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O fracasso da Reforma Agrária é anterior a Cristo

Por Gregorio Vivanco Lopes (*) | 20/07/2014 09:00

O leitor terá notado que os agitadores que promoviam invasões de terras agrícolas foram em grande parte deslocados para as cidades, onde estão servindo de massa de manobra para as invasões de terrenos e casas.

Isso não foi obra do acaso. De fato, a principal finalidade das invasões de terra – obviamente não confessada – jamais consistiu em dar terra a quem quer nela trabalhar, mas angariar adeptos para uma revolução socialista. Acontece que o homem do campo brasileiro, seja o autêntico agricultor, seja o oportunista, é muito intuitivo, e ao perceber para onde estava sendo levado, não aderiu.

Mesmo quando se apossa indevidamente de uma terra, ele não quer saber de socialismo, nem de comunismo ou ideologias desse gênero. Por isso, a agitação agrária foi em boa medida transferida para as cidades, a fim de reforçar os chamados sem-teto.

Essa transferência da agitação do campo para a cidade já havia sido anunciada pelo líder máximo do MST, o marxista João Pedro Stédile, pouco depois de sua volta de Roma, onde fora participar de um simpósio promovido por um órgão do Vaticano.

Na ocasião, em entrevista ao Portal IG (17-2-14), ele afirmou: “Só ocupar terras não muda mais a correlação de forças. O MST precisa das alianças com a cidade”. E admitiu “que a reforma agrária clássica, baseada em invasões, acampamentos e distribuição de terras, pela qual o movimento lutou por três décadas, está ultrapassada e perdeu a oportunidade histórica”.

Segundo Stédile, a “urbanização” do MST vem sendo construída com um projeto de alianças, que inclui os movimentos sociais que lutam por moradia nas grandes cidades e as centrais sindicais.

Diante desse quadro, não é fora de propósito lembrar que o modelo socialista de Reforma Agrária vem da Antiguidade pagã, tendo fracassado também lá, por falta de adesão dos camponeses.

Os dados históricos falam muito e a analogia com situação brasileira é marcante. Vamos a eles.

Estamos no ano 130 antes de Cristo, em pleno Império Romano.

O povo da Roma antiga não se deixa levar pelos demagogos agrários, que querem jogar a população contra os proprietários de terras.

Os dois irmãos Gracchus, tribunos e oradores — espécie de deputados esquerdistas da época — resolvem propor leis agrárias contrárias à aristocracia romana, grande proprietária de terras (hoje se diria, latifundiários).

Roma conhece pela primeira vez a tentativa de lançar os pobres contra os ricos. Com que resultados? Vejamos o que nos diz a respeito Fustel de Coulanges, o mais respeitado autor da história greco-romana:

"A luta entre ricos e pobres não começou em Roma senão no tempo dos Gracchus. Mas esta luta nunca teve em Roma caráter violento, como em outras partes. O povinho romano não invejava muito a riqueza; ele ajudou molemente os Gracchus; recusou-se a crer que os reformadores trabalhassem por ele, e os abandonou no momento decisivo.

"As leis agrárias, tão frequentemente apresentadas aos ricos como uma ameaça, sempre deixaram o povo muito indiferente, e não o agitaram a não ser na superfície.

"Via-se claramente que o povinho não desejava muito vivamente possuir terras; de outro lado, ao lhe oferecerem a divisão das terras públicas, isto é, do domínio do Estado, ele não tinha desejo de despojar os ricos de suas propriedades.

"Em parte por um respeito enraizado, em parte pelo hábito de nada fazer, o povinho preferia viver ao lado dos ricos, e como que à sombra deles".

(Fustel de Coulanges, La Cité Antique, livre V, cap. II, Hachette, Paris, 1917, 24ª edição)

(*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM

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