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Cidades

População comprou 515% mais vermífugo em ano de pandemia

Vendas de ivermectina, hidroxicloroquina e nitazoxanida aumentaram diante de indicações feitas sem comprovação científica

Tainá Jara | 05/02/2021 15:26
Vermífugo foi vendido como "milagre" na prevenção da covid-19 (Foto:SECOM Itajaí/Divulgação)
Vermífugo foi vendido como "milagre" na prevenção da covid-19 (Foto:SECOM Itajaí/Divulgação)

Vendido como um dos “milagres” no tratamento da covid-19, a ivermectina teve aumento de 515% das vendas em Mato Grosso do Sul. Além do vermífugo, a hidroxicloroquina (antimalárico) e a nitazoxanida (antiparasitário) também estão entre os que baterem recorde de compras. A eficácia destes medicamentos no tratamento contra a doença causada pelo coronavírus, no entanto, não tem comprovação científica.

De acordo com o levantamento do CPF (Conselho Federal de Farmácia), em 2019 foram vendidas 133.064 unidades contra 818.517 no ano passado, quando teve início da pandemia do novo coronavírus.

Em comunicado, divulgado nesta quinta-feira, a farmacêutica Merck, responsável pela fabricação da ivermectina, afirmou que não existem evidências sobre a eficácia do medicamento contra a covid-19.

Unidades da cloroquina saíram 211% mais das farmácias, saltando de 14.843 em 2019 para 46.126 no ano passado. A nitazoxanida teve aumento de 7%, saltando de 147.605 para 157.841.

Também aumentou significativamente a venda de colecalciferol, a vitamina D.  A medicação foi 118% mais vendida do que em 2019, saltando de 89.063 e 412.894. Os medicamentos também foram utilizados no chamado “kit covid”.

No Estado, foram confirmados mais de 164,3 mil casos de contaminação pelo coronavírus, sendo que 2,9 mil pessoas morreram, até esta sexta-feira.

(Arte: Thiago Mendes)
(Arte: Thiago Mendes)

 Conforme o Conselho, o motivo do aumento nas vendas é a crença de que estes medicamentos sejam fórmulas milagrosas que previnam ou curem a doença que praticamente parou o planeta.

No Brasil, as vendas da hidroxicloroquina, por exemplo, mais que dobraram, passando de 963 mil em 2019 para 2 milhões de unidades em 2020. O aumento foi ainda maior no caso da Ivermectina, atingindo 557,26%.

É possível observar, por meio do levantamento, que há uma variação para maior nas vendas dos medicamentos claramente vinculada à pandemia. Também é possível notar que essa variação foi influenciada pela rigidez ou afrouxamento das normas sanitárias que disciplinam a prescrição e a dispensação durante o ano de 2020. As vendas tiveram aumento significativo em maio.

Houve época em que a nitazoxanida e a ivermectina permaneceram sob controle especial, por exemplo.

“Tratamento precoce” - O quadro preocupa o CFF, que aprovou documento em que se manifesta sobre o chamado “tratamento precoce” da covid-19. Na nota, a entidade reafirma seu apoio à assistência à saúde baseada em evidências científicas e à vacinação; lembra que farmacêuticos têm obrigação ética e legal de promover o uso racional de medicamentos, e que a responsabilidade legal é compartilhada com proprietários de farmácias; reconhece a autonomia dos médicos na prescrição sem finalidade adequada, mas reitera a responsabilidade técnica dos farmacêuticos na dispensação; e informa que infrações éticas, legais ou às normas sanitárias devem ser denunciadas aos conselhos regionais de Farmácia e aos órgãos de vigilância sanitária locais.

Um dos cuidados recomendados é verificar se houve a assinatura do termo de ciência e consentimento entre o médico e o paciente. O farmacêutico também deve utilizar a sua competência técnica para avaliar e atender às necessidades do paciente e decidir cada situação, caso a caso, de modo a não permitir, de forma consciente, o dano evitável, bem como garantir que os benefícios de tratamentos sejam sempre superiores aos riscos que representam.

Outras providências são o contato com o prescritor para esclarecer dúvidas, a aplicação de “Termo de Ciência e Responsabilidade”, caso o paciente opte por utilizar o medicamento mesmo tendo sido esclarecido sobre os potenciais riscos, e o preenchimento da “Declaração do Farmacêutico Responsável”.

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