População comprou 515% mais vermífugo em ano de pandemia
Vendas de ivermectina, hidroxicloroquina e nitazoxanida aumentaram diante de indicações feitas sem comprovação científica
Vendido como um dos “milagres” no tratamento da covid-19, a ivermectina teve aumento de 515% das vendas em Mato Grosso do Sul. Além do vermífugo, a hidroxicloroquina (antimalárico) e a nitazoxanida (antiparasitário) também estão entre os que baterem recorde de compras. A eficácia destes medicamentos no tratamento contra a doença causada pelo coronavírus, no entanto, não tem comprovação científica.
De acordo com o levantamento do CPF (Conselho Federal de Farmácia), em 2019 foram vendidas 133.064 unidades contra 818.517 no ano passado, quando teve início da pandemia do novo coronavírus.
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Em comunicado, divulgado nesta quinta-feira, a farmacêutica Merck, responsável pela fabricação da ivermectina, afirmou que não existem evidências sobre a eficácia do medicamento contra a covid-19.
Unidades da cloroquina saíram 211% mais das farmácias, saltando de 14.843 em 2019 para 46.126 no ano passado. A nitazoxanida teve aumento de 7%, saltando de 147.605 para 157.841.
Também aumentou significativamente a venda de colecalciferol, a vitamina D. A medicação foi 118% mais vendida do que em 2019, saltando de 89.063 e 412.894. Os medicamentos também foram utilizados no chamado “kit covid”.
No Estado, foram confirmados mais de 164,3 mil casos de contaminação pelo coronavírus, sendo que 2,9 mil pessoas morreram, até esta sexta-feira.
Conforme o Conselho, o motivo do aumento nas vendas é a crença de que estes medicamentos sejam fórmulas milagrosas que previnam ou curem a doença que praticamente parou o planeta.
No Brasil, as vendas da hidroxicloroquina, por exemplo, mais que dobraram, passando de 963 mil em 2019 para 2 milhões de unidades em 2020. O aumento foi ainda maior no caso da Ivermectina, atingindo 557,26%.
É possível observar, por meio do levantamento, que há uma variação para maior nas vendas dos medicamentos claramente vinculada à pandemia. Também é possível notar que essa variação foi influenciada pela rigidez ou afrouxamento das normas sanitárias que disciplinam a prescrição e a dispensação durante o ano de 2020. As vendas tiveram aumento significativo em maio.
Houve época em que a nitazoxanida e a ivermectina permaneceram sob controle especial, por exemplo.
“Tratamento precoce” - O quadro preocupa o CFF, que aprovou documento em que se manifesta sobre o chamado “tratamento precoce” da covid-19. Na nota, a entidade reafirma seu apoio à assistência à saúde baseada em evidências científicas e à vacinação; lembra que farmacêuticos têm obrigação ética e legal de promover o uso racional de medicamentos, e que a responsabilidade legal é compartilhada com proprietários de farmácias; reconhece a autonomia dos médicos na prescrição sem finalidade adequada, mas reitera a responsabilidade técnica dos farmacêuticos na dispensação; e informa que infrações éticas, legais ou às normas sanitárias devem ser denunciadas aos conselhos regionais de Farmácia e aos órgãos de vigilância sanitária locais.
Um dos cuidados recomendados é verificar se houve a assinatura do termo de ciência e consentimento entre o médico e o paciente. O farmacêutico também deve utilizar a sua competência técnica para avaliar e atender às necessidades do paciente e decidir cada situação, caso a caso, de modo a não permitir, de forma consciente, o dano evitável, bem como garantir que os benefícios de tratamentos sejam sempre superiores aos riscos que representam.
Outras providências são o contato com o prescritor para esclarecer dúvidas, a aplicação de “Termo de Ciência e Responsabilidade”, caso o paciente opte por utilizar o medicamento mesmo tendo sido esclarecido sobre os potenciais riscos, e o preenchimento da “Declaração do Farmacêutico Responsável”.