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A saga dos “brimos”, por Heitor Freire

Por Heitor Freire (*) | 04/09/2011 07:30

D. Pedro II, imperador do Brasil – o melhor governante que este país já teve –, sempre foi interessado em todos os ramos das atividades humanas: foi o grande incentivador de Alexander Graham Bell, inventor do telefone, criou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, forneceu uma bolsa de estudos ao maestro Carlos Gomes, no Scala de Milão, que sempre lhe agradeceu por isso. Enfim, sempre estava buscando alternativas para desenvolver o nosso Brasil.

Assim, em viagem pelo Oriente Médio, ficou impressionado com a capacidade negocial dos sírios e dos libaneses, criando então as primeiras condições para atrair a imigração desses povos. As primeiras levas de imigrantes árabes começaram a aportar, inicialmente no Rio e em São Paulo. Depois se dirigiram para o interior do nosso país.

Aportaram por aqui em tal quantidade que, antigamente, se falava que Campo

Grande era uma ilha de turcos cercada por japoneses por todos os lados. Ou vice-versa.

Os libaneses e sírios que para cá vieram no começo do século passado, chamados de turcos por causa dos seus passaportes emitidos na Turquia, são descendentes diretos dos fenícios.

Os fenícios, descendentes de Cam, um dos três filhos de Noé, se localizaram na costa oriental do Mediterrâneo, onde estão o Líbano e a Síria, e se dedicaram ao comércio e à navegação. Eram ousados, corajosos, enfrentavam o mar adentro, descobrindo novas terras, novos povos, com quem comercializavam sem saber as suas línguas, utilizando a linguagem universal do comércio. Eram muito criativos.

Com as condições criadas pelo governo, eles deixaram suas terras, suas tradições, suas leis, sua história e para cá vieram aceitando os nossos costumes, incorporando-se ao nosso país, adotando-o como seu. E aqui nos ofereceram o que de mais puro tinham: sua amizade, sua capacidade de trabalho, sua lealdade, conscientes das exigências para que houvesse uma perfeita integração – franqueza, sinceridade, aceitação, seriedade.

É interessante a identificação dos árabes com os brasileiros.

Eles logo que chegaram pegavam suas malas cheias de armarinhos, meias, quinquilharias e se internavam pelo interior do país. Mesmo sem saber falar a nossa língua, mas sabendo muito bem fazer contas, se comunicavam consultando um papel onde estava escrito o fundamental para iniciar uma conversa. Vale ressaltar também a cordialidade com o nosso povo; chamavam-nos de primos, aliás, de “brimos”.

Embora correndo o risco de alguma omissão – da qual já me penitencio –, assumo o compromisso de nomear as famílias árabes que conheci e com quem tive a satisfação de conviver: Abrão, Abdulahad, Abuhassan, Abussafi, Adri, Anache, Ayub, Bomussa, Buainain, Budib, Calarge, Chaia, Contar, Derzi, Dibo, Domingos, Duailibi, Elossais, Elosta, Esgaib, Felicio, Ferzeli, Georges, Haddad, Ibrahim, Iunes, Jabour, Jallad, Jorge, Lahdo, Kadri, Maksoud, Maluf, Mansour, Melem, Melke, Moukacher, Murad, Nachif, Naglis, Nahas, Nakkoud, Name, Nasser, Nimer, Rahe, Raslan, Razuk, Saab, Saad, Sadalla, Saddi, Salamene, Saliba, Salomão, Sater, Selem, Sghir, Siufi, Sleiman, Tannous, Thomaz, Trad, Zaher e Zahran, Todos aqui viveram a sua saga, contribuindo com suas inteligências e vontades para construir a nossa cidade, o nosso estado e o nosso país.

Aqui plantaram suas sementes, constituíram suas famílias, construíram seus patrimônios, desenvolveram os seus negócios, entrosando-se com o nosso povo, criando raízes que os ligaram com a nossa terra para sempre, merecendo a nossa confiança e, por sua vez, confiando em nossa gente. E na dificuldade, receberam a nossa amizade, a nossa confiança.

Uma das características mais marcantes deles, era a dedicação ao trabalho. Trabalharam incansavelmente. O trabalho como esforço aplicado se traduziu na conquista do sucesso. Foram também corajosos, acreditaram em si mesmos, e no Brasil, como terra da promissão que souberam conquistar. Uniram-se com verdadeira confiança. Os mais velhos guardavam os dinheiros dos mais novos, às vezes sem nenhum comprovante. Valia a palavra.

E como um elo entre eles lembro-me do cônsul Assaf Trad, sempre solícito, alegre, gentil, comunicativo, um diplomata por excelência, sempre atento para as questões da colônia. Aconselhando, orientando, ajudando.

Registro aqui as minhas homenagens e o meu respeito por esta raça sagaz, aguerrida, guerreira e trabalhadora.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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