ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
MAIO, QUINTA  08    CAMPO GRANDE 31º

Política

Auditores admitem que não fiscalizam dados enviados pelo Consórcio

Em oitiva, servidores relatam fazer o que está de acordo com contrato, mesmo acreditando que precisa melhorar

Por Gabriela Couto e Ketlen Gomes | 07/05/2025 17:52
Auditores admitem que não fiscalizam dados enviados pelo Consórcio
Vereadores que compõem CPI ouviram auditor nesta quarta-feira (7) (Foto: Osmar Veiga)

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte Público da Câmara Municipal de Campo Grande ouviu nesta quarta-feira (8) dois auditores da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) sobre a fiscalização técnica e operacional do Consórcio Guaicurus. Os parlamentares colocaram em xeque os critérios do relatório REMID (Relatório de Monitoramento de Índices de Desempenho), que avaliou como “excelente” o serviço prestado à população campo-grandense.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

CPI do Transporte Público de Campo Grande questiona fiscalização da Agetran. Auditores admitem que relatórios com índices "excelentes" se baseiam em dados fornecidos pelas próprias empresas de ônibus, sem checagem em campo. Vereadores apontam falhas no contrato e divergências entre os dados oficiais e a realidade do transporte. Relatórios apontam 100% de acessibilidade na frota, mas auditores não verificaram a informação presencialmente. CPI critica modelo contratual que considera aceitável o cumprimento de apenas 65% das metas. Divergências entre Agereg e Consórcio Guaicurus sobre repasses de subsídios também foram apontadas, e uma acareação foi solicitada. A CPI continua na próxima semana com novas oitivas e análise de extratos de pagamentos.

O primeiro a depor foi Giuseppe Bittencourt, auditor-chefe de planejamento da Agetran, responsável pela auditoria técnica e operacional do transporte coletivo. Ele afirmou que os dados utilizados nos relatórios são fornecidos pelas próprias empresas que operam o sistema, por meio do sistema Sig City, e que a agência apenas os compila e os repassa à Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), responsável final pela divulgação dos índices.

“O problema não são apenas os dados, mas o próprio modelo de contrato. Há fórmulas defasadas, indicadores criados em uma época em que ainda havia cobradores nos ônibus. Esses índices não são suficientes para demonstrar a realidade do transporte coletivo”, declarou Bittencourt. Ele também reconheceu divergências entre os dados apresentados oficialmente e a realidade percebida pela população.

Auditores admitem que não fiscalizam dados enviados pelo Consórcio
Vereador Ademar Junior, o Coringa (PSD), questionou auditores que assinaram documento sem checar eficiência relatada (Foto: Osmar Veiga)

Questionado pelo vereador Ademar Junior, o Coringa (PSD), sobre a veracidade dos dados, Bittencourt admitiu ter assinado o último REMID, publicado em novembro de 2024 e referente aos meses de agosto a outubro, sem verificar presencialmente os dados. “Assinei por protocolo. Não achei necessário ir ao local”, justificou, ao ser confrontado com o fato de o relatório indicar 100% de acessibilidade na frota.

Para os vereadores, essa postura revela uma fiscalização meramente formal. “O sentimento que tenho é que esses órgãos só servem para informar. Um joga a responsabilidade para o outro e, no final, nada muda. Estamos empilhando relatórios enquanto a população sofre”, desabafou a relatora da CPI, vereadora Ana Portela (PL).

Os parlamentares também criticaram a origem das informações utilizadas para compor os relatórios. Segundo os auditores, os dados vêm de empresas contratadas pelo próprio Consórcio Guaicurus ou pela Agereg, como a Otimiza, responsável por vistorias técnicas que também embasaram os índices classificados como “ótimos”.

“A própria empresa auditada escolhe quem vai auditá-la. Isso por si só já levanta dúvidas sobre a transparência e a confiabilidade do processo”, disse o vereador Maicon Nogueira (PP).

O modelo contratual firmado em 2012 foi outro alvo das críticas. “O edital contratualiza um serviço que já nasce com margem para ser ruim. Se o consórcio cumprir 65% das metas, ainda estará acima do ‘ruim’. É como contratar um serviço péssimo e dizer que está tudo bem. Temos 500 reclamações na CPI, contra apenas 17 registradas oficialmente na Agereg desde 2012. Esses números não batem. Algo está profundamente errado”, completou Maicon.

Auditores admitem que não fiscalizam dados enviados pelo Consórcio
Auditor Luiz Cláudio Pissurno Chaves se explicando a CPI (Foto: Osmar Veiga)

O segundo a ser ouvido foi o auditor Luiz Cláudio Pissurno Chaves, chefe operacional da auditoria da Agetran, pouco falou. Ele se resumiu a dizer que cumpre com o seu papel de servidor. "O problema não é nosso trabalho, o problema é o contrato".

Durante a audiência, ficou evidente que tanto Agetran quanto Agereg não fazem uma auditoria independente e ativa do serviço prestado. Toda a fiscalização se baseia em dados enviados pelas próprias empresas, sem checagem em campo. A vereadora Luiza Ribeiro (PT) criticou duramente essa conduta. “Como servidor público e auditor, o senhor precisa ter outra atitude. A sociedade espera providências, não formalidades.”

A CPI também trouxe à tona contradições entre a Agereg e o Consórcio Guaicurus sobre os repasses de subsídios em 2025. Ana Portela afirmou que recebeu um ofício do consórcio informando não ter recebido valores, enquanto o diretor da Agereg disse o contrário. A relatora solicitou uma acareação entre as partes, já aprovada pela comissão, mas que ainda não tem data definida. “Alguém está faltando com a verdade”, disse Portela.

Outro ponto sensível debatido na oitiva foi a ausência de concurso público para a Agereg, previsto no Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) firmado com o Ministério Público e o Tribunal de Contas. O compromisso previa o fim de contratações de pessoas jurídicas para funções técnicas, que deveriam ser exercidas por servidores concursados. Segundo os vereadores, isso não foi cumprido.

O presidente da CPI, vereador Dr. Lívio (União Brasil), reforçou que a comissão pode propor medidas para melhorar a estrutura das agências reguladoras, como a criação de mandatos fixos para diretores e a exigência de concurso público. “O que vemos hoje é uma estrutura politizada, pouco eficiente e cara para o contribuinte. A CPI não vai só identificar culpados, mas também propor soluções.”

As investigações seguem na próxima segunda-feira (12), às 13h, no Plenarinho Edroim Reverdito. Serão ouvidos o fiscal de transporte e trânsito da Agetran, Luiz Carlos Alencar Filho, e o auditor-chefe da Auditoria da Agetran, Henrique de Matos Moraes.

A CPI também solicitou extratos de pagamentos feitos ao consórcio nos últimos 12 anos e deve analisar as alegações da Agereg sobre as solicitações de balanços financeiros que, segundo o Consórcio, nunca foram exigidos nesse período.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Confira a galeria de imagens:

  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
Nos siga no Google Notícias