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O homem e o poder

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 11/09/2019 06:54

Há um ditado que diz que nada melhor do que dar poder a um homem para conhecer o seu real caráter. Por milênios a humanidade vem travando a voz do espírito seguindo apenas o raciocínio gerado no cérebro frontal envolvido no materialismo que provocou o crescimento da cobiça por poder e riqueza. Por muitos séculos depois de Cristo (dC), os representantes da Igreja exerceram forte influência pelo mundo, enquanto mais e mais o espírito ia sendo posto de lado, caindo em profunda sonolência e, figuradamente, o coração nada mais conseguia dizer.

Apoiado em alguns conceitos naturais, veio o liberalismo, enaltecendo as qualidades individuais do ser humano, o direito à propriedade e a conquista da riqueza como prioridade. Vieram logo a seguir as ideias socialistas enaltecendo as qualidades do Estado e seus representantes, como detentores das riquezas para conduzir a vida dos seres humanos a uma condição de bem-estar social nivelando-os para uma existência voltada para o materialismo. O ser humano nasceu livre, as imposições do Estado forte manietam o seu caráter e seus anseios inibindo a essência.

Embora em polos opostos, nos dois sistemas prevalecia a cobiça dos dirigentes pelo poder, empregando a comunicação de massa para o nivelamento dos seres humanos por baixo, levando-os cada vez mais para uma existência puramente material. As sinapses, conexões de neurônios, vão se formando a partir da primeira infância e se desenvolvem continuamente, mas as básicas adquirem força nas vivências da fase inicial do aprendizado imitativo e cognitivo. O declínio geral está ligado à falta de preparo das novas gerações, pois já na primeira infância os cérebros das crianças vão sendo alimentados por imagens negativas de mentira, sexualidade exacerbada, insatisfação, medo, ódio, violência.

A ciência do cérebro deveria estar conectada com a percepção do eu interior, a alma. Apesar dos avanços nas pesquisas, a caixa craniana ainda é uma caixa de enigmas. Falta o reconhecimento do significado da vida; faltam alvos enobrecedores que estabeleçam como prioridade a meta do progresso real da humanidade, espiritual e material, para o benefício de todos, para que os indivíduos alcancem evolução real e sejam felizes. Sem o envolvimento das novas gerações nesse alvo, o futuro se torna incerto e ameaçador. No século 21, mais do que nunca se evidenciam as obras do raciocínio desconectado das leis espirituais da Criação. Visivelmente o corpo do planeta Terra apresenta os sintomas de terrível doença que agora se manifesta em agitada convulsão.

O dinheiro foi uma grande invenção, mas se mal administrado gera perdição. Os feiticeiros do dinheiro e os maus governantes possibilitaram e eclosão do drama do inaudito crescimento da miséria que se alastra pelo planeta. No mundo econômico, a importante variável câmbio exerce poderosa influência nas relações de comércio de importação e exportação entre os povos como também possibilita manobras escusas para ganhos especulativos.

A guerra comercial se reveste de acirrada batalha econômica pelo poder. A crise se alastra. A Argentina abriu o bico demonstrando sua incapacidade de saldar os compromissos financeiros assumidos. Na Venezuela, rica em petróleo, falta tudo e sua população foge apavorada. O cenário econômico mundial tende para o salve-se quem puder.

No Brasil, impera a discórdia, a luta daqueles que tendo colhido muitos benefícios querem manter seus privilégios. As reformas são necessárias. A política de juros elevados e a displicência fiscal criaram esse monstro da dívida que exige mais e mais impostos complicados de administrar. Mas têm de ser examinadas todas as causas que levaram à estagnação da produção industrial, dos empregos e da renda.

O endividamento público atravessa descomunal crescimento, a falta de pagamento já é ameaça; se os juros não baixarem, a bola de neve vai rolar. Os detentores de reservas financeiras não terão mais o acréscimo de juros cujo peso os governos transferem para toda a população. Há muito dinheiro encalhado, mas falta trabalho. É preciso encontrar a forma de distribuição que não seja as aviltantes bolsas para desempregados. O ser humano requer trabalho para se sentir útil à sociedade. É como no canto de Gonzaguinha: “Seu sonho é sua vida e vida é trabalho. E sem o seu trabalho, o homem não tem honra”.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini, é articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida.

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