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De volta ao planeta dos bonobos

Por Ronaldo Mota (*) | 27/07/2017 07:12

Os bonobos até há menos de um século eram, erroneamente, assumidos como formando uma subespécie dos bastante conhecidos chimpanzés. Mais recentemente, eles deixaram de ser confundidos, passando a ser reconhecidos como espécie própria. Na verdade, ambas as espécies, o bonono (Pan paniscus) e o chimpanzé comum (Pan troglodytes), formam o gênero Pan. Um dos motivos da demora na identificação da espécie dos bonobos foi que os contatos com eles eram raros, dado estarem todos concentrados em uma pequena região da República Democrática do Congo, na África Central.

Os cientistas acreditam que o ancestral humano moderno tenha se separado dos chimpanzés e dos bonobos em torno de 8 milhões de anos atrás, sendo que estas duas espécies, por sua vez, se separaram entre si há aproximadamente 2 milhões de anos. Estudos recentes mostram que os bonobos, e não os chimpanzés, representam melhor o último ancestral comum com os humanos, fazendo dos bonobos nossos primos irmãos mais próximos. Seja pelo nível de compartilhamento de DNA (98,7%) ou pelas características mais assemelhadas em níveis de percepção, comportamentos gerais e habilidades. De acordo com Bernard Wood, pesquisador do Centro para Estudos Avançados de Paleobiologia Humana da George Washington University, a estrutura muscular dos bonobos alterou-se menos ao longo do tempo, tornando-os os seres vivos mais próximos do que seriam nossos ancestrais.

Do ponto de vista comportamental, os bonobos, diferentemente dos chimpanzés, podem partilhar alegremente seu alimento com um estranho e até mesmo desistir, altruisticamente, de sua própria refeição, como registrado pelos pesquisadores Jingzhi Tan e Brian Hare. Eles afirmam que suas descobertas podem ajudar a entender a origem do altruísmo nos humanos. Os cientistas compararam tais comportamentos a certos atos humanos de bondade, como por exemplo doar dinheiro anonimamente. De acordo com esses pesquisadores, o mais provável é que o ancestral comum das três espécies, seres humanos, bonobos e chimpanzés, já tivesse essa característica. Portanto, esta descoberta difere da hipótese anteriormente assumida de que os humanos só teriam desenvolvido o altruísmo depois da separação com o gênero Pan.

Os bonobos se distinguem pela postura mais ereta do que os chimpanzés, constituem uma sociedade mais igualitária e matriarcal e apresentam uma atividade sexual própria, não existindo relação direta entre sexo e reprodução. Por sinal, o sexo tem um peso grande nas suas relações, em geral como elemento reconciliador, estando presente ao longo de toda a vida adulta da espécie. Empatia e altruísmo são características que os bonobos têm particularmente desenvolvidas, ou seja, a capacidade de compreender o sentimento ou a reação de outro indivíduo, imaginando-se nas mesmas circunstâncias, e fazer algo em função disso.

O que nós humanos temos a, humildemente, aprender com as demais espécies? Por exemplo, os bonobos podem ser interessantes inspirações para características essenciais nos dias atuais: a empatia e o altruísmo. Temos, naturalmente, um grande potencial empático e altruísta, mas que, fruto do convívio em sociedades de grande escala, demanda permanentes reconexões, via educação, com algo que podemos ter inibido ao longo do tempo. Educar, contemporaneamente, tem múltiplos objetivos, entre eles aumentar nossa empatia e ampliar nossa capacidade de sermos solidários. Ou seja, desenvolver a compaixão, tentando compreender sentimentos e emoções dos demais, experimentando de forma objetiva e racional o que sentem outros indivíduos, e, em função disso, agir.

Ao promovermos, pela educação, a empatia e a solidariedade, queremos motivar que as pessoas se entendam e se tornem mais inteligentes, contribuindo com um mundo melhor. Ser empático e altruísta significa estabelecer afinidades por se identificar com os demais, saber escutar, compreender os seus problemas e emoções e, desta forma, ser um melhor profissional, seja em que campo de atividade for. Educar, cada vez mais, inclui na formação do educando, em complemento ao conjunto de técnicas e procedimentos tradicionais, novas habilidades e competências. Entre elas, trabalhar coletiva e solidariamente para resolver problemas e completar, com sucesso, as missões que lhe são conferidas.

*Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio de Sá

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