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A sesta de quinta-feira

Por Rosildo Barcellos (*) | 18/04/2014 10:22

“Gabo” dizia: que este era seu melhor conto...Gabo era o apelido carinhoso que amigos chamavam o preclaro escritor Gabriel Garcia Marques e “a sesta de terça-feira é um conto infantil que trata da história de uma da viagem de trem para um povoado em plena hora da “siesta” É um relato extremamente sóbrio quanto à linguagem e quanto à construção, embora distante da idéia primeira que se faz de um texto ficcional. Mas é um conto, nascido da figura da mulher que, acompanhada por uma menina caminhava, protegendo-se do sol abrasador com o guarda chuva preto, pelas ruas desertas de um povoado e que escolhi como título deste artigo, tecnicamente saudosista, parodiando o título de seu conto com a data de seu falecimento (uma quinta feira). Garcia Marques era membro do primeiro time dos maiores escritores do século 20. Um escritor reconhecido por todos — inclusive pela Academia sueca, que lhe concedeu a glória de ser laureado com um Prêmio Nobel de Literatura. Enfrentava um novo câncer em fase de metástase, que se espalhou pelos pulmões e fígado. O autor de "Cem Anos de Solidão" recebia tratamento paliativo em sua casa, na Cidade do México, onde morava há mais de uma década.

Foi-se o homem ficou sua obra. São frases que levo comigo e que evidentemente muitas outras pessoas me acompanham: Cita-se por exemplo “Quem sabe Deus queira que conheças muita gente enganada, antes de que conheças a pessoa adequada, para que quando no fim a conheças, saibas estar agradecido” . São frases eternas, para o escritor que virou estrela, na tarde desta quinta feira. Por decisão própria, já que ele também sofria de Alzheimer, não se submeter ao tratamento contra o câncer em função de sua idade. Nascido em 6 de março de 1927 no povoado de Aracataca zona caribenha da Colômbia Garcia presenteou-nos com uma lista de contos e romances, tendo como obra prima Cem anos de solidão (1967) que era ambientado na mítica aldeia de Macondo. Na verdade este texto foi escrito em dias de grande turbulência em função das dívidas que assolavam sua família,na época,tanto que para enviar o original datilografado para a Argentina o escritor precisou penhorar seu aquecedor elétrico.Todavia os méritos da espera chegaram em 1972,momento em que foi laureado com o Prêmio Latino-americano de romance Rômulo Gallegos e em 1982 com o Prêmio Nobel de Literatura, fato que ficou marcado por ter comparecido a cerimônia em Estocolmo trajando o liqui-liqui,o tradicional traje caribenho.

Naquela ocasião em um discurso eivado de sentimentos políticos definiu suas narrativas como “uma realidade que não é a do papel, mas que vive conosco e determina cada instante de nossas incontáveis mortes, todos os dias, e que nutre uma fonte de criatividade insaciável,cheia de tristeza e beleza,da qual este errante e nostálgico colombiano não passa de mais um,escolhido pelo acaso”. Evidentemente,que o acaso não vem tão por acaso assim.A glória vem depois de persistência, muitos senãos e muitos desejos tolhidos.Aliás um desejo que era tão urgente, e que de repente se torna um recado de Deus. E,por mais que estejamos adestrados pra vida, existe sempre e sempre haverá: o fiel arrebatamento do desejo; e é neste momento que trava-se a luta do rochedo contra o mar. No caso de Gabriel Garcia Marques, amor, leitura, confidências,dificuldades, espera, superação e concordância; são elementos da arte para se fazer arte, aonde a solidão pode ser uma fato e não um castigo. E assim criar um mundo a parte, diferenciado, cheio de questionamentos mas que fazem as pessoas em volta a se depararem entre a vida e o sonho. E assim se construir um texto rico,inesquecível e profundo ao se antepor com o tênue limite entre vida e os sonhos, ao mesmo tempo que se fala de amor na simplicidade das coisas, juntando a ausência e a espera, o longe e o talvez de um amor paciente e incansável...um amor perfeito.

Assim foi uma de suas história-enredo. Quando ainda muito jovem, o telegrafista, violinista e poeta Gabriel Eligio Garcia, se apaixonou por Luiza Marquez, momento em que, o romance enfrentou a ferrenha oposição do pai da amada, Coronel Nicolas, que tentou impedir o casamento enviando a filha ao interior numa viagem de um ano. Entretanto para manter seu amor, Gabriel montou, com a ajuda de amigos telegrafistas, uma rede de comunicação que alcançava Luiza aonde ela passasse. E, na verdade, essa era a história real dos pais de Gabriel Garcia Marquez e pano de fundo de “O amor nos tempos do cólera” que contrasta a paixão de Florentino Ariza por Fermina Daza e realmente é um marco equiparável ao célebre “Cem anos de Solidão” considerado sua obra prima, e que trata da paixão de um homem pela trança de uma menina de família. O idílio dura algumas cartas mas ao conhecer seu admirador a moça o rejeita e casa-se com outro. Não obstante, o amor persiste e dura a vida inteira.E nesta fábula de realismo fantástico, “Gabo” mostra que a paixão não tem idade. Simples assim, sem deixar de ser emocionante e fantástico como todo amor de verdade é !

(*) Rosildo Barcellos, articulista

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