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Turismo, sustentabilidade e covid-19 – entre incertezas e esperanças

Iara Brasileiro, David Bouças, Helena Costa e Daniela Alvares (*) | 08/08/2022 13:00

Quando o “mundo parou” em razão da onda avassaladora da covid-19, principalmente nos anos 2020 e 2021, a vida, como ela era, alterou-se completamente. Na tentativa de minimizar a contaminação, o distanciamento social foi uma medida que nos desafiou imensamente.  E quando o mundo parou, o turismo também parou.  Adiamos sonhos, encontros e novas experiências.

O setor turístico é um sistema socioeconômico, fortemente dependente de fatores externos. Assim, como resultado da pandemia, negócios foram fechados e perdidos milhões de empregos, causando incontáveis prejuízos, e em particular, a mais triste de todas, inúmeras vidas foram perdidas.

A redução ou interrupção das viagens causou prejuízos na ordem de US$ 4 trilhões no mundo, conforme demonstram dados de 2020. O Ministério do Turismo estimou que nesse ano, as receitas do segmento tiveram redução de 36,6% em comparação com 2019 e mais de 35 mil empreendimentos do setor fecharam. Perdas irreparáveis.

Por outro lado, nos abalamos com as imagens de destinos turísticos globais, como Veneza e Barcelona, que puderam se recompor. Isso nos fez pensar no turismo que afeta excessivamente a natureza e as populações. Vimos também, pela primeira vez, comunidades “fecharem” suas cidades para que não houvesse circulação de turistas e, com isso, fossem reduzidas as chances de contaminação.

Diante desse quadro crítico e tenso, os pesquisadores do Laboratório de Estudos de Turismo e Sustentabilidade (Lets) do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília dedicaram-se a discussões que pudessem contribuir para o entendimento da crise e da esperada recuperação do setor, sempre sob o olhar da sustentabilidade. Entendemos, no Lets, que o desenvolvimento turístico, tal como tem sido traçado e praticado, fere, em muitos pontos, os objetivos que devem pautar as ações que se queiram sustentáveis, éticas e solidárias. A pausa forçada pela covid-19 nos fez mergulhar ainda mais nas discussões voltadas para os temas do decrescimento, mudanças climáticas, uso de plásticos e de práticas pouco ou nada sustentáveis, assim como de modos de vida e impactos que temos causado ao planeta. A Terra vem sentindo dramaticamente os resultados dos desequilíbrios que causamos à natureza, esquecendo-nos de que somos, também, animais que a habitam.

Com essas preocupações em mente, abrimos discussões sobre o presente e o futuro do turismo. Em algum momento, sabíamos que as viagens seriam retomadas, as pessoas iriam voltar a movimentar-se pela superfície, pelos mares ou pelo ar do planeta. Dessas discussões germinou o livro: Turismo, sustentabilidade e covid-19 – entre incertezas e esperanças.

Não pretendemos ter respostas para todas as questões. Contudo, estamos certos de que novas tecnologias estarão cada vez mais presentes nas viagens; que o turista mudou e continuará mudando; que as desigualdades devem ser enfrentadas por políticas públicas voltadas para o bem comum; que a sociobiodiversidade deve ser imperiosamente considerada; e que os impactos ambientais das atividades humanas devem ser urgentemente mensurados e mitigados.

A covid-19 nos desassossegou e abalou irreversivelmente, mas, também, nos proporcionou oportunidades para analisar nossa trajetória no setor do turismo e nos inspirar a mudar nossa forma de ver a vida que, esperamos, seja mais ética, mais consciente, mais verdadeiramente humana!

(*) Iara Brasileiro é professora da Universidade de Brasília. Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade (Lets/UnB).

(*)David Bouças é professor da UFMA. Doutor em Administração (PPGA/UnB). Pesquisador do Lets/UnB.

(*)Helena Costa é professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília. Doutora em Desenvolvimento Sustentável. Cofundadora e líder do Lets/UnB.

(*)Daniela Alvares é professora da Faculdade de Economia e Gestão (FEG) da Universidade dos Açores (UAc) – Portugal. Doutora em Planejamento pela Universidade do Minho. Pesquisadora do Lets/UnB.

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