Pessoas negras têm 40% mais chances de serem assassinadas em MS
Em 2023, taxa de homicídios foi de 23,4 para negros e 16,7 para não negros por 100 mil em MS
Apesar de uma aparente estabilidade, Mato Grosso do Sul continua enfrentando um cenário de violência letal fortemente marcado pela desigualdade racial. É o que revela o Atlas da Violência 2025, publicado nesta segunda-feira (12) pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). O relatório mostra que, embora haja uma tendência nacional de queda nos homicídios, essa redução não ocorre de maneira equitativa entre negros e não negros.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O Atlas da Violência 2025, divulgado pelo IPEA e FBSP, revela que Mato Grosso do Sul apresenta um aumento de 9,3% nos homicídios de pessoas negras em 2023, totalizando 375 assassinatos. Em contraste, a taxa de homicídios entre não negros caiu 0,5%. A desigualdade racial se evidencia, com negros tendo 40% mais chances de serem assassinados. O relatório destaca que, enquanto a redução de homicídios no Brasil é significativa, a população negra continua sendo a mais afetada. O risco relativo de homicídio para negros em Mato Grosso do Sul é de 1,4, indicando que a letalidade racial persiste. O Atlas critica a estrutura estatal que perpetua essa violência, ressaltando a necessidade de responsabilidade na proteção da população negra.
Os dados indicam que, em 2023, 375 pessoas negras foram assassinadas em Mato Grosso do Sul, um aumento de 9,3% em relação a 2022, quando o número foi de 343. Uma elevação que destoa da tendência nacional, onde os homicídios de negros caíram 0,9% no mesmo período.
Ao se analisar os últimos cinco anos, de 2018 a 2023, o número de homicídios de pessoas negras no estado subiu 4,7%, passando de 358 para 375. Nacionalmente, a queda foi expressiva: -19,8%. Ou seja, enquanto o Brasil caminha para uma redução da letalidade contra negros, Mato Grosso do Sul apresenta uma trajetória inversa e preocupante.
Já entre pessoas não negras, o número de homicídios caiu 0,5% em Mato Grosso do Sul de 2022 para 2023 (de 205 para 204), mantendo uma trajetória de queda lenta mas constante nos últimos anos. Desde 2013, houve uma redução de 9,7% nesse grupo, o que reforça o contraste racial.
Além dos números absolutos, as taxas de homicídios por 100 mil habitantes mostram de forma mais clara a desigualdade racial. Em 2023, a taxa de homicídios de pessoas negras em Mato Grosso do Sul foi de 23,4 por 100 mil habitantes. Para pessoas não negras, a taxa foi de 16,7, representando uma diferença de 40% a mais entre negros.
Apesar de essa taxa ter caído 20,1% em dez anos (era 29,3 em 2013), a redução entre não negros também foi significativa: -14,4%, indicando que a disparidade persiste.
O dado mais emblemático dessa desigualdade está no risco relativo de homicídio, indicador que compara a chance de uma pessoa negra ser assassinada em relação a uma não negra. Em Mato Grosso do Sul, esse risco foi de 1,4 em 2023. Isso significa que se a taxa de homicídios entre pessoas não negras fosse de 10 para cada 100 mil habitantes, a taxa entre negras seria de 14 para cada 100 mil.
Esse número permaneceu estável nos últimos dois anos (1,4 em 2022 e 2023), mas está apenas levemente abaixo do valor registrado em 2013 (1,5), o que mostra que pouco mudou em uma década no que diz respeito à equidade racial na letalidade.
Nacionalmente, o risco relativo é ainda mais alto: 2,7 em 2023, o que significa que, no Brasil, pessoas negras têm quase três vezes mais chances de serem assassinadas do que pessoas não negras.
Embora o número de homicídios no Brasil tenha diminuído nos últimos anos, a distribuição dessa redução mostra claramente que a população negra continua sendo a mais atingida pela violência letal. Segundo o Atlas, a diferença na redução das taxas entre negros e não negros revela a persistência de um padrão seletivo de vitimização.
Enquanto os homicídios de pessoas não negras caíram 31,8% no Brasil entre 2013 e 2023, entre os negros a queda foi de apenas 10,1%. E esse padrão se repete em Mato Grosso do Sul, onde, nos últimos cinco anos, o número de homicídios de negros aumentou (+4,7%), enquanto o de não negros caiu (-2,9%).
O Atlas chama a atenção para a “arquitetura estatal” que sustenta esse modelo de violência, afirmando que a naturalização da letalidade entre a população negra equivale a ignorar a responsabilidade do Estado na manutenção dessa dinâmica. Em outras palavras, a violência contra a população negra não é apenas um reflexo de desigualdade social, mas resultado de uma estrutura institucional que, sistematicamente, falha em garantir a segurança e a dignidade desse grupo.