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No amor, se me busco demais no outro, corro o risco de perdê-lo

Por Tiago Ravanello* | 05/05/2019 09:16
No amor, se me busco demais no outro, corro o risco de perdê-lo

Para além de seus encantos estéticos, sempre reinvocados nas diversas formas de arte e no imaginário romântico, convém lembrar que a experiência amorosa traz consigo um paradoxo incontornável: o princípio do amor segue determinados princípios. O primeiro deles pode nos causar certa estranheza, mas o princípio da experiência amorosa é quando nos apaixonamos pelo amor.

A ânsia de amar nos acompanha desde muito cedo e pode ser reconhecida nos apelos feitos pelas crianças aos olhares de seus pais e cuidadores, nos laços afetivos que demandamos de amigos e familiares, no carinho que requisitamos a nossos animais de estimação e objetos de predileção. Mas antes do amor, há uma urgência, uma demanda, um desejo.

Há algo nas experiências amorosas mais primordiais que desejamos repetir à exaustão nos encontros e desencontros do cotidiano. Que alguém reconheça em outra pessoa as suas mais belas ilusões é, sem dúvidas, um dos acidentes mais admiráveis que a vida pode nos proporcionar, e como são viciantes nossas paixões, mesmo quando não se realizam.

Porém, o seu segundo princípio deve ser lido da seguinte forma: nada disso é amor se acontecer em completude, já que amar tem uma relação direta com uma política de cuidado com a nossa própria falta. Fazer com que alguém floresça em nosso vazio é uma arte sublime, mas que requer muita dedicação, uma espécie de devoção ao amor em si mesmo (e não somente à pessoa amada).

Por fim, mas não menos importante, o amor possui uma matemática extremamente fugidia. Se me busco demais no outro, corro o risco de perdê-lo; se o encontro demais em mim, corro o risco de perder a mim mesmo.

Mais do que bens ou objetos de consumo, porque eles perecem e se perdem ao longo das nossas trajetórias, o que os amantes negociam desde suas primeiras juras é um sentimento de falta a ser compartilhado.

Perder o chão, perder quem se era, perder o sentido do que se tinha: o princípio do amor nos fragiliza justamente por (re) ensinar a maravilhosa arte de viver nosso desamparo mais radical. Motivo pelo qual todo amor é amor à primeira vista, mesmo que se leve muito tempo para ver algo para além de nossa cegueira habitual.

*Tiago Ravanello é psicólogo graduado pela Universidade Federal de Santa Maria (2004), com mestrado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005) e doutorado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2009).

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