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Just 1 reason why

Por Tania Paris (*) | 19/04/2017 14:55

A série “13 Reasons Why” trouxe à tona a discussão do delicado tema suicídio. E esse é, sim, um tema merecedor de reflexão e debate, pois uma forma importante de evitá-lo é com informação e desmistificação. A Organização Mundial da Saúde afirma que 90% dos suicídios poderiam ter sido evitados.

Mas quantas seriam as razões que justificariam alguém tirar sua própria vida? 13 foi a resposta a que Hannah chegou. Mas faltou a ela compreender que todas elas se resumem numa só. Há um único motivo para o suicídio.

A natureza nos dotou, como a todos os animais, de instinto de sobrevivência, para a preservação da espécie. E cometer um ato contra a própria vida é contrário a esse instinto presente em nós o tempo todo. Para isso, é necessário algo tão forte que se sobreponha a ele. E não algo externo, pois esse potente instinto nos impele a combater o que coloca nossa vida em risco. Então, tem de ser algo interno.

Os problemas, as dificuldades, as crises, os traumas… nos causam sofrimento emocional. E sofrimento emocional, quando tão intenso que se torna insuportável, é a única razão capaz de levar alguém a superar seu instinto de sobrevivência.

Poderíamos dizer que ninguém se mata por opção, mas por falta de opção – as pessoas se suicidam por não encontrarem alternativa para aliviar a dor emocional que sentem. Sem alívio, a dor pode roubar o discernimento e levar a um ponto em que é difícil voltar sozinho. O Dr. Brian Mishara, Diretor do Centro de Pesquisa e Intervenção ao Suicídio e Eutanásia, da Universidade de Quebec, Montreal, Canadá, criou uma analogia interessante para explicar a crianças pequenas esse ato.

Disse que é como se alguém estivesse dirigindo um carro numa nevasca e ficasse sem visibilidade, pegasse a estrada errada por não conseguir ver o caminho, e caísse num precipício. Não se trata de culpar a neve, a estrada, ou quem estava dirigindo – mas não teria sido o caso de parar até ter condições de enxergar?

É possível desenvolver a habilidade de criar opções, ou “estratégias”, para lidar com sentimentos. E essa habilidade é necessária a todos os seres humanos, sejam eles crianças que adentram o ambiente escolar e sofrem com a diversidade que encontram no seu grupo de convívio diário, sejam eles adolescentes, numa fase particularmente difícil da vida em que estão definindo sua identidade, sejam adultos enfrentando problemas e crises, sejam idosos buscando se encaixar num novo papel na sociedade.

Sentimentos desagradáveis nos acometem constantemente. Não é privilégio de ninguém em nenhuma idade. E aliviá-los é também uma necessidade de todos. Viver em sofrimento emocional é como andar carregando uma mochila pesada; não reduzir essa carga é como deixar que a mochila fique cada vez mais pesada, até que andar pode se tornar impossível.

Desenvolver em crianças pequenas a capacidade de criar estratégias para lidar com seus sentimentos e dificuldades é o objetivo do programa “Amigos do Zippy”. Ampliar essa capacidade é o objetivo do “Amigos do Maçã”. Desenvolver em jovens essa fundamental capacidade é o objetivo do programa “Passaporte: Habilidades para a Vida”.

Cada um deles tem sua dinâmica específica, sua linguagem própria, mas todos foram criados para promover saúde mental, aumentando fatores de proteção, como o aleitamento materno fortalece os bebês promovendo saúde física. Seus efeitos são de amplo espectro – crianças e jovens aprendem a construir muitas estratégias para enfrentar a vida, em contraponto ao doloroso processo de contar as razões para desistir dela.

(*) Tania Paris fundou a Associação pela Saúde Emocional de Crianças; “Amigos do Zippy” é um programa internacional de Educação Emocional, representado exclusivamente pela ASEC no Brasil

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