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A paz em um minúsculo gesto vital

Por Enildes Corrêa (*) | 26/12/2017 07:07

Recordo-me das palavras de meu pai: “Nós não devemos fazer nada em vão na vida”. Mas, quando não estamos na consciência plena de nossos atos, quantas coisas fazemos em vão, não é mesmo? E quantas outras deixamos de fazer que assim jamais seriam, que exigiriam tão pouco de nós, às vezes, só estender a mão a alguém que necessita de uma pequena ajuda de nossa parte, o que estaria ao nosso pleno e fácil alcance. Mas, sem o coração aberto e a boa vontade para com o outro, muitos atos e gestos que fazem do homem um ser compassivo não são idealizados na mente das pessoas e muito menos acalentados no coração daqueles que se dizem “humanos”.

Não precisamos ir muito longe nem de grandes exemplos que constatem essa realidade. Comecemos pelos pequenos gestos do cotidiano. Muitas pessoas iniciam o dia com cumprimentos, que dão e recebem sem nenhuma gota de vitalidade ou afeto, dados de forma mecânica, robotizada, sem sequer olhar nos olhos de quem se cumprimenta.

No decorrer do dia, deparamo-nos com pequenas e altas doses de grosserias, arrogância, prepotência, estupidez, indiferença e insensibilidade nas relações familiares, sociais e profissionais, que ferem emocionalmente as pessoas.

O tempo todo transmitimos ou inibimos a vida. Gestos simples, o jeito de olhar ou de falar com alguém, podem se transformar num carinho ou em agressão. Vemos a vida ser renovada e reforçada em cada encontro permeado pelo respeito, aceitação e acolhimento. O contrário acontece se julgamos, menosprezamos e rejeitamos alguém. Lamentavelmente, a segunda opção é a mais comum no mundo em que vivemos, em que os valores que reafirmam a vida foram colocados de cabeça para baixo. Certa vez, meu pai aconselhou-me: “A gente não se desfaz, não desfaz da vida nem dos que têm a vida.”

Osho nos diz: “Somos todos parte de uma única força vital – parte de uma única existência oceânica. Nas profundezas de nossas raízes, somos um só. Não importa quem você esteja ferindo, no final das contas você está ferindo a si mesmo... A não-violência resulta desta compreensão.”

As palavras de Jesus “ama ao próximo como a ti mesmo” são repetidas com frequência pelos sacerdotes e por muitas outras pessoas, porém, sem que haja a compreensão do que impede a humanidade de colocar em prática esse ensinamento bíblico.

Normalmente, o sentimento de amizade que se estende a tudo e a todos é construído por pessoas que tiveram a abertura, a disposição e a coragem de olhar para dentro de si, procuraram se compreender profundamente e conseguiram estabelecer uma amizade incondicional consigo próprias em primeiro lugar.

Essa relação de intimidade e amizade conosco passa, necessariamente, por aceitarmos a nossa expressão por inteiro – em nível corporal, mental, emocional e espiritual. Olhar e aceitar, sem fazer escolhas, o nosso lado forte e o frágil, o que gostamos ou não em nós mesmos. A internalização e a prática desse entendimento nos possibilitam manter o estado de equilíbrio e harmonia.

Se estivermos reconciliados com as diversas faces da nossa expressão, quer seja a bela ou a fera, o relacionamento externo refletirá esse estado de harmonia. Se, por outro lado, estivermos em guerra conosco, em contínua autorrejeição, com constantes julgamentos e cobranças frequentemente descabidos, tanto em relação ao corpo como ao ser, iremos projetar esse conflito lá fora também. Dessa forma, dificuldades e incompreensões surgirão nas relações, em qualquer âmbito.

Aqui, cabem algumas palavras do místico sufi indiano, Kiran Kanakia: “Esteja na vida como um estudante e não como um juiz”. É adotando a postura de estudante que nos abrimos para aprender a nos compreender, a nos acolher, a nos valorizar e, finalmente, a nos amar. A partir daí, ficará bem mais fácil conviver pacificamente com as demais pessoas.

Por conseguinte, uma mudança qualitativa em nossas atitudes ocorre, perceptível desde a expressão facial. O nosso cumprimento, por exemplo, fica carregado de energia vital e preenchido pela intenção real de que a pessoa a quem nos dirigimos vivencie, de fato, o que as palavras procuram expressar.

Registro esta mensagem do Mestre Osho:

Um homem sério é incapaz de rir, é incapaz de dançar, é incapaz de brincar. Ele está sempre se controlando, tornou-se o seu próprio carcereiro. Deveríamos aprender a transformar nossas energias para que não fiquem reprimidas, para que sejam expressas através do nosso amor, da nossa risada, da nossa alegria.

Namaste!

(*) Enildes Corrêa é administradora, palestrante, psicoterapeuta corporal Ayurveda e professora de Yoga. Autora do livro “Vida em Palavras”, ela pode ser contatada pelo e-mail solautoconhecimento@gmail.com.

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