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Meio Ambiente

Pesquisa mostra força de recuperação e aumento das onças após incêndios e seca

Cientistas dos EUA e Brasil percorreram Pantanal e encontram refúgio climático de onças após incêndios

Por Ângela Kempfer | 16/07/2025 10:12


RESUMO

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Um estudo publicado na revista Global Change Biology revelou a notável capacidade de recuperação das onças-pintadas no Pantanal após os incêndios de 2020 e períodos de seca extrema. A pesquisa, conduzida por cientistas brasileiros e norte-americanos, identificou um aumento populacional desses felinos em áreas protegidas e alagadas. O estudo, realizado no Pantanal Norte, em uma área de 14.851 hectares em Mato Grosso, demonstrou que as onças não apenas sobreviveram às adversidades como também expandiram sua população. A pesquisa destacou ainda uma adaptação alimentar interessante: as onças da região desenvolveram preferência por presas aquáticas, como peixes e jacarés, reduzindo a pressão sobre mamíferos terrestres.


A força de recuperação das onças-pintadas no Pantanal, um dos ecossistemas mais ricos e vulneráveis do Brasil, foi objeto de estudo publicado na revista científica Global Change Biology, que trouxe revelações importantes sobre como essas grandes predadoras lidam com as perturbações causadas pelas mudanças climáticas.

A pesquisa, realizada em colaboração entre cientistas brasileiros e norte-americanos, focou nos impactos das queimadas e da seca extrema no Pantanal, e os resultados indicam a capacidade dessas onças em se adaptar e prosperar em meio a condições adversas.

Em 2020, o Pantanal foi devastado por incêndios de grandes proporções, seguidos por uma seca prolongada, que impactaram duramente a fauna e flora da região. Em 2024, novamente os animais sofreram com as queimadas. No entanto, o estudo identificou um aumento na população de onças-pintadas em áreas protegidas e alagadas, conhecidas por abrigar a maior densidade desses animais no mundo.

Para os pesquisadores, isso sugere que essas regiões funcionam como refúgios climáticos, oferecendo uma estabilidade ecológica que amortece os efeitos de eventos climáticos extremos.

A área objeto da pesquisa fica no Pantanal Norte, em Mato Grosso, de cerca de 14.851 hectares, e é sazonalmente alagada. Ela é de difícil acesso, o que a torna uma das poucas regiões do bioma que permanece relativamente intocada pelos impactos diretos das atividades humanas. Mas o estudo é um indicativo que o mesmo pode ocorrer no lado sul-mato-grossense, e justificar o aumento da população de onças que tem aparecido com frequência em áreas urbanas.


Durante a pesquisa,, que envolveu o uso de armadilhas fotográficas e análise de fezes de onças coletadas antes, durante e após os incêndios, os pesquisadores observaram uma queda na atividade das onças logo após o incêndio. No entanto, a população se recuperou ao longo do tempo, com um aumento significativo na abundância e recrutamento de novos indivíduos, especialmente um ano após o incêndio.

A pesquisa mostrou que a longo prazo, a população não só se estabilizou como também se expandiu, demonstrando uma resiliência impressionante diante de catástrofes ambientais. No entanto, os percentuais não foram divulgados.

Mesmo assim, os pesquisadores garantem que "esses dados revelam que as onças residentes sobreviveram aos incêndios, mantendo seus territórios, enquanto um grande número de imigrantes de outras áreas se estabeleceu na região".


Alimentadas - Outro ponto importante da pesquisa foi o comportamento alimentar das onças-pintadas. A população local se destaca pelo consumo de presas aquáticas, como peixes e jacarés, que são abundantes na região. Esse tipo de dieta pode ser uma estratégia importante para as onças, uma vez que reduz a pressão de predação sobre os mamíferos terrestres, como os herbívoros.

O estudo sugere que as onças, ao se especializarem em presas aquáticas, podem diminuir a pressão de predação sobre os herbívoros terrestres, fazendo com que esses mamíferos sejam regulados principalmente pela disponibilidade de alimentos e água, em vez de serem controlados pela predação direta das onças.

"Esse comportamento alimentar incomum é significativo, pois desafia a ideia de que as onças são predadores exclusivamente solitários. Na área estudada, elas parecem viver com maior tolerância social, convivendo em grupos, o que é raramente observado entre esses grandes felinos", explica o estudo.

Pesquisa mostra força de recuperação e aumento das onças após incêndios e seca
Onça com as patas queimadas depois de fogo em mata no Pantanal de MS em 2022. (Foto: Arquivo)

Impacto das Mudanças Climáticas - Embora os incêndios florestais tenham tido impactos imediatos e visíveis, a pesquisa apontou que as mudanças climáticas, representadas pela seca prolongada, foram mais determinantes para as mudanças na riqueza e abundância das espécies de mamíferos.

As espécies de mamíferos terrestres se beneficiaram da ausência de predação por parte das onças, que se especializaram em presas aquáticas. O estudo mostrou também que a seca foi mais influente nas mudanças da comunidade de mamíferos do que os próprios incêndios, indicando a complexidade dos fatores que afetam o ecossistema.

Os resultados desse estudo oferecem uma mensagem importante sobre a necessidade de preservar áreas como a que foi estudada, que funcionam como refúgios climáticos, não apenas para as onças-pintadas, mas para a biodiversidade como um todo. Essas áreas ajudam a proteger as espécies da instabilidade provocada por mudanças climáticas extremas.

Além disso, o estudo reforça a importância da gestão proativa do fogo, com medidas para mitigar os impactos das queimadas, que continuam a ameaçar o Pantanal e outros biomas no Brasil. Proteger essas áreas de refúgio e promover o manejo adequado do fogo são passos essenciais para garantir que o Pantanal continue a ser um santuário para a fauna local, incluindo as onças-pintadas.

"A pesquisa realizada no Pantanal Norte trouxe à tona não só a resiliência das onças-pintadas em face dos incêndios e da seca, mas também o papel crucial das áreas de refúgio climático na manutenção da biodiversidade em tempos de mudanças climáticas extremas.

O estudo reforça a necessidade urgente de políticas públicas focadas na proteção dessas áreas e no gerenciamento adequado do fogo, para que o Pantanal continue a ser um exemplo de como a natureza pode se recuperar e prosperar, mesmo diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas", conclui a pesquisa.

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