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Meio Ambiente

Órfã do fogo: Fadinha volta ao Pantanal após ser treinada por ‘mãe’ veterinária

Resgatada com apenas 3 meses no corpo da mãe, que foi atropelada fugindo do incêndio, animal foi solto ontem

Por Gabriela Couto | 20/03/2024 09:36
Tamanduá-bandeira Fadinha com radiocolar de monitoramento por GPS após ser solta na natureza, nesta terça-feira (19) (Foto: Instituto Tamanduá)
Tamanduá-bandeira Fadinha com radiocolar de monitoramento por GPS após ser solta na natureza, nesta terça-feira (19) (Foto: Instituto Tamanduá)

Um exemplo da força e resiliência da natureza, Fadinha, a tamanduá-bandeira que foi resgata filhotinha em 2021, ganhou o mundo nesta terça-feira (19), solta em Aquidauana após longo tempo de treinamento. Ela foi encontrada agarrada ao corpo da mãe, vítima de atropelamento. Na ocasião, o animal tinha apenas três meses de vida e estava no dorso da genitora, que tentava fugir de um incêndio florestal, perto de Terenos.

Foi preciso a ajuda de várias instituições até que a soltura feita ontem se concretizasse. Resgatada pela PMA (Polícia Militar Ambiental), a tamanduá passou pelos primeiros cuidados no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres). Após um mês, ela foi encaminhada para o projeto Órfãos do Fogo, do Instituto Tamanduá, e solta na Pousada Águape, em Aquidauana.

Ainda filhote, sendo carregada por uma das 'mães' veterinárias que ensinaram a tamanduá a ser independente (Foto: Instituto Tamanduá)
Ainda filhote, sendo carregada por uma das 'mães' veterinárias que ensinaram a tamanduá a ser independente (Foto: Instituto Tamanduá)

Lá, ela ganhou uma ‘mãe’ veterinária. A equipe que faz a reabilitação da espécie se reveza a cada duas horas para dar mamadeiras aos pequenos. Um filhote de tamanduá em vida livre tem uma ligação parental com a mãe no começo da vida muito forte. As profissionais tiveram que substituir todo o papel que a genitora teria ao ensinar o filhote a ser independente.

“A Fadinha passou pela adaptação, mamadeira, depois a introdução alimentar no potinho, para perder o vínculo com a mamadeira. Aí fazemos adaptação com ração com cupinzeiro e eles vão ficando mais aptos a ficarem sozinhos. O processo demora um ano e meio de treinamento e acompanhamento do crescimento na nossa base”, conta a médica veterinária e bióloga presidente do Instituto Tamanduá, Flávia Miranda.

O nome do animal foi escolhido em votação na internet, na época das Olimpíadas. Dentre as opções estava a homenagem para a skatista Rayssa Leal, a "Fadinha". Depois de ser considerada pronta para ser reintroduzida na natureza, a tamanduá foi solta e permanece próxima à base onde cresceu neste primeiro dia. Ela será monitorada por dois anos com um rádio-colar.

“A Fadinha é um doce de tamanduá. Uma guerreira que conseguiu sobreviver longe da mãe. Os tamanduás existem há 65 milhões de anos e são exclusivos da América Latina. São tão importantes como a onça, a anta, os jacarés e todos os outros animas. Precisamos preservar a nossa fauna”, acrescentou.

Médica veterinária e bióloga presidente do Instituto Tamanduá, Flávia Miranda, segurando filhote de Xenarthras (Foto: Instituto Tamanduá)
Médica veterinária e bióloga presidente do Instituto Tamanduá, Flávia Miranda, segurando filhote de Xenarthras (Foto: Instituto Tamanduá)

O projeto Órfãos do Fogo conta com a parceria do governo do Estado, por meio da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação). Até o momento, 15 tamanduás já foram reintroduzidos no Pantanal. Outros quatro seguem em treinamento para serem soltos.

Sede nova – Nesta sexta-feira (22), será inaugurada, às 18h, a sede do Instituto Tamanduá em Campo Grande. O local na Rua Paraíba será a matriz administrativa, lojinha e espaço cultural para divulgação da espécie.

O momento é muito celebrado pelos pesquisadores que integram projetos de conservação. “Viemos para o Pantanal sul desde 2009 e como fui criada aqui no Estado, tenho uma ligação afetiva muito forte com o bioma. Estou muito feliz de voltar para casa após 30 anos e poder dedicar toda minha energia ao Pantanal”, acrescentou.

O Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil é uma Organização Não Governamental que surgiu em 2005 e tem hoje uma equipe multidisciplinar que trabalha diretamente com as espécies de Xenarthra brasileiros e seus habitats, junto a experiências em projetos de conservação e parcerias com instituições em diversos países, contribuindo para o comprometimento, integridade e qualidade do seu trabalho em prol da conservação.

São mais de 18 anos de pesquisas e neste período identificaram e descreveram sete novas espécies de tamanduás e preguiças que só ocorrem no Brasil e até então eram desconhecidos da ciência.

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