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Neonazismo no Brasil: vigiemos!

Por Fábio Trad (*) | 07/05/2014 10:24

A horripilante frequência de notícias sobre ataques de grupelhos neonazistas brasileiros contra minorias claramente estigmatizadas pela intolerância mais repulsiva está a exigir bem mais do que indignação ocasional e solidariedade às vítimas do ódio racial e do moralismo conservador degenerado em barbarismo.

Na Europa, o ressurgimento do nazifascismo preocupa não só estados nacionais surgidos com o fim do “império” soviético, como a Ucrânia, mas também democracias consolidadas, como Espanha, Grécia e a própria Alemanha.

Porém, estamos falando aqui da insidiosa proliferação de grupos neonazistas no Brasil.

Protegidos, de certa forma, pelo discurso pueril que dá ao Brasil a enganosa designação de “democracia racial” ou de “pátria da miscigenação”, esses grupos fascistas robustecem sua morbidez ideológica, sua fúria racista e seu ódio às minorias sexuais, no terreno fértil da tolerância excessiva, quase benevolente.

Na Europa, a preocupante escalada dos extremos, à direita e à esquerda, encontra explicação sociológica na crescente descrença da sociedade na classe política.

Ninguém tem dúvida de que no Brasil esse panorama de desencanto se reproduz, nuançado por uma sucessão aparentemente interminável de escândalos que desmoralizam a chamada “classe política”, expressão genérica que nivela por baixo todos os políticos e, em última instância, põe em questão as próprias virtudes da democracia.

Não somos analistas sociais, mas agentes públicos sobre cujos ombros recai, com o mandato popular, a responsabilidade de buscar, com a sociedade e nos limites democráticos, antídotos eficazes que combatam essa perversão social.

No Brasil, o neonazismo é uma escabrosa realidade, notadamente em São Paulo e na região Sul, onde diferentes bandos, estruturados em rígidas hierarquias, espancam e matam porque não toleram as diferenças nem suportam os diferentes.

No Rio Grande do Sul, as autoridades têm dado respostas concretas à ação de neonazistas. Uma breve cronologia das agressões desses grupos naquele Estado, todas com pronta atuação da polícia, dá a dimensão alarmante dessa perversão ideológica e social:

Em julho de 2003, um estudante punk foi atacado em Porto Alegre por um bando de neonazistas armados com bastões.

Também na Capital, em 2005, estudantes judeus foram agredidos a socos e facadas por membros de facções de inspiração nazista. Nesse caso, 14 pessoas são denunciadas à Justiça pelo crime e aguardam julgamento.

Em Caxias do Sul, ainda em 2005, neonazistas foram apontados como suspeitos pelo assassinato de um homossexual em um parque, e por agressões contra um jovem punk.

Em 2010, a polícia gaúcha apreendeu livros, CDs, facas, soqueira e um vídeo onde o grupo neonazista fazia ameaças ao senador Paulo Paim, do PT, que é negro.

Em 2011, duas pessoas foram feridas à faca quando um grupo que se autodefine como "anarcopunk" (punks e anarquistas) e outro como skinheads se enfrentaram na Capital.

Em março de 2013, um negro foi esfaqueado ao sair de uma festa, e polícia suspeita de neonazistas.

O trabalho exemplar da polícia gaúcha já fichou 500 integrantes desses grupos paramilitares e, em 2009, conseguiu frustrar um ataque com bombas de alto poder destrutivo contra uma sinagoga em Porto Alegre.

Porém, o neonazismo não é um trágico “privilégio” do Rio Grande do Sul, mas dissemina-se pelo país, especialmente pelo aliciamento doutrinário através da internet.

E a única forma eficaz de combater essa patologia social está no fortalecimento das instituições democráticas, na redução das desigualdades sociais e, especialmente, no resgate ético e moral da política como instrumento de construção de uma sociedade mais justa e solidária.

Por fim, é oportuno lembrar que o germe do extremismo de qualquer matiz se nutre e prolifera no tecido degradado de instituições flácidas e desacreditadas.

(*) Fábio Trad é advogado e deputado federal pelo PMDB-MS.

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