população, lembrando que a situação é lamentável.

Vilões - Consequências do manejo inadequado para agropecuária, crescimento urbano e obras como rodovias, hidrovias e hidrelétricas são os monstros que podem minguar o Pantanal ano após ano, de acordo com estudo feito por 30 pesquisadores do Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina, realizado pelo WWF-Brasil, TNC e Centro de Pesquisas do Pantanal, com apoio de HSBC e Caterpillar.

Base da economia sul-mato-grossense, a agropecuária é risco para o bioma, pois causa desmatamento, erosões e sedimentação em fazendas que não obedecem as leis ambientais. Esses casos vão parar na justiça, que determina TACs (Termos de Ajustamento de Conduta), por diversas vezes, descumpridos pelos produtores que priorizam a lucratividade e a atenção a demandas nacionais e externas, sem pensar no amanhã. Para complicar a situação, o crescimento populacional, além de obras de infraestrutura, podem alterar o regime hídrico do Pantanal.

De acordo com a WWF-Brasil, dos 370 mil quilômetros quadrados da Bacia do Alto Paraguai no Brasil, que inclui todo o Pantanal e parte do Cerrado, cerca de 2 mil Km² foram desmatados desde 2010. Restam ainda 85,7% da vegetação original na planície pantaneira e apenas 40% do planalto, áreas altas da bacia onde encontra-se o Cerrado.

Onça parda, antes vista apenas no Pantanal e outras regiões de floresta nativa, buscou abrigo em condomínio da Capital sul-mato-grossense, em setembro de 2014 (Foto: Marcelo Calazans)
Onça parda, antes vista apenas no Pantanal e outras regiões de floresta nativa, buscou abrigo em condomínio da Capital sul-mato-grossense, em setembro de 2014 (Foto: Marcelo Calazans)

Riscos - Cadeias essenciais ao desenvolvimento econômico do país, na visão do setor produtivo, ocupam cada vez mais novos espaços. A pecuária é predominante, mas vem perdendo espaço para a agricultura, que cresce sobre antigas áreas de pastagem. As terras plantadas com eucalipto aumentaram em 22%, segundo o estudo, inclusive sobre áreas antes ocupadas por agricultura e pastagens. Algumas culturas, como a soja, têm aumento de área todos os anos, embora produtores busquem aumentar a produtividade sem ter que expandir a lavoura.

O coordenador do programa Cerrado-Pantanal, do WWF-Brasil, Júlio César Sampaio, lembra ainda os estudos prévios para licenciamento de hidrelétricas no Estado. Esses projetos só não avançam rapidamente em Mato Grosso do Sul graças a intervenções do MPF (Ministério Público Federal), que se atenta para preservação tanto ambiental como de povos tradicionais.

Segundo o pesquisador, apenas 11% da bacia estão sob o amparo da lei, por isso implementar a adoção de boas práticas de produção, como ações para a conservação de água e solo, o manejo e recuperação de pastagens e a remuneração pelos serviços ambientais, devem ser prioridades dos governos. "Nós apoiamos a certificação de 120 mil hectares com pecuária orgânica no Mato Grosso do Sul, produzida com critérios de responsabilidade socioambiental e remunerando a produção sustentável no Pantanal. É preciso dar escala a essas experiências", comenta.

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