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Sustentabilidade: Não acontece porque não sabemos o que é!

Por Beatriz Domeniconi (*) | 30/07/2018 12:41

É difícil colocar em prática algo que não conhecemos bem, não é? Não sabemos por onde começar, não temos certeza de quanto vai custar, ou se vai mesmo valer a pena o esforço. É exatamente isso que tem acontecido com “a tal” produção sustentável. Apesar de ser uma palavra repetida tantas vezes em nosso dia a dia, você saberia dizer exatamente o que significa sustentabilidade? Conseguiria descrever um sistema de produção sustentável? E pecuária sustentável, o que é?

Na maioria das vezes, o tema sustentabilidade é associado às questões ambientais. Pessoas que já ouviram ou leram a respeito, o definem mencionando "o tripé" - social, ambiental e econômico. Mas 'na prática', do que se trata?

Para a pecuária, esse tema foi apresentado, a princípio, associado a grandes preocupações com o meio ambiente, especialmente desmatamento em florestas e mudanças climáticas. Para os consumidores de carne, couro, leite, uma preocupação com o impacto que eles estariam causando no planeta; para as indústrias e supermercados, a preocupação em garantir a origem dos produtos ofertados; para os bancos, o risco reputacional de financiarem atividades danosas ao meio ambiente; e para grande parte dos produtores, o risco de exclusão do processo de comercialização, muitas vezes sem ter clareza dos critérios considerados.

Podemos pensar que sustentabilidade é a ‘habilidade de sustentar’ - garantir que uma determinada atividade seja perene, que seja possível realizá-la ao longo do tempo em qualidade igual ou superior a que se tem no momento. Para isso, deve-se conhecer e gerir bem todos os recursos (dinheiro, pessoas, solo, água...) necessários à atividade para que eles não se esgotem ou percam qualidade com o passar do tempo.

Para ter certeza de que será possível continuar produzindo ao longo do tempo, é preciso ter garantias, como documentação da terra, atendimento às leis trabalhistas e ambientais e registros que garantem a origem e o destino responsável dos produtos, como notas fiscais e Guias de Trânsito Animal. É preciso garantir a segurança e a qualidade de vida dos funcionários, além de capacitá-los para as funções que desempenham. É preciso manter a qualidade dos solos, garantindo boa infiltração da água e desenvolvimento das pastagens. Proteger as fontes de água e manter a sua qualidade. Garantir a saúde e o bem-estar dos animais. Mas como fazer tudo isso e ainda ganhar dinheiro com a atividade?

Acima de tudo, é imprescindível que o produtor conheça seus custos de produção e garanta a viabilidade econômica da sua atividade. Todas as atividades devem ser planejadas e adequadas às condições do ambiente e a capacidade de investimento. Sustentabilidade está muito mais associada à adaptação da atividade às condições disponíveis e à evolução contínua, do que a um objetivo específico. “Dar o passo do tamanho da perna” e seguir melhorando sempre. Grande parte dos produtores já praticam sustentabilidade, mas não sabem.

Um produto não é sustentável por atender a critérios específicos, por exemplo, por ser orgânico, por não ser transgênico ou por não estar relacionado ao desmatamento! Um produto é sustentável quando os seus sistemas de produção, processamento e comercialização levaram em consideração todos os aspectos ambientais, sociais e econômicos para serem definidos. Nenhum critério, isoladamente, define o que é produção sustentável e tentar priorizar um deles com o intuito de agilizar o processo de desenvolvimento sustentável, gera confusões, preconceitos e dificulta ainda mais a compreensão de quais práticas devem ser implementadas de fato.

(*) Beatriz Domeniconi é diretora executiva do GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável). 

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