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Francelmo ainda vive

Por Abel Costa de Oliveira (*) | 27/04/2012 06:40

Dia 12 passado (dezembro) completou aniversário (cinco anos) da imolação do Jornalista e Ambientalista Francisco Anselmo Gomes de Barros, conhecido como Francelmo.

Segundo alguns estudiosos da psicologia, o ser humano ao perpetrar a auto-imolação o faz desenvolvendo o pensamento de que já não nutre "nenhuma chance" diante de questionamentos, lutas, reivindicações, dilemas que passam a entender fracassado, e sem chances de recomeço. Desse modo ao pretender fugir dessa sua convicção, vai aos poucos se esquecendo de suas qualidades, diante de uma sensação de fracasso, acaba pondo fim à própria vida crente de que assim agindo, por força desse seu ato, transmite um encorajamento aos que ficam estimulados a continuar sua luta. E isso se vê em trecho da missiva endereçada ao companheiro de batalha pelas causas ambientalistas, o advogado Douglas Ramos, onde pede ao amigo que ele continue a batalha por ele. “Ele me diz na carta que eu continue, pois ele se foi por já estar cansado de lutar. Entregou os pontos”, relata (afirmações de Douglas Ramos).

Em outra carta endereçada aos seus colegas de imprensa, o personagem a quem nos referimos brevemente, deixou evidente sua frustração no que refere à política ambiental adotada no Brasil e no Estado de Mato Grosso do Sul, que ignora o clamor dos defensores da natureza, cujos, são passados para trás. E usou a seguinte frase para definir seu desencanto: “estamos vendo o barco afundar e ninguém diz nada” (Carta à Imprensa).

Estou fazendo alusão a um homem que a morte matou, mas que não morreu. Estou me referindo a Francisco Ancelmo Gomes de Barros, que aos sessenta e cinco anos de idade, em meio a um movimento de protesto ambientalista contra a implantação de usinas de álcool e açúcar na região periférica da Bacia do Alto Paraguai – o Pantanal -, ateou fogo ao próprio corpo. Um homem que sempre fez irradiar a vida, transmitia alegria, otimismo, sempre amável com aqueles que o cercavam. Um jornalista ético como era considerado por todos. Seus pares o tinham como: “um grande empreendedor, estrategista, persuasivo e amigo do otimismo”.

Porém, num ato que colheu de surpresa a todos que o conheciam, embalado pela sua convicção ou pretendendo encorajar àqueles que lideravam em prol das causas ambientais, submeteu-se ao martírio e incendiou seu próprio corpo, convencido de que com a sua morte a causa que defendia teria continuidade. A razão de tal ato é entendida por seus seguidores como: “É possível destruir um sonho de um ser humano quando sonha para si, mas é impossível destruir seu sonho quando ele sonha, com e para os outros, o sonho coletivo da transformação” (Nota da Fuconams).

De sorte que Francelmo sempre dedicou sua vida ao amor da humanidade. E por esse mesmo amor acabou por destruir a sua própria vida, porém, defendendo uma causa justa, ou seja, o meio ambiente, que significa a continuidade da vida. A ideologia da vida. O biocentrismo.

Através da ONG por ele criada – a FUCONAMS -, fazia ecoar seu grito, e a tantos decibéis que atingia até mesmo os ouvidos “mocos”, os quais nem sempre absorviam a mensagem e seu alto teor. O que o levou a praticar a tragédia, como forma de protestar, no entanto na qualidade de mártir. Ou herói.

Nosso homenageado era um sonhador, sonhava com um mundo melhor. Jornalista, escritor, coerente, inteligente, persuasivo, idealista, franco, patriota, religioso, calmo, pacífico, escondeu de todos, e até mesmo dos mais íntimos, a coragem de entregar sua vida por uma causa. E de forma tão sofrida que nos leva a refletir o martírio de São Lourenço, que de igual modo foi queimado, assado, por ato de seus algozes. Contudo, São Lourenço, não se entregou, aceitando o martírio que lhe fora imposto, eis que defendia uma causa justa, o Cristianismo.

Como justa foi a causa sempre defendida por Francelmo. O meio ambiente. A natureza. E a vida em si.

Perdemos um grande homem. Um pensador. Um batalhador. Um exemplo. Exemplo que para ser definido corretamente torna necessário a pena de Castro Alves ou a eloqüência de Rui Barbosa. Tão grandes foram suas batalhas.

O ato praticado por Francelmo, talvez neste momento não possa ser entendido, outrossim, com o transcorrer do tempo, quando as coisas forem acontecendo, a exemplo de uma tela pintada que à medida que, vamos nos distanciado dela, vai clareando, tornando-se nítida, de modo que possamos vislumbrar a grande arte nela estampada.

Francisco se entregou a uma ideológica ação, a exemplo do outro Francisco. O Santo. São Francisco de Assis, o Padroeiro dos animais e da ecologia.

Assim foi a entrega de nosso homenageado. Sua atitude por certo não será vã. Semeou e da germinação restarão frutos a serem colhidos, pois como pontuam seus companheiros de FUCONAMS, “O sonho não acabou”! Pois

(*) Abel Costa de Oliveira é Consultor Jurídico Ambiental; Especialista em Direito Ambiental, UNICAM, RJ e; Mestre em Consultoria e Auditoria Ambiental, Universidad León, Espanha, Presidente da Comissão do Meio Ambiente/OAB/MS

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