ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 29º

Reportagens Especiais

Antes de "sumir" do cenário, córregos abasteceram e causaram transtornos

Viviane Oliveira e Liana Feitosa | 16/08/2015 08:00
Antes de "sumir" do cenário, córregos abasteceram e causaram transtornos
Enchente na Rua Maracaju, durante canalização do córrego. (Foto: Roberto Higa).
Enchente na Rua Maracaju, durante canalização do córrego. (Foto: Roberto Higa).

No ano em que a Cidade Morena completa 116 anos, o Campo Grande News tem resgatado histórias de lugares e pessoas que marcaram época. Fomos à casa de um dos primeiros moradores do município, que hoje abriga o museu José Antônio Pereira.

Ouvimos relatos dos comerciantes da antiga Rua Y-Juca Pirama, atual Marechal Cândido Mariano Rondon, que movimentou o comércio na década de 50. Lembramos do circo, que há cem anos foi palco de tragédia no Centro. Mas, agora queremos saber dos córregos ocultos e de onde vinha a água que abastecia toda essa gente no tempo em que a capital sul-mato-grossense ainda era um pequeno povoado do Estado de Mato Grosso.

Conforme o diretor do departamento de licenciamento da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), Ivan Pedro Martins, a represa do Jacinto localizada em uma área na Rua Marquês de Herval, no Bairro Nova Lima, região Norte da cidade, foi o primeiro sistema a abastecer uma vila militar. “Eram 150 ligações, o córrego ficava em uma área do exército conhecida hoje como buracão, isso em 1912”, diz.

Anos depois, o córrego Prosa, formado pelas nascentes do Desbarrancado e Joaquim Português, acolheu os primeiros colonizadores recém-chegados de Minas Gerais. As nascentes estão protegidas e ficam no Parque Estadual do Prosa, nos altos da Avenida Afonso Pena. Foi lá, que começou a captação de água no final da década de 30.

O sistema de tratamento de água, hoje desativado, foi utilizado para abastecer dois bairros e atendia cerca de 10 mil moradores. Atualmente, os córregos Guariroba e Lageado são os responsáveis pelo abastecimento de Campo Grande.

Rua Maracajú, esquina com Rua 13 de Maio, antes do fechamento do canal do córrego Maracaju, em 1971. (Foto: Roberto Higa).
Rua Maracajú, esquina com Rua 13 de Maio, antes do fechamento do canal do córrego Maracaju, em 1971. (Foto: Roberto Higa).

Córregos ocultos - Quando o desenvolvimento urbano começou, as ruas do entorno da Estação Ferroviária, na região Central, começaram a ganhar casas e comércio. A Rua Maracaju, por exemplo, era uma das preferidas. No local há um córrego, que antes era aberto. Segundo relatos históricos, quando chovia o córrego transformava a via em um verdadeiro rio.

Na década de 70, o córrego Maracaju foi tubulado em toda a sua extensão, entre a nascente na Vila Rosa e a sua desembocadura no Córrego Segredo, de acordo com o doutor em Geografia, Mauro Soares. “Assim também aconteceu com o Cascudo, que fica na região do Bairro São Francisco”, explica o professor de mestrado e doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Uniderp/Anhanguera.

Segundo ele, o desenvolvimento da cidade aconteceu no meio da bacia. O córrego Maracaju e o Cascudo estão abaixo da construção. “Com a tubulação foi tirado os braços que minimizavam a quantidade de água que chegaria nos principais canais, como no Rio Anhanduí”, destaca. A solução encontrada na época é um dos motivos de alagamento na Ernesto Geisel.

José relembra com saudades do tempo que tomava banho no Córrego Segredo. (Foto: Fernando Antunes)
José relembra com saudades do tempo que tomava banho no Córrego Segredo. (Foto: Fernando Antunes)

O Córrego Cascudo, que tinha muitos peixes, faz parte da infância de José Silvestre, 65 anos. O comerciante, que se formou em direito na FUCMAT atual UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), conta que na Euler de Azevedo, onde mantém um comércio de secos e molhados há 23 anos, era conhecido como corredor do Imbirussu, local por onde passava a boiada. “Quem nunca pescou no Córrego Cascudo, que vem da Avenida Rachid Neder e desemboca no segredo”, conta.

De acordo com ele, a cidade cresceu muito e o que mais sente falta é da tranquilidade que a época dos peixes cascudo trazia. “A maioria da molecada da minha época tomou banho no Segredo”, recorda.

Alerta - Hoje, os córregos que fazem parte da história do município precisam de cuidados. Segundo o professor, Campo Grande tem que se preocupar com as áreas de cabeceira que estão acopladas às nascentes de importantes canais, como o Segredo e Prosa, que levam as águas em direção ao Rio Anhanduí. “Os problemas de enchente e alagamento no centro e sul são resultado da ocupação desordenada no norte da cidade, que geram vários problemas de erosão", alerta.

Confira a galeria de imagens:

  • Sistema de tratamento de água, hoje desativado, que fica utilizado no Parque Estadual do Prosa foi utilizado para abastecer dois bairros e atendia cerca de 10 mil moradores. (Foto: Fernando Antunes)
  • Córrego Prosa é formado pelo encontro do Desbarrancado e Joaquim Português. (Foto: Fernando Antunes)
  • Represa do Desbarrancado, local onde a água era captada. (Foto: Fernando Antunes)
  • Nascente do Desbarrancado e Joaquim Português fica dentro do Parque Estadual do Prosa. (Foto: Fernando Antunes)
  • Imagem atual da Rua Maracaju, que começa na 25 de Dezembro e vai até a Avenida Ernesto Geisel. (Foto: Fernando Antunes.
Nos siga no Google Notícias