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Governo brasileiro é refém das montadoras de veículos

Marco Asa | 21/06/2014 14:23

O lobby das montadoras de veículos no Brasil é forte. Desde a década de 50, há uma corrente que tenta mostrar que, sem a força das montadoras, o Brasil pára. Mas, será que é tudo isso mesmo? O fato é que, de ameaça em ameaça, as fábricas de veículos (ou só montadoras mesmo, que trazem carros feitos em outros países e montam aqui) vão arrancando “à fórceps” mais e mais benefícios, isenções e impostos, cessões de área etc etc etc. E o retorno? Bem, o retorno mínimo seria a manutenção dos postos de emprego. Mas, nem isso é garantido.

Para 2014, a previsão é que a isenção de impostos seja de R$ 2,8 bilhões. E, quais as garantias que este dinheiro, pago por todo brasileiro trabalhador, vá se traduzir em empregos garantidos, ou somente vá se juntar às remessas polpudas de lucros enviadas às matrizes europeia, asiáticas ou norte-americanas?

O fato é que, em décadas, as montadoras brasileiras vivem num regime do “venham à nós e, ao vosso reino, nada!”. Quando as importações eram proibidas, deitavam e rolavam fazendo, aqui, carros defasados, vendidos a preço de ouro. Até que Collor deu um “basta” e abriu as importações (uma coisa boa do malfadado governo Collor). Aí, começou a era da injeção eletrônica, do ABS e outros tecnologias que os brasileiros conheciam apenas das revistas importadas.

Hoje, podemos notas como o mercado é volátil, mudando de direção segundo a vontade das montadoras. Isso nos faz duvidas até mesmo da imprensa especializada. Afinal, se num momento temos manchete como “Brasil bate recorde de produção e venda de carros” e, um mês depois, temos manchetes como “indústria automobilística em crise e pode demitir”, é sinal de que as montadores estão “plantando” notícias para deixar o governo refém.

Aliás, a relação estranha das montadoras e a chamada “imprensa especializada” é decana também. Formou-se uma “casta” entre jornalistas e donos de veículos de comunicação difícil de entender. Um “clubinho” que se reúne a cada lançamento. E dá-lhe viagens de avião (até para o exterior), hotéis 5 estrelas e “presentinhos” constantes. Aí, vemos carrinhos “meia-boca” sendo eleitos “melhores do ano”, “carro da década” etc.

Há até casos, em veículos de comunicação do interior, cujos donos dão de presente as viagens de teste para amigos, anunciantes e colunistas sociais que não entendem “bulhufas” de carros. Ou mesmo aqueles que monopolizam toda a imprensa especializada de um Estado, escolhendo que viaja, quem testa os carros etc.

Então, como confiar na imprensa especializada? Buscando veículos que se isentam das benesses das montadoras, como as grandes revistas especializadas ou de grandes jornais, que não aceitam viajam por conta das montadoras e têm autonomia para falar que um carro tem um determinado defeito ou não é beneficente. A Revista Quatro Rodas, da Editora Abril, é um desses (bons) exemplos.

Mas, voltando à pressão das montadoras sobre o governo, chegou a hora do “basta”! O Brasil já perdeu demais com a arrogância das montadoras estrangeiras. Perdemos a Gurgel e o sonho de seu dono, Amaral Gurgel, de um carro popular eficiente e brasileiro. Perdemos as nossas pequenas fábricas de esportivos, como Puma e Miura, e temos carros caros, de qualidade inferior aos vendidos na Europa (isso está melhorando) e ainda querem mais isenção de impostos. Até quando o governo vai aguentar tanta sede das montadoras?

(*) Marco Antônio dos Santos Araújo, Marco Asa, jornalista, escreve sobre veículos desde 1992.

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