Onças famintas deixam comunidade ribeirinha na Serra do Amolar em alerta
Animais buscam alimentos em áreas secas e estão apavorando os moradores
O retorno das baías e lagoas e campos encharcados, com volume maior de chuvas este ano em relação a 2024, reduziu o habitat das onças-pintadas na região da Serra do Amolar (Pantanal de Corumbá), onde há grande concentração do felino, e as áreas ainda secas margeando o Rio Paraguai têm sido pontos de busca por alimentos.
RESUMO
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Onças-pintadas ameaçam ribeirinhos na Serra do Amolar, Pantanal. Com o aumento do volume das chuvas, o habitat natural das onças foi reduzido, forçando-as a buscar alimento próximo às comunidades ribeirinhas. Moradores relatam a perda de animais domésticos e temem ataques. A comunidade da Barra do São Lourenço, próxima ao Parque Nacional do Pantanal, pede ajuda às autoridades e ONGs para realocar as onças. Apesar da convivência histórica com os felinos, os ribeirinhos afirmam que o comportamento das onças mudou, tornando-se mais agressivas e famintas. A expectativa é que o aumento da umidade reduza os incêndios florestais que assolaram a região no ano passado.
As onças passaram a rondar com maior frequência as comunidades ribeirinhas e tem causado pânico aos moradores da Barra do São Lourenço, próximo ao Parque Nacional do Pantanal e distante 220 km por água ao Norte de Corumbá. Muitos já perderam seus animais domésticos (cachorros e aves) e estão se sentindo acuados, seja durante o dia ou a noite.
“A gente quer fazer um apelo sobre a situação das onças. A gente já não sabe mais o que fazer porque elas estão aparecendo direto, cada dia mais. E como já não tem mais os cachorros, elas começaram a comer as galinhas, que já tem pouco”, alerta a ribeirinha e artesã Leonida de Souza, 58, uma das líderes do núcleo.
Os moradores mostram pegadas de onça por toda parte. Severo Xavier de Farias, 60, conta que tem recebido a visita de um casal de onça com dois filhotes, os quais aparentam estar com fome. “Chegaram até a arranhar a parede de minha tapera, ficam me rodeando aqui. Outro dia, estava limpando uns peixes, elas sentiram o cheiro e vieram. Levei um susto”, recorda.
Clima tenso - Seo Xavier disse que ligou para a “florestal” (Polícia Militar Ambiental) pedindo providências “para tirar esses bichos aqui”, mas não recebeu retorno. Dona Leonida também pediu socorro, porém continua aguardando ajuda das organizações não-governamentais que atuam na região. A comunidade fica ao lado de um posto do Prevfogo, que já foi uma escola.
“Eu estava no galinheiro e soltei as galinhas para fazer uma limpeza. Quando eu olhei de lado, a onça estava vindo rastejando. Eu gritei, graças a Deus ela saiu e voltou para o mato. Mas, e se uma hora ela vem pra cima da gente? A gente está muito apreensiva”, relata por telefone ao Campo Grande News.
A ribeirinha, que integra uma associação de artesãs da Barra do São Lourenço, pediu ajuda nas redes sociais às autoridades e organizações não-governamentais para resgatar as onças e soltá-las em outra área sem a presença de humanos. Mas diz que a ajuda ainda não chegou.
“Somos 21 famílias, mais de 80 pessoas aqui na comunidade, tem muitos idosos e crianças. Estamos aguardando o apoio das ongs, a situação está ficando perigosa, pode acontecer o pior, um ataque a um morador”, adverte.
Menos fogo - Segundo Leonida, a comunidade sempre conviveu com onças, mas não como agora. “Elas chegaram mais perto de casa, estão famintas, agressivas. Outro dia, uma tentou subir na tela do galinheiro”, conta. “Acabaram os animais domésticos, agora só temos nós. Está ficando perigoso. Só queremos que tirem elas dali ou colocam uma cerca elétrica. Não adianta iluminar os terreiros, elas estão acostumadas”.
Se a subida do nível Rio Paraguai e as chuvas intensas na região mudaram a rota das onças, em compensação a umidade na planície deve reduzir o número de focos de incêndios este ano. No ano passado, esta região ribeirinha do Rio Paraguai teve incêndios incontroláveis que colocaram em risco as comunidades. A líder artesã da Barra está otimista:
“O Pantanal sofreu muito no ano passado, nossa região foi tomada pelo fogo. Mas este ano está diferente, tem muita água aqui ao redor e o fogo vai ser menor, apesar do material orgânico acumulado da seca”.
As condições hidrológicas são mais favoráveis não apenas na Serra do Amolar, onde uma força-tarefa já combatia focos de calor nesse período do ano. Para o presidente do Instituto Agwa, que atua na região do Paraguai-Mirim (afluente do Rio Paraguai), Nelson Araujo Filho, as águas ainda estão chegando das cabeceiras e há ameaça de morte de peixes por decoada (baixa oxigenação do rio).